quinta-feira, 4 de abril de 2013

Dia 4 do Festival Literário da Madeira

Às 18h de hoje, quarto dia do FLM, deu-se início à conversa que juntou quatro escritores andarilhos (se bem que todos os autores o são, mas estes, pelo menos, têm em comum o gosto por percorrer continentes, países, cidades), sendo dois deles, Raquel Ochoa e Tiago Salazar, verdadeiros viajantes inveterados. Sob a premissa «roubada» do livro de Mário de Carvalho A Arte de Morrer Longe (Ed. Caminho, 2010), o diálogo a quatro vozes levou, durante quase 90 minutos, os espectadores presentes na sala do Teatro situado na baixa funchalense a portos talvez opostos. Se ler é viajar e se cada leitor quando embarca numa história constrói o seu próprio roteiro, o destino (leia-se o fim de uma obra) mesmo que seja o mesmo, o «alimento» esse nunca o é. Tendo eu como vizinho de cabine [do teatro] Sérgio Godinho, o fim de tarde auspiciava-se prazeroso.
João Tordo foi o primeiro interveniente da sessão. Da lista que trouxe preparada leu o nome de autores que após escreverem a sua magum opus, deram por terminada a sua jornada literária: J. D. Salinger, com À Espera no Centeio, Harper Lee, com Por Favor, Não Matem a Cotovia, Jack Kerouac, com A Estrada.
Tiago Patrício juntou-se à conversa descrevendo as suas últimas jornadas em residências literárias, revelando não ter encontrado entraves linguísticos e de compreensão, quando esteve em residências em países onde não percebia o idioma. Esse desafio é para o escritor de Trás-os-Montes, uma fonte de reflexão e observação – um exemplo de como A palavra não tem de estar mais acentuada que O silêncio, quando este é contemplativo. O escritor posteriormente revelou sentir dois polos que se alternam quando escreve, e mesmo na sua forma de ser, por ter nascido no Funchal e vivido sempre em Trás-os-Montes. Por um lado gosta de ter os pés bem assentes na terra (Terra), por outro, sente necessidade de praticar o nomadismo, e fluir (Mar), ir para longe para se sentir perto.
O apresentador e escritor Tiago Salazar fez-se notar quando afirmou «Tenho um amor inveterado pela literatura», contando como emergiu essa sua paixão precoce pela arte de escrever, que teve início na casa da sua avó materna. Ei de Amar-te Mais, revelou Salazar, ser o título do seu próximo livro que terá pendor íntimo.
A participante que teve a seguir a palavra foi Raquel Ochoa, escritora vencedora do Prémio Literário Agustina Bessa-Luís 2009. Devo dizer que foi uma surpresa observar os pontos de vista que ela tem sobre as suas imensas viagens e sobre o seu percurso. Questionada pela moderadora da conversa, Cláudia Rodrigues, sobre a sua visão dos tempos actuais, Raquel Ochoa afirmou não suportar a ideia de ter de regredir até antes da democracia, da liberdade – e compreendo muito bem a sua «fobia»; para um pássaro não há nada pior do que lhe cortarem as asas.

Amanhã o dia está marcado pela conversa em torno de(a) Poesia, com Maria do Rosário Pedreira, Ana Luísa Amaral, Filipa Leal e Inês Fonseca Santos, às 14h30, na UMa. Às 18h, já no Teatro, os participantes são: Ana Luísa Amaral, Filipa Leal, Inês Fonseca Santos, João Paulo Cotrim e Waldir Araújo, com Moderação de Paula Moura Pinheiro.

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