Servidões
de Herberto Helder
Depois da publicação de A Faca não Corta o Fogo – súmula & inédita e de Ofício Cantante, chega às livrarias na próxima segunda-feira, dia 27 de Maio, um novo livro de poemas inéditos de Herberto Helder, Servidões.
Livro de tiragem única que contém o poema:
até cada objecto se encher de luz e ser apanhado
por todos os lados hábeis, e ser ímpar,
ser escolhido,
e lampejando do ar à volta,
na ordem do mundo aquela fracção real dos dedos juntos
como para escrever cada palavra:
pegar ao alto numa coisa em estado de milagre: seja:
um copo de água,
tudo pronto para que a luz estremeça:
o terror da beleza, isso, o terror da beleza delicadíssima
tão súbito e implacável na vida administrativa
Herberto Helder
Poeta e ficcionista, Herberto Hélder (1930, Funchal)
frequentou a Faculdade de Letras de Coimbra e exerceu actividades
profissionais ligadas ao jornalismo e à edição, tendo colaborado em
diversas publicações como Graal, Poesia Experimental 1 e 2 e Pirâmide.
Na sua poesia, integra a herança do Surrealismo, de Rimbaud e dos Contos
de Maldoror de Lautréamont, assumindo todavia um percurso único nas
letras.
Para Fernando Guimarães (cf. A Poesia Contemporânea Portuguesa e o Fim da Modernidade
, 1989), na poesia de Herberto Hélder confluem duas tendências
poéticas: uma de libertação da palavra, que liga a sua obra à
experiência surrealista pelo encontro da imaginação com a linguagem e
pela aproximação ao poder mágico da palavra; e uma poética de encontro
com a palavra, que encerra o poeta no domínio da linguagem, pela
experimentação lúdica, pela criação de grandes espaços metafóricos
construídos a partir da recorrência de temas e termos condutores. Ao
mesmo tempo, António Ramos Rosa (Incisões Oblíquas , 1987) vê uma distinção entre a poesia de A Colher na Boca
, correspondente a uma primeira fase da sua experiência poética, onde o
poema "é a um tempo mediação mítica e elemental e nele se transmudam
originariamente todas as relações entre a consciência e a realidade" (p.
78), e a experiência de Poemacto e Máquina Lírica , onde a
poesia hebertiana sofre uma transformação estrutural, o jogo verbal e os
exercícios sobre a materialidade da linguagem tornando-se então
dominantes; para, num terceiro momento, a partir de Retrato em Movimento
, voltar a "um discurso em que a matéria do universo está presente com
uma violência extrema". É este sentido de abolição da censura racional
que preside também à sua obra ficcional, marcando Passos em Volta uma ruptura na narrativa dos anos 60, pela sua densidade imagística e irregularidade narrativa.
Foi galardoado com o Prémio Pessoa em 1994, que recusou.
- Obras do autor publicadas pela Assírio & Alvim:
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