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Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.
in PROVAVELMENTE ALEGRIA, Editorial CAMINHO,1985
Maravilhosas palavras!
ResponderEliminar"Na ilha por vezes habitada do que somos",
há momentos assim,
autênticos.
É engraçado que não consigo ler os livros do Saramago, mas todos os excertos que tenho lido aqui e ali são maravilhosos... :)))
ResponderEliminarAmo Saramago.
ResponderEliminarEstou terminando "Ensaio sobre a Cegueira", e posso garantir que já não sou a mesma pessoa de quando começou a ler. Impressionante, perturbador, maravilhoso.
Será que não está na altura então de voltares a insistir em Saramago, Teté! ;)
ResponderEliminarNa volta o que te está a faltar é pegar no livro certo. :)
Sublime .
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