quinta-feira, 6 de outubro de 2016

«O Mito de Sísifo», de Albert Camus

Data de publicação: 15/09/2016
N.º de páginas: 136

A relacção entre o pensamento individual e o suicídio é um dos temas abordados logo no romper deste ensaio de Albert Camus, datado de 1942, que tornou-se uma das obras ímpares do pensamento existencialista, corrente surgida em meados do século XIX: «Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio.»
Citando alguns dos principais pensadores do Existencialismo, como Søren Kierkegaard, Karl Jaspers, Edmund Husserl e Friedrich Nietzsche, e evocando a presença da filosofia em obras de autores como Kafka e Dostoiévski, nomeadamente na ramificação deste raciocínio sobre a noção do absurdo, o autor sublinha o pensamento de que não há sentido a ser encontrado no mundo além do significado que damos a ele.
Os seus raciocínios sobre a noção de liberdade, sobre o indivíduo versus a sociedade, sobre a morte e o sentimento que dela possuímos, e sobre a esperança (o terceiro tema deste ensaio), são revelados pungentemente e audazmente ao longo deste breve ensaio filosófico, que por vezes algumas das reflexões necessitam de uma segunda leitura, dada a sua densidade intelectual. Este ensaio deixa conscientemente e totalmente de fora a abordagem espiritual.
No último capítulo da obra, que antecede a um estudo de Camus sobre Kafka, é-nos apresentado em quatro páginas o mito que dá título ao livro. Nele, o autor compara o absurdo da vida do homem, fazendo analogia a Sísifo, figura da mitologia grega que por nutrir «desprezo pelos deuses» e «ódio à morte» é condenado a repetir sempre a mesma tarefa, a de empurrar uma pedra gigante do vale até ao topo da montanha; o pedregulho então deslizaria para baixo, para o ponto de partida, e Sísifo, «o herói absurdo», teria que começar tudo ad infinitum.
O autor de O Estrangeiro, vê em Sísifo o homem que concretiza as suas necessidades e objectivos, por mais que as suas tarefas não tenham sentido. Este mito trágico, ao mesmo tempo, é uma metáfora (que mantém-se actual) sobre a vida moderna, em que os trabalhadores concretizam tarefas que lhes são penosas, limitando-se a cumprir os seus deveres: «O operário de hoje trabalha todos os dias da sua vida nas mesmas tarefas, e esse destino não é menos absurdo.»
O Mito de Sísifo, cuja tradução a partir do francês esteve a cargo de Urbano Tavares Rodrigues, em 1961, é um livro de leitura importante, porque faz-nos reflectir e pôr-nos no lugar do homem face ao mundo e, principalmente, a ele próprio.


Citação
«Os deuses tinham condenado Sísifo a empurrar sem descanso um rochedo até ao cume de uma montanha, de onde a pedra caía de novo, em consequência do seu peso. Tinham pensado, com alguma razão, que não há castigo mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança.» (p. 111)

8 comentários:

Unknown disse...

Uma obra complexa de grande pensamento humano!

Pedro Valente disse...

O estrangeiro

Manuel F. disse...

Este livro de que escreve parece ser interessante, mas o meu preferido de Alberto Camus é "A Peste".

manuelfreitas1980@gmail.com

Elisabete Moutinho disse...

O livro de Camus de que mais gostei foi «L'étranger», pela reflexão a que me obrigou perante a personagem principal ser um verdadeiro estranho (estrangeiro) no seu próprio país e da ausência de qualquer sentimento da sua parte em relação ao desaparecimento da sua própia mãe. A distância e o percurso de vida no país de acolhimento quebraram irremediavelmente os laços mais profundos da personagem com as suas origens.

elisabetemoutinho@hotmail.com

Gibadois disse...

O estrangeiro, não tem comparação, é o melhor

Pedro Valente disse...

O estrangeiro. O tom orquestrado pela escrita de Camus coloca-nos mais do que próximos de Meursault, como se experiênciasssemos na primeira pessoa o absurdo.

Joana Ascensão disse...

Ainda não li nenhum livro de Alberto Camus, mas o que mais gostaria de ler é "O mito de Sísifo". Vários amigos já me disseram que era um ótimo incentivo à concretização dos nossos sonhos.

O meu email é: joana591@hotmail.com

Joana Ascensão disse...

Ainda não li nenhum livro de Alberto Camus, mas o que mais gostaria de ler é "O mito de Sísifo". Vários amigos já me disseram que era um ótimo incentivo à concretização dos nossos sonhos.

O meu email é: joana591@hotmail.com