Opinião:
Este livro “Todos os Nomes” conta a história de um funcionário da principal Conservatória do Registo Civil de um lugar e de um tempo não revelado.
O sr. José é o protagonista da história. É um solitário solteirão de meia-idade, um homem simples, trabalhador assíduo, pontual, que nunca desobedece às ordens do seu temível e autoritário chefe.
Se no local de trabalho ele é simpático e atencioso com os clientes e com os superiores, na sua lide íntima e pessoal ele não priva de amigos nem familiares. Um personagem que faz-nos repensar que por detrás de cada homem, esconde-se outro.
Este funcionário cultiva a mania de coleccionar imagens e notícias de jornais e revistas sobre gente famosa ou conhecida, não idolatrando uma celebridade mais que outra. Os seus tempos livres são aproveitados a recolher e catalogar todas as notícias dos famosos numa gaveta.
Até que um dia depara-se na posse de um registo duma mulher desconhecida e surge-lhe uma ideia, ou mais outra obsessão..
O sr. José vê nessa mulher anónima, da qual apenas sabe o nome e estado civil, a possibilidade de traçar um caminho novo para a sua avidez de se penetrar na vida de outrem.
(Penso para mim que só alguém que não tem auto-estima e que não se olha ao espelho há muito tempo, pode ter a avidez incontrolável de estar a par da vida dos outros, pois assim, restará menos tempo, ou nenhum, para enfrentar a sua miserável vida. São nominadas tradicionalmente as “vidinhas alheias”.)
A Conservatória, a Escola e o Cemitério da cidade onde vive, são os lugares que este homem percorre e deambula, para a frente e para trás, obstinadamente, até alcançar, ou não, os seus objectivos em relação à mulher anónima. Contudo, o medo e o sentimento de culpa são sentimentos que andam ao mesmo passo que o desequilibrado homem.
Agora, vocês me perguntam: será que o sr. José irá encontrar a mulher anónima?
Infelizmente, não poderei responder a essa pergunta. (Se calhar, não tenha resposta..)
Este livro satisfez-me, muito, muitíssimo. Infelizmente, é o segundo que leio da obra de Saramago. O outro foi “O ensaio sobre a cegueira, e que faz parte do meu top favorito.
“Todos os Nomes” fala de uma temática que levanta muitas opiniões distintas, (aliais, génio característico de Saramago) a vida e a morte. O que separa uma da outra? Qual a mais sagrada?
Gosto muito dos diálogos sem travessão, frases longas que deixa-me sem fôlego, os pontos de interrogação inexistentes, as sintaxes não coesas, gramaticalmente incorrectas, as muitas metáforas, as ironias adjacentes, os eufemismos, que Saramago usa. Muito sui generis.
Tal como em “O Ensaio sobre a Cegueira” este é um ensaio sobre a existência, a que se vê e a não visível.
Ironicamente, em “Todos os Nomes” o único personagem com nome é precisamente o Sr. José. Mas José quê? Não sabemos!
“Conheces o nome que te deram, não conheces o nome que tens”.
Livro dos Provérbios
Um dos meus livros favoritos de Saramago! :) Ofereceram-me o "Clarabóia" há dias, estou com imensa curiosidade.
ResponderEliminarEste foi o primeiro livro dele que li e sim é mesmo mto bom.
ResponderEliminarE só dps deste é que li o "ensaio sobre a cegueira" mto bons os dois;)
Penso para mim que só alguém que não tem auto-estima e que não se olha ao espelho há muito tempo, pode ter a avidez incontrolável de estar a par da vida dos outros, pois assim, restará menos tempo, ou nenhum, para enfrentar a sua miserável vida. São nominadas tradicionalmente as “vidinhas alheias”
ResponderEliminarTalvez está frase explique o sucesso de muitos reality shows.
Aconselho que lei o Memorial do Contento, é para mim a melhor obra que já li de Saramago.
Acabado de ler... gostei muito.
ResponderEliminarhttp://numadeletra.com/todos-os-nomes-de-jose-saramago-52624