Sinopse
De um autor enorme,
conhecido sobretudo como romancista, esta é uma obra influente de
reflexão sobre a natureza da arte, intelectualmente provocadora e destemida, só
ao alcance de alguém com a coragem e a honestidade intelectual de Tolstói.
Um conjunto de reflexões que não perdeu actualidade, pois o debate permanece
aceso: afinal, o que pode ser considerado arte? As obras de, por exemplo,
Damien Hirst serão arte? Quem as rotula como tal? Com que fundamento? Tolstói
faz estas mesmas perguntas, e responde-lhes, relativamente aos artistas seus
contemporâneos.
A obra de Tolstói como romancista
dispensa apresentações. Porém, o autor russo foi muito mais do que um grande
romancista, dedicando a parte final da sua vida ao ensaísmo filosófico. O Que é a Arte? é talvez o ponto mais
alto da reflexão filosófica de Tolstói, tendo levado cerca de quinze anos a
escrever, o que mostra a importância que o próprio Tolstói dava ao tema em
causa. Como ele mesmo refere, a arte é uma coisa séria; não é uma mera questão
de beleza, e ainda menos de divertimento ou de obtenção de prazer. A arte
autêntica é acessível a todos e define-se, segundo Tolstói, pela sua capacidade
de comunicar sentimentos que contribuam pra a união das pessoas e para o
aperfeiçoamento moral de toda a comunidade. Estas são as bases da teoria da
arte que veio a ser conhecida como «teoria da expressão», assente numa
definição funcionalista da arte. Teorias que continuam a ser estudadas e
discutidas pelos filósofos interessados nos problemas da definição e do valor
da arte.
Trata-se de uma obra intelectualmente provocadora e destemida,
só ao alcance de alguém com a coragem, a honestidade e o prestígio intelectual
de Tolstói. O seu carácter provocador e as suas reflexões não perderam
actualidade. De tal modo que, mesmo os que não concordarem com muitas das
ideias aqui expressas, irão beneficiar muito com a sua leitura. Principalmente
esses.
Ao responder à pergunta
que intitula este ensaio, Tolstói começa por passar em revista as principais
concepções da arte de Platão a Nietzsche, seu contemporâneo, passando pelos
estetas e teorizadores do gosto do séc. XVIII (Baumgarten, Hutcheson, Burke,
Kant) e pelos mais destacados pensadores do seu próprio século (Fichte,
Schelling, Hegel, Schopenhauer, Darwin, Spencer, Marx), procurando mostrar que,
no essencial, são todas erróneas.
As suas críticas visam também algumas obras de Miguel Ângelo,
Shakespeare e Beethoven, sendo particularmente impiedoso com Wagner, Verlaine e
Baudelaire. Acima de tudo, denuncia o que considera ser uma arte inautêntica,
vazia, incompreensível e elitista,
procurando sustentar as suas conclusões com abundantes exemplos da literatura,
da pintura e da música.
O panorama artístico europeu do seu tempo, fervilhante de
supostas novidades, é por ele caracterizado como completamente artificial e
perverso, destacando negativamente as multidões de artistas simbolistas,
impressionistas e decadentistas, adeptos da ideia de arte pela arte.
Em contrapartida, propõe uma concepção da arte que esteja de
acordo com a sua verdadeira natureza: uma arte cujo conteúdo se encontra nos
sentimentos humanos mais elevados, impregnada de religiosidade autêntica e
acessível a todas as pessoas.
A arte é, assim, uma forma de comunicação de sentimentos
autênticos, com os quais o artista contagia os destinatários das suas obras,
criando uma espécie de comunhão de sentimentos. Por isso, a arte tem uma função
moral e social.
Sem comentários:
Enviar um comentário