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domingo, 5 de outubro de 2014

«Não Digas Nada», de Mary Kubica

Editora: TopSeller
Data de Publicação: 28/08/2014
N.º de Páginas: 336

«Todas as famílias felizes se parecem; as infelizes não.» Este famoso incipit de Anna Karenina podia ser o epítome adequado para o romance de estreia da americana Mary Kubica, de 36 anos, que desde os 12 sonha ter um livro publicado, embora só tenha até há bem pouco tempo revelado a familiares e amigos o seu gosto pela escrita. O seu desejo tornou-se realidade a 29 de Julho de 2014, quando a editora americana Harlequin publicou The Good Girl. A tradução para português do romance, Não Digas Nada, esteve a cargo de Maria Peres e tem o selo da TopSeller.
Os Dennet são ricos, vivem em Chicago e são a família retratada na história que decorre nos tempos actuais, contada em dois tempos diferentes separados por cerca de três meses, o antes e o depois do acontecimento do qual gira todo o romance, por três narradores: Eve, Colin e Gabe; são eles, respectivamente, a mãe, o raptor e o inspector responsável pelo sequestro de Mia, uma jovem professora de artes visuais. Quando os pais da jovem são confrontados com perguntas incisivas do inspector, sobre como fora a infância e adolescência da filha, Eve desfaz-se em remorsos por nunca ter apoiado a filha na crise de identidade por que ela passara, há anos, e que lhe moldara para sempre a sua índole rebelde, independente e destemida. James, o pai que sempre renegara a filha por ela não ter seguido a sua profissão, é um juiz de renome, ganancioso e corrupto, e um marido frio, que apenas vive para salientar o seu status quo. Nesta família desarticulada, fragilizada, abonada em bens materiais e afectada drasticamente no que se refere aos afectos, apenas sobra a irmã mais velha de Mia, a advogada Grace, a filha predilecta do patriarca. O sequestrador leva Mia da cidade para uma choupana abandonada no deserto remoto do Minnesota, no meio de uma floresta com um lago, onde as temperaturas são baixas. Nesse Outono ambos descobrirão que emocionalmente ambos são prisioneiros de traumas familiares antigos nunca esquecidos. Os dois ressentem-se e ainda sofrem do mesmo mal, das palavras não ditas, dos toques não sentidos, da indiferença entre pais e filhos.
Mia sobreviverá? Qual o motivo do sequestro? Respostas só conhecidas nas imprevisíveis e reviravolteantes últimas páginas deste thriller psicológico, romance soberbamente construído, quer na estrutura quer na veste psicológica dos personagens. Mary Kubica apresenta um romance delineado com todo o brilhantismo e rigor, que mostra como os acontecimentos traumáticos podem perdurar nas nossas mentes e causar efeitos destrutivos irreversíveis, quer no indivíduo quer em quem o feriu profundamente. Não Digas Nada: um notável romance de estreia.


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