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domingo, 10 de novembro de 2013

«Caderno de Significados», de Agustina Bessa-Luís

Editora: Guimarães
Ano de Publicação: 2013
Nº de Páginas: 104

‘Contemplações’ é o nome da colecção que a Guimarães Editores atribuiu às obras de texto mais curto de Agustina Bessa-Luís, escritora que comemorou no passado dia 15 de Outubro o seu 91.º aniversário. Nesse mesmo mês foi dado à estampa um novo título, o terceiro, da colecção acima citada. Assim, após Kafkiana (um conjunto de ensaios sobre Kafka) e Cividade (uma novela inédita que faz reminiscência à infância de Agustina), a editora que desde 1954 publica as obras da autora, publica Caderno de Significados.
Alberto Luís, o marido de Agustina, juntamente com uma das netas da autora, foi quem selecionou e compilou as dezenas de pequenos textos (meia-folha, uma folha, duas folhas), muitos dos quais não datados e encontrados em «folhas soltas, em cadernos de notas (…) em margens de livros». Que pode o leitor encontrar nestes testemunhos dispersos e ecléticos, que refletem o que pensava e sentia a autora de A Sibila?
Do hiato que separa 1959-2005 encontramos do mais variado material literário em Caderno de Significados, como contos, ensaios, reflexões, cartas, resenhas e textos de homenagem escritos após Agustina ter tido conhecimento da morte de amigos e figuras de renome que admirava, como José Régio, Maria Callas, Simone de Beauvoir, Marguerite Yourcenar, Amália Rodrigues e Sophia de Mello Breyner. Textos sobre livros, escritores, tradutores, críticos, política, fazem também parte do volume em que podemos ler frases como as seguintes: «O escritor vive e morre ligado, não às coisas, aos factos, ao tempo, mas às consequências deles.», «A leitura é um movimento ginástico em que participam o coração e o cérebro.», «Ler protege-nos da fossilização, prepara-nos para uma constante participação no mundo das ideias, retarda os tempos da sensibilidade moral e física.»
Em Caderno de Significados uma outra faceta dos escritos da que considerou ser «uma grande escritora desde os doze anos», é possível desvendar. O ímpeto urgente que tem Agustina para exprimir as suas ideias é notório; ela que nunca podia ver um papel qualquer em branco: «Muitas vezes sinto isso até quando vejo a folha de rosto dos livros, com espaço em branco. E quase sempre apetece-me escrever mais do que um autógrafo.» — e provavelmente, continua a não poder ver. A obra de Agustina Bessa-Luís deve ser tratada não como provisória, mas eterna [«O que é bom deve ser tratado não como provisório, mas eterno»].


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