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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

«Ana de Londres», de Cristina Carvalho

Editora: Parsifal
Ano de Publicação: 2013
Nº de Páginas: 112

Ana de Londres na sua acção principal desenrola-se em Lisboa no final dos anos sessenta, do século XX (mais precisamente em Julho de 69); uma época em que a crise política e social do país estava no seu êxtase; numa altura em que os homens partiam para as guerras, em defesa da pátria. Foi precisamente o que sucedeu-se com João Filipe, o namorado de Ana Maria. Foi devido a este acontecimento, a juntar-se a outros, que a jovem de dezoito anos, há muito revoltada com a vida que ela e os pais levavam num Portugal decadente, sem vida, decide mudar-se para Londres, em busca de uma outra vida. A narradora deste conto-novela é uma amiga de infância de Ana, que encorajou-a a mudar de país. É esta voz que nos conta o momento em a jovem decide contar aos pais a sua decisão: «Eu não vou para a faculdade. Eu não quero estudar mais. Se continuar aqui em Lisboa, em Campo de Ourique, o meu destino não é destino.» (p. 21)
Assim, Ana parte de comboio «numa manhã nem bonita sem feia (…) sem tristeza nem alegria», deixando para trás os «ares pestilentos, mortíferos» do seu «lindo país.» O sonho da novidade move-a. Na viagem longa que ligou Lisboa a Londres Ana não deixa de pensar no que a sua amiga lhe disse: «A Rita também foi para Londres e tem-se dado bem (…) Disse-me, quando escreveu, uma coisa estranha. É bem tratada, mas a família onde está não sabe bem o que é Portugal.» (p. 56)
Da vida de Ana na capital inglesa poucas notícias chegaram aos seus pais. Será que a revolta de Ana era com o país ou consigo própria? Será que mudando de localização geográfica ela julgava que os seus medos mais íntimos se desvanecessem?
Ao fim e ao cabo, como conta-nos a escrita de Cristina Carvalho, «tudo passa, tudo é efémero, a realidade é difícil de se entender, se é que há realidade, se não é tudo pensamento, se não é tudo sonho, e o sonho o que é? Nada. Nada é nada.» (p. 85)
Sobre relações familiares e sociais, sobre os receios mais ínfimos que têm o seu alicerce nos momentos em que se perde alguém, para a guerra, para a morte, pessoas que se quer muito, sobre estes tópicos esta história tece em torno. A escrita fluida a par com a apresentação de frases concisas, muito valoriza e torna estimulante a leitura de Ana de Londres, um dos contos vindos no primeiro livro de Cristina Carvalho, Até já não é Adeus: histórias perversas, que foi dado à estampa em 1989 e que em 1996 foi publicado autonomamente. Nesta nova edição, a cargo da Parsifal a obra tem a mais-valia de ter sido revista e acrescentada com um novo final, além de conter ilustrações e ser prefaciada por Miguel Real, que por descuido descortina demasiadamente o conteúdo do conto, revelando spoilers.

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