quarta-feira, 20 de março de 2013

«O Primeiro Amor é Sempre o Último», de Tahar Ben Jelloun

Editora: Quidnovi
Ano de Publicação: 2012
Nº de Páginas: 168
«Todo o escritor é uma testemunha do seu tempo e da sua sociedade, necessariamente.» Esta afirmação é de Tahar Ben Jelloun, numa entrevista que concedeu ao jornalista Carlos Vaz Marques, em 2005. Quando terminei de ler as vinte e uma curtas novelas que formam O Primeiro Amor é Sempre o Último e de ter pesquisado a sua bi(bli)ografia, foi essa a sensação com que fiquei. Sendo um escritor marroquino de expressão francesa, que vive uma parte do ano em Marrocos e o resto do tempo em França, entre duas culturas antípodas – uma oriental, a outra ocidental –, nas narrativas breves, tanto o autor aborda a realidade marroquina como a francesa, e intercala-as, criando uma manta de histórias e cenários contraditórios. Este livro conta com inúmeras personagens, que falam do seu amor fracassado, da sua solidão não-opcional, da sua sexualidade e recordações recalcadas nas suas memórias, e que corroem o presente, fazendo com que se distanciem da sociedade, quais misantropos. São mulheres e homens manipulados, mulheres e homens manipuladores.
Com um forte sentido metafórico e paradoxal, esta antologia de ficções inclue também as memórias, imagens e cheiros da cidade e gentes de Marrocos, que são evocadas pelo escritor e psicólogo marroquino, autor de O Escrivão Público (Cavalo de Ferro, 2005) e Uma Ofuscante Ausência de Luz (Asa, 2003), O Islão Explicado às Crianças (Livros do Brasil, 2002).
O amor louco é a primeira e a magnum opus desta obra. A história tem como protagonista Sakina, uma jovem cantora árabe, que recusa uma oferta de noivado de um xeique milionário, Fawaz. A jovem não dá ouvidos às palavras sábias da sua mãe, quando esta aconselha-a a desconfiar sempre dos homens, sejam orientais ou ocidentais. Sakina, sem saber, cai numa armadilha.
A víbora azul é a história nº 2 e é absolutamente surpreendente. Brahim é um encantador de serpentes, mas para atrair mais turistas na praça onde trabalha, compra um animal mais «venenoso», uma víbora. A sua ganância provocará uma morte súbita, nos seus sonhos. Na parte II desta história, o autor apresenta-nos um homem mulherengo e a sua mulher, que visita uma vidente. Quando menos se espera, somos apanhados de surpresa com o epílogo desta história empolgante.
Um fait-divers amoroso é a história de Slimane e constitui um paradoxo genial, construído por Tahar Ben Jelloun, e tem apenas quatro páginas. Slimane é um taxista pai de três filhos, estéril – mas ele não o sabe –, bondoso, mas quando dá guarida a uma grávida não imagina os problemas que surgirá na sua pacata vida.
O primeiro amor é sempre o último intitula-se a história em que a prosa, poesia, o lirismo, o misticismo, o erotismo, se misturam. Um exemplo: «A voz que me chega com um riso, um suspiro ou um murmúrio permite-me adivinhar as ancas e os seios. Aprendi a estar atento ao percurso da voz. Foi um cego que me disse um dia tudo o que a voz pode dar como informação. Assim, é através desta voz que toco este corpo ao fechar os olhos, descubro pouco a pouco os momentos e os gestos da sua vida.» (p. 63)
Em suma, em Le premier amour est toujours le dernier (o título original publicado em 1995) perfazem histórias escritas com simplicidade e subtileza, plenas de originalidade e um q.b. de malícia e erotismo, que dão o «toque» final.

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