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quarta-feira, 22 de julho de 2015

«Os Caminhos do Amor», de Charlotte Brontë

Editora: Europa-América
Data de Publicação: Agosto 2008
N.º de Páginas: 388

Os Caminhos do Amor, o segundo livro da escritora inglesa Charlotte Brontë (1816-1855),  conta a dramática e romântica história de duas jovens mulheres emancipadas para o seu tempo, Carolina Helstone e Shirley Keeldar, que embora tenham recebido educações diferentes e vejam o mundo de ópticas divergentes, se assemelham em tudo o quanto é relaccionado com os desígnios do amor.
Tendo como pano de fundo o condado de Yorkshire, a acção da história desenrola-se na década de 1810, num dos períodos mais sombrios da história da Inglaterra, tempo esse onde os efeitos da Revolução Industrial fazem-se sentir principalmente pelos operários fabris, que são substituídos pelas máquinas, dando azo à miséria, à revolta e ao ódio, principalmente contra os patrões das fábricas, que preferem ter menos mão-de-obra e mais receita. É o caso de Robert Moore, um industrial cuja fábrica têxtil fica na iminência de fechar portas, por causa da guerra. Este homem celibatário e destemido, «um homem frio e valente que se defendia com uma firmeza inquebrantável», tem trinta anos e é primo de Carolina, uma jovem tímida, pacata e frágil fisicamente e emocionalmente, que vive com o tio.
Até à página 119 do romance a autora apresenta ao leitor uma das histórias de amor que para a obra delineou, os seus intervenientes e o dilema que se impõe para que essa paixão não se consuma, a priori. É a partir desta página que outros dois personagens são chamados para elencar e protagonizar a segunda história de amor (que se entrelaça com a primeira) de Os Caminhos do Amor: Shirley e Luís Moore. Enquanto que Carolina é órfã e sem posses, Shirley é a herdeira de uma vasta fortuna, que inclui terrenos e propriedades dispersas um pouco por toda a redondeza. Ao contrário de Carolina, Shirley é uma mulher excêntrica, teimosa e que não tolera hipocrisia, o que lhe custará a inimizade de senhores da nata da sociedade e da Igreja. Estas duas heroínas se apoiam mutuamente como duas irmãs e enfrentam as vicissitudes que o destino lhes impõe, enquanto trilham os seus caminhos.
Shirley, título original traduzido para português por Adolfo Casais Monteiro, é um livro narrado na terceira pessoa, por uma voz omnipresente que interage com o leitor ao longo do romance. Expressões como «Ides vê-los, leitor.» e «Se esperas, leitor, achá-lo…» são exemplos de que a leitura é dinâmica e interactiva. Charlotte, a mais velha das irmãs Brontë, apresenta uma escrita fluida, sagaz e que não apresenta grandes dificuldades para acompanhar a trama. Uma das qualidades da sua escrita, que é seu apanágio, é a apresentação física e de carácter detalhada de todos os personagens que introduz na história e a relevância que incumbe em cada um deles para o bom entendimento da história. Ao finalizarmos a leitura, percebemos que cada um luta para encontrar a sua posição, cada um à sua maneira, na época de grandes mudanças que foi a Oitocentista, onde imperava as desigualdades entre classes e géneros.
Os Caminhos do Amor, publicado em 1849 (dois anos após A Paixão de Jane Eyre, que hoje é considerada a sua magnum opus), revela-se uma leitura agradável e recomenda-se.


Excertos
«Carolina Helstone tinha dezoito anos, e, aos dezoito anos, a vida real está prestes a começar. Antes deste tempo, vive-se na fantasia, numa maravilhosa ficção, deliciosa por vezes, muitas vezes triste, e quase sempre longe da realidade. Antes dessa idade o nosso mundo é heróico; os seus habitantes são ou semi-deusses ou semi-demónios; as suas paisagens são sonhos.» (p. 60)

«O amor fere-nos tão cruelmente, Shirley; causa-nos tais angústias, tais torturas, que as nossas forças são destruídas e devoradas pelas suas chamas; a afeição não tem tormentos nem chamas, mas é a consolação e o bálsamo.» (p. 165)

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