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domingo, 7 de junho de 2015

«Todos os Pássaros do Céu», de Evie Wyld

Data de Publicação: Abril 2015
N.º de Páginas: 224

All the Birds, Singing, o título original do segundo romance de Evie Wyld, uma jovem mas já premiada romancista britânica, foi traduzido para português por Isabel Alves. Tendo como fundo narrativo no presente da acção uma remota ilha britânica, a história tem como protagonista Jake Whyte, uma jovem mulher australiana que oculta e vive aprisionada no seu passado, que desde as primeiras páginas nos indica ter sido tenebroso. Fisicamente apresentando características sexuais ambíguas, ela é a única mulher a trabalhar numa exploração ovina em Coastguard Cottage, Milford, mas mesmo estando no meio de homens brutamontes e promíscuos ninguém tem a audácia de se meter com Jake, devido à sua fisionomia robusta, fruto de flexões e abdominais que pratica diariamente. De todos os habitantes da pacata ilha onde a jovem, que na adolescência era alcunhada por Tarada e Fufa, decidiu vir morar ela pode esconder o seu passado, mas não de si própria, principalmente nas noites quando tem pesadelos e os seus demónios ressurgem e lembram-lhe de todos os seus medos. O seu verdadeiro terror ganha forma quando são encontradas macabramente espezinhadas várias ovelhas da sua exploração privada, e então a obsessão e o delírio passam a atormentar a mente desta mulher cicatrizada, física e psicologicamente.
A trama de Todos os Pássaros do Céu é contada através de capítulos alternados, incomumente o presente sendo trespassado, no evoluir da narração, para o passado da protagonista, onde a acção do romance está centralizada; esta técnica literária que Wyld adoptou potencia a curiosidade do leitor em conhecer o(s) episódio(s) traumático(s) vividos por Jake; e quando a autora desvenda mais alguma pista sobre o passado da protagonista, logo depois avança no tempo narrativo e prende em suspense novamente o leitor. Portanto, só nas últimas páginas é que todo o mistério é-nos, finalmente, revelado.
A frase que vem na página 201, «Nos meus ouvidos há um zunido, como se fossem pássaros, no meu peito um vendaval», pode servir de analogia para o impacto que no leitor este romance faz emergir. Seres voadores estão constantemente presentes, em segundo plano, ao longo deste romance, quando momentos perturbadores na acção são despertados, e agoiros, presságios e ameaças insurgem-se. Os pássaros estão sempre observando, cantando, e muitas vezes parecem ser capazes de intervir e alterar o desenrolar deste thriller inquietante e incomum, cujos contornos iniciais são estranhados, mas com um desfecho que se entranha. Outro ponto forte a favor de Evie Wyld é a linguagem poética e simultaneamente trágica com que compôs Todos os Pássaros do Céu.


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