terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

«Crónicas de Pores-do-Sol», de Cristiano Pestana

Editora: Corpos
Ano de Publicação: 2013
N.º de Páginas: 316

«Existem muitas histórias de que ninguém fala… e mitos que se criam.» (p. 132)

Histórias baseadas em factos ou plausíveis de terem acontecido, entrecruzadas por longos hiatos no tempo, na época e no lugar, e que falam sobre separação, saudade, esperança, amor e medo. Os personagens de nacionalidade portuguesa, sejam históricos ou ficcionais, que povoam as páginas destas crónicas (Afonso de Albuquerque, Afonso da Covilhã, Zé Peixoto, Fátima, Eva, Pedro, etc.) são testemunhas de realidades, culturas, ideais e políticas diferentes. Portugal continental e ilhas da Madeira e Açores, Goa, Angola, Brasil, são alguns dos sítios onde guerras e batalhas eclodiram, heróis se fizeram, mas também por onde a estirpe de uma família se dispersou. E não será a (nossa) história feita disso mesmo, de encontros e desencontros? Nestes relatos nem sempre felizes, que na cronologia se estendem do século XV, perpassam a actualidade até 2030, o autor nos apresenta a génese de Portugal, dos seus navegadores e dos seus feitos que perpetuam indelevelmente na História.
Um livro que mantém o suspense ininterrupto e que certamente satisfaz a curiosidade do leitor que goste do ler romances históricos. O que ressalta ao longo das 316 páginas do livro (de capa dura) e em seu abono é o consistente trabalho de pesquisa histórica, e a forma como a ficção se embrenha com a realidade. Enquanto obra de estreia de Cristiano Pestana, Crónicas de Pores-do-Sol não se revela um trabalho literário de escritor principiante, ao contrário, a escrita é apresentada fluida, sem falhas na sintaxe, embora lexicalmente pouco rica. Um aspecto que talvez pudesse ser melhorado tem a ver com a pouca linearidade do livro. Há demasiados espaços em branco, que separam permanentemente a narrativa e que podiam apenas fazer sentido em algumas situações, como quando o autor cria um ‘parêntesis’ para fazer alguma reflexão. Este é o único senão a apontar à primeira obra do autor madeirense dada à estampa em Fevereiro de 2013.


Excertos:

«A mudança é a força motriz da evolução, estado que permite o movimento e o fluir das gerações. É na mudança que o tempo, tal como foi postulado pelos homens, ganha o seu fio condutor visível e permite a descoberta interior, o crescimento, o decaimento ou o renascimento.» (p. 50)

«A complexidade e singularidade de cada ser humano deveria, por si só, ser suficiente para que em todo o mundo nos sentássemos à mesma mesa para resolver divergências e nos respeitássemos, sem recorrer ao confronto ou à violência. Quando duas pessoas se cruzam, é como se dois mundos entrassem em colisão, com maior ou menor fusão entre elas; uma infinidade de vivências e de interacções com meios e ambientes diferentes somam-se — quando não teimam em se subtrair e anular — dando origem a múltiplos universos de experiência humana.» (p. 192)