sábado, 26 de janeiro de 2013

«Markéta Lazarová», de Vladislav Vančura

Editora: Quidnovi
Ano de Publicação: 2012
Nº de Páginas: 152
A citação do narrador de Markéta Lazarová «Muitas coisas transcendem o entendimento humano.» é um excelente preâmbulo para compreender a história decorrida na época medievalista.
A protagonista da trama é Markéta Lazarová, uma jovem educada desde à nascença para seguir a sua religião e vida num convento. Markéta é a filha primogénita de Lazar, um homem dado à desordem e ao bandidismo.
Quando a jovem é raptada pelo descendente do principal inimigo de Lazar, é iniciada a disputa feroz entre os clãs, não havendo meios-termos para atingir os fins – a morte do opositor.
Nunca ensinada sobre as leis do amor, ou nem mesmo da sanguinidade, Markéta começa a nutrir sentimentos afectuosos por Mikolas Kozlic, o seu sequestrador. Mesmo que esse afecto tenha sido fruto de uma agressão física e psicológica.
A relação dos dois é levada adiante, mas eles sabem que os pais nunca poderão vê-los juntos. Kozlík e Lazar, são dois indivíduos violentos, possuídos pela raiva, rivalidade, poder e cólera, além de pertencerem a facções religiosas diferentes: cristianismo e paganismo.
Será neste clima de opressão e chantagem, alimentado pelas lendas e mitos, que homens e mulheres combaterão pela sobrevivência, enquanto no limbo da «guerra» entre famílias, o amor se vai «consumindo».
Mais do que uma relação improvável em tempos de turbulência política e religiosa, a história é tecida de forma a que o leitor capte uma época onde o papel da mulher era inexistente, em que homens eram educados/«treinados» para derrubarem obstáculos, não os da vida – os adversos – mas os físicos, os que obstruíssem o caminho.
Neste livro do escritor checo, o amor e a morte são as duas caras de uma moeda. As moedas são lançadas á sorte. A sorte é falível. Sai sempre cara ou coroa.
Vladislav Vančura é uma figura omnipresente em toda a narração. Começa pela veste principal dos personagens - a sua psique -, e apresenta-nos. Pára a trama inúmeras vezes para perguntar ao leitor se este acha por bem o caminho que ele traçou para a história; conta-nos histórias reais passadas com ele, fala dos seus romances anteriores; e neste «companheirismo» autor-leitor faz-nos sentir também um pouco co-autores do romance. Algumas provas: «Mas espreitemos», «Meus caros senhores», «Oiçam a seguir algo sobre…», «vejam», «Acabemos de uma vez por todas…», «Devem acreditar, ilustres senhores, quando digo…», «Pois bem, meus amigos», «Ai que espectáculo mais louco! Temos de pôr um pouco mais de seriedade na nossa narração!», «Não vos comove…?», «Mas sejamos mais tolerantes, atirem fora o livro…».
Um romance composto por vocabulário rico, de difícil compreensão; um pró e um contra que contrabalançam e que são saudáveis para o bom «saborear» de um livro.

2 comentários:

kassie disse...

Fiquei muito curiosa com este livro.
Gosto de conhecer autores novos e ultimamente ando a explorar autores de leste e autores nórdicos.
Não conheço este mas esta opinião suscitou a minha curiosidade. Já está na minha wishlist! :)

macy disse...

Não conheço este autor mas depois desta tua opinião acho que vou ter mesmo de conhecer!!
Teresa Carvalho