O escritor maldito é o centro de gravidade da
literatura ocidental moderna. Constitui a espinha dorsal do escritor autónomo,
independente e original que defende a sua criação até às últimas consequências,
sem nunca fazer concessões ou trair a sua consciência artística, não raro com
prejuízo da própria vida, ou resvalando nos abismos do infortúnio e do
sofrimento, ou entregando-se a todos os excessos e autodestruindo-se.
Incompreendido no meu tempo mas imortalizado pelo futuro, o maldito confunde-se
com a própria literatura, é a representação do trágico destino do escritor
genial e da sua ressurreição.
O
novo livro de João Pedro George, cujo título é copiado de Luiz Pacheco,
propõe-se fazer, na primeira parte, uma geneologia das representações do
escritor maldito. Qual o processo de
construção do «maldito»? Que traços caracterizam o maldito e qual a imagem que
o meio literário projecta do escritor maldito? Até que ponto o meio literário
se reconhece, se projecta e se celebra no escritor maldito? A segunda
parte é dedicada ao caso português, através da história da introdução do
conceito em Portugal.
João Pedro George, doutorado em Sociologia da Cultura, foi professor na
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
(1998-2008). Tradutor, crítico literário e ghostwriter, dedica-se hoje
exclusivamente à escrita, tendo publicado, entre outros, «O Meio Literário
Português (1960-1998)», «Não é Fácil Dizer Bem: críticas, obsessões e outras
ficções» e «Puta que os Pariu! A Biografia de Luiz Pacheco».
A
colecção Presenças foi iniciada pela Verbo em 1962. É uma das colecções
mais significativas da ensaística portuguesa na segunda metade do século xx.
Publicaram nesta colecção alguns dos nomes maiores da cultura portuguesa,
nomeadamente Vitorino Nemésio, Jacinto do Prado Coelho, David Mourão-Ferreira,
Adolfo Casais Monteiro, Maria de Lourdes Belchior, Esther de Lemos, José V. de
Pina Martins e João Bigotte Chorão. Com a integração da Verbo na BABEL, esta
colecção foi retomada mantendo o design original de Sebastião Rodrigues,
actualizado por Henrique Cayatte. Após a recente publicação de «Discursos
vários poéticos» de Vasco Graça Moura, a BABEL apresenta o mais recente título
desta colecção «O que é um escritor maldito?» de João Pedro George.
O que é
um escritor maldito?
de João
Pedro George
Páginas:
264
Editora: Verbo (Babel)
Prezado Miguel, a busca pelo reconhecimento literário faz com que se percam anotações preciosas das vidas comuns e suas rotinas nem sempre mesquinhas, às vezes sábias. O estilo de linguagem próprio e inovador não impede que as futuras gerações sofram as mesmas decepções das gerações passadas se não houver quem as decifre e compartilhe. As formas literárias fornecem oportunidades para que se transformem as experiências de uma época em crônicas e contos, pois não cabe aos jornais contar dos assuntos das conversas entre conhecidos. Penso que cabe aos pequenos, aqueles que não buscam as academias, as ofertas de textos que possam contribuir com a sabedoria popular, tendo em vista que esta é dinâmica e viva, estando sempre em acordo com os costumes da sua época e a época da memória da sociedade através dos seus antepassados nesse contexto sociológico. Essa sua postagem é muito interessante. Um abraço, Yayá.
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