Páginas

terça-feira, 27 de maio de 2014

«Sou Autista», de Josef Schovanec

Data de Publicação: Maio 2014
N.º de Páginas: 272

O Autismo foi considerado a «Grande Causa Nacional 2012» em França. O intuito era alertar e sensibilizar os cidadãos sobre a doença que nesse país era vista ainda de forma retrógrada e desinformada. Além disso o autismo era um tema que gerava controvérsia entre médicos em França, no que se refere à terapêutica mais adequada para lidar com a doença. Por um lado os psicanalistas viam e tratavam os seus pacientes autistas como psicóticos; por outro, os psiquiatras e associações de pais que lutavam com a doença, achavam que os autistas não eram «loucos», e que seguir uma terapia comportamental, behaviorista, — estimulando e recompensando os autistas a desenvolver as habilidades necessárias para actuar na sociedade — era o tratamento mais eficaz. O tema virou um escândalo em França nesse ano quando um documentário, intitulado Le Mur, foi difundido, e revelou-se uma crítica à má assistência ao autismo na França, de onde muitas famílias viajam até à Bélgica para dar apoio terapêutico aos filhos. No final desse ano em França, «o cliché de que o autismo é necessariamente uma criança presa em um mundo interior» ainda estava assente na mentalidade dos cidadãos, revelou recentemente num jornal francês, Josef Schovanec, de 33 anos, o autista autor do livro publicado em 2012 na França, Je Suis à L’Est!, traduzido pela Oficina do Livro como Sou Autista.
Neste livro o autor narra sobre como foi ser criança e adolescente, sendo desde cedo apontado pela sociedade como diferente dos outros. Ele aprendeu a ler e a escrever antes mesmo de saber falar e enquanto os outros meninos brincavam ele estudava e criava obsessão em assuntos como o Egipto, Astrologia e Metereologia. Enquanto os seus pais (de quem o autor refere muito pouco) espantavam-se e preocupavam-se com o seu génio precoce e apatia social, os médicos não conseguiam diagnosticar uma doença concreta em Josef, até ao fim da sua adolescência. Apenas diziam que poderia se tratar de um caso de esquizofrenia. Enquanto não lhe conheciam a doença de que padecia, Josef consultou psicanalistas e psiquiatras durante cinco anos, e fora-lhe receitado neurolépticos, que não deram resultado positivo. O autor diz que se tornara um verdadeiro toxicómano. A Síndrome de Asperger foi-lhe diagnosticada já ele tinha 22 anos e um doutoramento em Filosofia. Como Josef Schovanec lidou com a deficiência, como conseguiu arranjar um emprego, como nunca se deixou abater com os insucessos que o seu caminho lhe opusera, são questões que ao longo deste livro — que está dividido por nove capítulos e muitos tópicos — ele relata.
Sou Autista foi escrito com a colaboração de Caroline Glorion, uma conceptuada jornalista francesa, mas esta menção não vem no livro. Este é um dos primeiros senões apontados a esta obra. Josef critica os médicos, o sistema de saúde, os professores e, no geral, a sociedade francesa por não saber lidar com os autistas. Este relato está escrito com tom de admoestação e em partes do livro a divagação por temas abstratos torna-se maçante e faz desmotivar quem lê. Contudo o teor irónico e humorístico com que o livro foi escrito não deixa o pessimismo do autor sempre a reinar. Sou Autista é um livro pouco inspirador, por ter sido escrito com mágoa.

9 comentários: