quinta-feira, 2 de março de 2017

«O Velho e o Gato», de Nils Uddenderg

Editora: Bertrand
Data de publicação: 10/02/2017
N.º de páginas: 224

Nils Uddenberg (n. 1938) é professor aposentado de psiquiatria e vive na Suécia. É autor de mais de vinte livros. Em 2012 publicou Gubbe och katt, obra agora traduzida para português por Eugénio Santos e que é o quarto título da colecção ‘Bichos’, que recentemente a Bertrand Editora criou, que conta já com livros de reputados autores como Thomas Mann (Um Homem e o Seu Cão), Franz Kafka (Bestiário de Kafka) e Doris Lessing (Uma Velha e o Seu Gato e a história de dois cães).
Esta história não-ficcional conta como o médico e a sua mulher tornam-se inesperadamente proprietários de um gato vadio. Tudo começa quando Nils ao regressar a casa de uma viagem depara-se com um gatinho tigrado no jardim da sua casa em Lund, no sul da Suécia. O ex-psiquiatra, que nunca tivera animais domésticos, fornece algum alimento ao felino, na esperança de no outro dia ele já não estar na sua propriedade. Tal não acontece, e nos dias seguintes a relação entre este velho e o gato vai se estreitando («Eu tinha começado a assumir a responsabilidade pelo bem-estar do animal»), até ele se tornar inesperadamente proprietário da Bichana, o nome que ele lhe atribui.
Tal como uma paixão súbita, aquilo que aconteceu é completamente inesperado. A gata exerce uma influência sobre a minha vida.
Apesar de a princípio termos tentado manter as distâncias, este animalzinho entrou claramente na nossa vida e tornou-se parte de uma rotina que em muito contribui para uma sensação de segurança.
Nils não é quem escolheu o gato, mas o gato que o escolheu, esta é a perspectiva com que podemos olhar para esta história simples de afecto e amizade entre um ser humano e um ser animal.
Talvez uma história de amor feliz seja aquela em que ambas as partes agradecem mutuamente pelo tempo partilhado e depois se concedem o dom da liberdade.
O Velho e o Gato, um ensaio memoralístico escrito de forma simplista, revela algumas curiosidades sobre felinos e faz menção a autores que escreveram sobre gatos como T.S. Eliot e Doris Lessing, mas o fio que conduz a narrativa dispersa-se muitas vezes em assuntos superficiais que não interessam ao leitor, como a instalação que ele mandou fazer de uma gateira na porta da sua casa e tópicos relacionados com pássaros e ratos (o autor gasta várias páginas nestes tópicos e consegue nada dizer de interessante).
Sendo o autor um médico psiquiatra, esperava neste livro que ele expusesse reflexões com mais teor e complexidade sobre a vida interior dos gatos e sobre o fascínio que estes incutem nos humanos.
O Velho e o Gato, em todo o caso, ganha valor pelas cerca de trinta ilustrações a aguarela (de Ane Gustavsson) que encontram-se dispersas ao longo das páginas, que ajudam o leitor a acompanhar o relato de Nils mais nitidamente.

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