sábado, 3 de setembro de 2016

«Casa de Férias com Piscina», de Herman Koch

Editora: Alfaguara
Data de publicação: 13/07/2016
N.º de páginas: 400

Quando o médico Marc Schlosser aceita passar férias com a mulher e as filhas na casa de um dos seus pacientes famosos, o actor Ralph Meier, não lhe passa pela mente que uma tragédia se despoleterá entre banhos de sol e de piscina. O convite para essa socialização entre as duas famílias, deu-se na festa do vigésimo aniversário de casamento de Ralph e Judith, e poucas semanas depois concretizara-se.
Quem narra esta história é o cínico e repugnante médico de família, que ao mesmo tempo que faz o relato dos acontecimentos desse Verão, vai adiantando ao leitor ideias e reflexões moralmente repudiáveis tanto sobre a sua profissão como sobre a sua índole. Não é aceitável um doutor sentir repulsa pelo corpo humano, evitanto tocar e olhar com atenção os corpos dos seus pacientes, até porque Marc revela não se importar minimamente com eles — ele só quer que os vinte minutos entre consultas termine o mais rápido possível.
Caroline, a mulher do médico, não suporta a postura altiva e sedutora do actor, que na festa a tinha despido com os olhos, e por isso não queria alinhar no convívio. Para não contrariar o marido, aceitara, mas desde que chegara à casa do casal, mantivera-se alerta em relacção às filhas, não deixando-as nunca sozinhas com os filhos adolescentes deles, nem com o próprio Ralph.
A junção de muito álcool, pouca roupa, tensão sexual, adultério, dois casais disfuncionais, misturado com ciúmes, orgulho e vingança culmina num trágico incidente que mancha estas férias e a lembrança de todos os intervenientes para sempre.
Casa de Férias com Piscina (Zomerhuis met zwembad, 2011) vendeu até à data mais de 350.000 exemplares apenas em território holandês. É um romance marcado pela ironia corrosiva de Herman Koch (n. 1953), que ao abordar a relação conturbada e simultaneamente afectiva entre pais e filhos, e as múltiplas discrepâncias, dos mais váriados níveis, que podem coexistir entre um casal, deixa-nos na expectativa até ao final.
Um dos chamarizes do romance, além da prosa rica, fluida e erodente, é possuir um personagem-narrador detestável, sem pudores em expressar o que pensa. Todavia, é alguém que consegue roubar ao leitor alguma empatia, em grande percentagem por ele próprio ser uma das personagens mais atingidas com o acontecimento tenebroso que povoa as derradeiras últimas páginas de Casa de Férias com Piscina.
Quem leu O Jantar (romance publicado pela Alfaguara em Junho de 2015) vai querer ler Casa de Férias com Piscina.


Excerto
«Às vezes diz-se que os primeiros minutos e horas são cruciais quando há uma tragédia na família. Nesses primeiros minutos e horas confirma-se se os laços são suficientemente fortes para sobreviver à tragédia.. (...) Pode pensar-se que uma tragédia faz as pessoas aproximarem-se. Que os laços se tornam mais fortes devido à partilha da dor. Contudo, não é assim. Muitas pessoas querem precisamente esquecer o desgosto. E é a outra que as faz recordar o desgosto.» (p. 265)

3 comentários:

patricia dias disse...

aguçou-me a curiosidade:)

Andreia Sousa disse...

Não conhecia mas deve ser interessante:P

Luana Santos disse...

Para ler mais tarde com toda a certeza :)