segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

«O Haiku das Palavras Perdidas», de Andrés Pascual

Editora: Gradiva
Ano de Publicação: 2011
N.º de Páginas: 436

1945. Nagasáqui. Dois jovens adolescentes vivem intensamente a descoberta de uma primeira paixão: Kazuo, um rapaz ocidental adoptado por um casal japonês, e Junko, filha de uma mestre em arte floral iquebana. A jovem é uma leitora apaixonada pela poesia haiku, a forma poética que «num fugaz cintilar nos mostra a essência das coisas.» Para selar a breve paixão que os une, de modo a que esta se estenda para o eterno, Junko propõe ao namorado que durante os quatro dias seguintes, quando se encontrarem na colina da cidade, lerem haikus escritos por vários poetas, um por cada dia. Após o último dia do supersticioso jogo, nada poderá desunir o amor deles, ambos profetizam. O que o jovem desconhece é que o último poema («Gotas de chuva / dissolvidas na terra / abraçamo-nos.») será criado pela sua própria amada e revelará a essência do seu amor. Contudo, pouco antes do quarto encontro, nesse trágico 9 de Agosto, a poucos dias do fim da Segunda Guerra Mundial, a bomba atómica cai sobre Nagasáqui, causando a morte de milhares de pessoas. Kazuo e Junko sobrevivem à tragédia, mas seguem caminhos diferentes.
2011. Tóquio. Emilian é arquitecto e acérrimo defensor da energia nuclear. Mei, é galerista e descendente de uma sobrevivente da bomba de Nagasáqui, os chamados de hibakusha. Mei quer encontrar o grande amor da avó (que está morrendo), e para isso, e contando com o arquitecto, inicia várias investigações para conseguir ver o desejo da sua parente realizado («O pior foi as palavras perdidas, o vazio que ficou», «Não podes imaginar o que é viver tanto tempo com a incerteza de não saber o que se teria passado se não tivesse havido bomba», disse a avó um dia a Mei).
Através duma trama dupla e paralela, que se entrecruza, Andrés Pascual tece uma história sobre o enamoramento, o sofrimento, a perda e a esperança. Estes são alguns dos temas subjacentes em O Haiku das Palavras Perdidas, que o escritor espanhol aborda de forma magistral ao longo das páginas deste seu terceiro romance. Estarão os homens condenados a sofrer na proporção e na quantidade de amor que sentem? Esta é uma das perguntas que em O Haiku das Palavras Perdidas fica povoando a mente do leitor, ao longo do romance. Um livro extraordinariamente bem estruturado; uma história que fica na memória dos leitores pela forma densa, ao mesmo tempo subtil, como a trama é arquitectada. Uma obra que lê-se com esmero e que merece uma pontuação máxima.

Excertos:
«A tragédia da vida não reside na sua brevidade, mas sim no facto de que costumamos desperdiçá-la sem chegar a desfrutar de uma única das maravilhas que nos oferece.» (p. 310)

«Uma palavra não dita tem mais força que mil frases pronunciadas, porque a palavra pensada permanece para sempre, ao contrário das que atravessam a soleira da garganta e acabam por se desvanecer no mesmo ar com que são fabricadas.» (p. 355)

8 comentários:

Leandro Morgado disse...

Como escritor em formação de haikai, este é seguramente um must have.

susanista disse...

Este deixou-me curiosa.

Fátima Martinho disse...

ainda não conheço, mas estou curiosa

Fátima Martinho disse...

não conheço, mas estou curiosa

Inês disse...

Depois de o meu cunhado ter passado o último mês no Japão, e de tudo o que me contou da cultura, este vai ser um must have! =)

Professora disse...

Interessante :)

Pitorrinha disse...

Esta sinopse deixa-nos realmente com "água na boca", e muita curiosidade por ler este livro.

Terra de Encanto disse...

Estou a meio da leitura.
A escrita é deliciosa e pingente. Delicada e tocante.