quarta-feira, 8 de julho de 2015

«Proibido», de António Costa Santos

Editora: Guerra e Paz
Data 7.ª edição: 03/06/2015
N.º de Páginas: 216

A liberdade de expressão foi, indubitavelmente, uma das mais egrégias conquistas da Revolução dos Cravos. O português que nasceu após a última década de 70 pode não fazer ideia das mais incrédulas e ridículas privações que o Estado Novo, desde Maio de 1926, fez emergir no quotidiano dos cidadãos. É de se ficar de boca aberta desde a primeira até à última página desta obra onde estão coligidas algumas das cerca de mil proibições caricatas, que se deviam fazer obedecer, caso contrário havia punições aplicadas consoante o grau, para com os infractores, mas também recompensas monetárias para o cidadão-comum que denunciasse o vizinho, o amigo, etc. «Não era, pois, apenas o Estado que proibia. Proibíamos uns aos outros», refere o autor António Costa Santos (n. 1957) na página 14.
O livro está dividido em vários capítulos, cada um dedicado a uma ou mais proibições, como por exemplo as seguintes: Era proibido: ler certos livros (este Proibido seria com certeza proibido! por um qualquer agente da PIDE, por ser «subversivo» e «imoral»; livros de Herberto Hélder, Natália Correia e Maria Teresa Horta, apontando três exemplos, não escaparam à censura de Salazar e foram saqueados às editoras, distribuidoras, livrarias, bibliotecas e às casas dos leitores que os liam às escondidas); ir de minissaia para o liceu (presumo que os rapazes podiam!, se se atrevessem a tal); beber Coca-Cola (de nada serviu Fernando Pessoa ter criado, em finais da década de 1920, para a marca americana o slogan tão famoso e que ainda nos dias de hoje muitos se lembram de repetir: Primeiro, estranha-se. Depois, entranha-se); sacudir o pó (ainda hoje não é permitido!).
Em resumo, este livro que inclui no seu interior variadíssimas fotografias de um país cinzento, que desde a sua publicação em 2007 já vai na 7.ª edição, em primeiro lugar nos diverte, não só pelo conteúdo em si mas pela forma humorística e irónica como António Costa Santos (autor de diversificados trabalhos como a biografia de Herman José) apresenta a sua investigação em torno das ridicularidades que o Fascismo manteve vigentes durante quase cinquenta anos.
Qual o público-alvo de Proibido? Os leitores jovens e os que se recordam de viver num Portugal que «permitia ao marido matar a mulher em flagrante adultério» e onde «a homossexualidade era proibida, além de ser uma doença mental, tratada em manicómio».

4 comentários:

Arnaldo Santos disse...

Há muita gente em Portugal que não sabe, ou faz de conta que não sabe, dos tempos da DITADURA FASCISTA de Salazar, durante 48 anos, em que não se podia usar isqueiro, dar beijos no jardim, casar com uma enfermeira ou professora, haver mais do que 1 partido, falar e reunir livremente, as mulheres votarem nas eleições nacionais e havia uma polícia (PIDE) política que prendia indiscriminadamente quem lhe apetecesse! Convém LEMBRAR estas "coisas" verdadeiras!

Filipa disse...

Deve ser interessantíssimo este livro!

Pedro Oliveira disse...

Porque há coisas que nunca deverão ser esquecidas, existem estes livros para nos explicarem tudo.

Alexandra Guimarães disse...

Um livro que gostaria muito de ler.