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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Últimos lançamentos da Relógio D' Água


Guerra e Paz (vol.I), de Lev Tolstoi

«Guerra e Paz» narra a invasão da Rússia por Napoleão e os efeitos que o acontecimento teve na vida da aristocracia, dos militares e da população envolvida no conflito.

A maior parte dos oficiais era originária das famílias nobres e as separações e perigos da guerra tornavam mais intensas todas as relações pessoais e, em particular, as amorosas.
Os hábitos sociais, as relações sentimentais e o declínio de algumas das mais importantes famílias de Petersburgo e Moscovo são apresentados com distanciamento ou irónica ternura.

Neste romance surgiram algumas das mais perduráveis personagens da literatura, o íntegro príncipe Andrei, o insólito Pierre Bezúkhov e a fascinante Natacha Rostova, que se tornaria indispensável para qualquer um deles.

Com esta obra e a sua apresentação em mosaico de grandes painéis da vida russa onde se movimentam centenas de personagens num período de convulsões militares, Tolstoi realizou o seu desígnio de se confrontar com o Homero da "Ilíada" e da "Odisseia".

«O maior de todos os romancistas — que outra coisa poderíamos dizer do autor de "Guerra e Paz"!» [Virginia Woolf]


Guerra e Paz (vol.II), de Lev Tolstoi

«O que é "Guerra e Paz"?
Não é um romance, nem um poema e ainda menos uma crónica histórica. "Guerra e Paz" é o que autor quis e conseguiu exprimir, na forma em que está expresso. Uma tal manifestação de negligência por parte de um autor com as formas convencionais de uma obra em prosa poderia parecer presunção se fosse intencional e sem precedentes. Mas a história da literatura russa, desde os tempos de Púchkin, oferece múltiplos exemplos que se afastam dessa forma a que poderíamos chamar europeia, não se limitando a oferecer-nos apenas um exemplo contrário. Desde "Almas Mortas" de Gogol até "A Casa dos Mortos" de Dostoievski, no novo período da literatura russa, não há uma única obra de arte em prosa, acima da mediocridade, que se ajuste à forma de romance, poema épico ou conto.
O carácter da época
Alguns leitores, após o surgimento da primeira parte, disseram-me que o carácter da época não estava suficientemente definido na minha obra. A esta crítica respondo o seguinte: sei bem em que consiste o “carácter da época” que alguns leitores não encontram na minha obra. São os horrores da servidão e da plebe, as mulheres encerradas entre quatro paredes, as chicotadas nos filhos adultos, etc. Não creio que este “carácter da época” que vive na nossa imaginação se ajuste à verdade e não quis representá-lo. Nos meus estudos de cartas, diários e tradições não encontrei nem atrocidades, nem violências maiores do que as que se podem encontrar hoje ou em qualquer outra época (…).» [Lev Tolstoi, em «Umas palavras acerca de Guerra e Paz», publicado em 1868, na revista «Antiguidade Russa».]


Ulisses, de James Joyce

«Ulisses» é um romance de referências homéricas, que recria um dia de Dublin, a quinta-feira de 16 de Junho de 1904, o mesmo em que Joyce conheceu Nora Barnacle, a jovem que viria a ser sua mulher. 

Nesse único dia e na madrugada que se lhe seguiu, cruzam-se as vidas de pessoas que deambulam, conversam, tecem intrigas amorosas, viajam, sonham, bebem e filosofam, sendo a maior parte das situações construídas em torno de três personagens. A principal é Leopold Bloom, um modesto angariador de publicidade, homem traído pela mulher, Molly, e, de modo geral, o contrário do heróico Ulisses de Homero.

Joyce começou a escrever esta obra em 1914, recorrendo às três armas que dizia restarem-lhe, «o silêncio, o desterro e a subtileza».

Depois de várias dificuldades editoriais, «Ulisses» seria publicado pela Shakespeare & Company, em Paris, em 1922, no dia de aniversário de Joyce.

«Mais do que a obra de um só homem, "Ulisses" parece de muitas gerações (…). A delicada música da sua prosa é incomparável.» [J. L. Borges, «James Joyce», 1937]

«As grandes obras em prosa do século XX são, por esta ordem, o "Ulisses" de Joyce; "A Metamorfose" de Kafka; "Petersburgo" de Béli, e a primeira metade do conto de fadas "Em Busca do Tempo Perdido" de Proust.» [Vladimir Nabokov]



As Longas Tardes de Chuva em Nova Orleães, de Ana Teresa Pereira

Excerto
«Blanche era sempre interpretada por actrizes mais velhas. Mas a personagem tinha uns trinta anos. Pegou nas páginas impressas e respirou fundo. Em Nova Orleães havia dois eléctricos, um chamado Desire e o outro Cemeteries. Para chegarmos ao nosso destino, tínhamos de passar do primeiro para o segundo.»

Crítica
«Esta é uma história intoxicada pelas sensações experimentadas no palco, seduzida pela vertigem do teatro, o qual fornece a sugestão do título do romance e lhe atribui as tábuas que as personagens pisam. Mas não por muito tempo. (…) As personagens de Ana Teresa Pereira estão permanentemente a deslizar entre a ficção e a realidade, e vice-versa – sempre a encontrar corredores que as sugam de um ponto para outro, ambos igualmente ínvios, igualmente terríveis. Com progressiva mas decidida anulação dessas categorias enquanto casulos calafetados – “Kate comprara um caderno barato e escrevera a peça, ao longo de duas noites” (p.43). Como o Orlando de Virginia Woolf, estas personagens parecem atravessar as eras – muitas vezes mantendo o nome.» [«Público»,«ípsilon», Hugo Pinto Santos]


A Porta Secreta, de Ana Teresa Pereira

Excerto
«— Gostava imenso de visitar a Quinta — observou a Sara.
— Não está aberta ao público — disse a mãe. — Nem sequer aos turistas. Não percebo porquê.
— Mas não vive ninguém na velha casa?
— Não, pertence a uma família inglesa que raramente vem cá. Creio que tem muitos móveis antigos, objetos de arte e quadros.
— Como um museu… — comentou a Sara.
— Se fosse um museu poderíamos visitá-la — disse o Miguel, com uma certa irritação na voz.
— Talvez se decidam a abri-la aos visitantes.
— Talvez — disse o Miguel, como se não quisesse falar mais no assunto.»


Um Jantar Muito Original, seguido de A Porta, de Fernando Pessoa



Livro do Desassossego (nova edição, org. Teresa Sobral Cunha), de Fernando Pessoa

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