quinta-feira, 5 de março de 2015

«O Caso do Funeral Fatal», de Agatha Christie

Editora: ASA
Data Publicação: 03/02/2015
N.º de Páginas: 288

«Mas ele foi assassinado, não foi?». Esta foi a pergunta, em jeito de malícia, que Cora, a irmã mais nova do falecido Richard, lançou para a plateia de familiares na sala de estar de Enderby Hall, uma casa vitoriana londrina, após o funeral do patriarca da família Abernethie. A trama deste romance tem como eixo central esta abertura, que deixa desde logo os leitores em suspense.
Cora, uma mulher de meia-idade «desajeitada», «bastante desequilibrada e demasiado estúpida», sempre foi conhecida como uma espécie de embaraço para a família. Em pequena era conhecida pela forma embaraçosa como deixava escapar verdades indesejadas. Quando casa-se com um pintor sem posses, ela ao dar-se conta que a família não vê essa relacção com bom augúrio, afasta-se do contacto com os irmãos durante mais de vinte anos. A morte repentina e (supostamente) natural de Richard é o motivo que a faz regressar à casa onde cresceu, após tantos anos.
Mortimer, o único descendente de Richard falecera uns meses antes e por isso era muita a curiosidade dos membros da família, que queriam saber se alguma da herança lhes cabia. Juntaram-se, assim, na residência, após o enterro, os irmãos, cunhadas e sobrinhos. Todos estavam à espera que Mr. Entwhistle, o advogado da família, lê-se o testamento. O que ninguém contava era que no dia seguinte, a autora da frase que lançou a celeuma perante todos os presentes, que ponha em dúvida se o irmão tinha falecido de morte natural ou não, ela própria tivesse sido alvo de um homicídio brutal…
Perante as duas mortes sucessivas, o advogado decide contratar um velho amigo belga, conhecido pelo seu brilhante desempenho como detective em casos como o que tinha em mãos. Poirot só “entra em acção” a partir da página 85 deste livro e só a ele e às suas “celulazinhas cinzentas” é que será possível o desvendar do(s) criminoso(s) que na família Abernethie se infiltrou.
Como é apanágio de Agatha Christie, ela só revela os traços psicológicos mais maléficos dos personagens que cometem os crimes nos seus romances policiais, a poucas páginas do desfecho das tramas. After the Funeral, título publicado pela primeira vez em 1953, tendo sido em 1963 adaptado para o cinema (Murder at the Gallop), não foge ao seu modus operandi. É uma trama intricada mas credível, povoada por personagens complexos, que sorrateiramente Agatha Christie constrói e camufla. Qualquer um personagem poderia ter sido o autor do(s) crime(s). Contudo, copiando um excerto do livro: «os assassinos raramente são inteligentes». É necessário ser-se um bom escritor de policiais para esmiuçar as acções e pensamentos de cada personagem e imbuir a cada um, um motivo (credível) que o leve a cometer um crime; afinal, a complexidade da mente humana é infinita. O Caso do Funeral Fatal flui de página em página, terminando com uma surpreendente revelação.
«O policial é um baile de máscaras, em que toda a gente aparece disfarçada de outra pessoa», escreveu G. K. Chesterton num dos seus livros (Como Se Escreve Um Romance Policial). A autora de O Caso do Funeral Fatal (traduzido por John Almeida), concordava, com certeza, com esta afirmação; o volume 81 (de 85) da Colecção Obras de Agatha Christie, publicada pelas Edições Asa, é uma obra que comprova a sua mestria em confundir o leitor para depois esclarecê-lo. Livro recomendado.

3 comentários:

Paula Coelho disse...

Eu sou suspeita em relação às obras de Agatha Christie, desde os meus 14 anos que "devoro" todos os policiais da autora, quer sejam os do Poirot, quer sejam os de Miss Marple.
Mas tenho de confessar a minha predileção por Poirot e as suas “celulazinhas cinzentas”. Adoro a escrita, a trama,o drama e acima de tudo a incerteza de quem será o verdadeiro assassino, mais um na minha vasta coleção desta autora.

Unknown disse...

Confesso que adoro Agatha Christie e nestes últimos tempos tenho vindo a assistir alguns episódios num canal da TV e o que me dá uma grande vontade de reler novamente os meus livros mas não tenho este ! Tenho de finalizar a minha colecção !

livingbelowtheclouds disse...

Confesso que nunca li nenhum livro da Agatha Christie. Tenho dois e nunca me deu vontade de os ler, talvez por não ser uma grande fã de policiais ou mistérios. Tenho de mudar isso e levar um para a praia este verão