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sábado, 11 de julho de 2015

«Rosinha, Minha Canoa», de José Mauro de Vasconcelos

Editora: Booksmile
Data de Publicação: Maio 2015
N.º de Páginas: 264
Incipit: «Sempre acontecia assim: Zé Orocó sorria porque acabava de lembrar que a vida era pai-d-égua de bonita.»
Foi a partir do seu sétimo livro publicado que o escritor brasileiro José Mauro de Vasconcelos (1920-1984) passou a ser reconhecido pelo grande público. Rosinha, Minha Canoa (1962) é o título dessa obra, que embora possa ser lida por todo o tipo de leitores, é mais direccionada para os jovens adolescentes. A narrativa que é apresentada ao longo das duas partes que compõem o livro é simples, a escrita é dada a conhecer em prosa poética, e as mensagens que o autor quis transmitir através da história são muitas e plenas de profundidade, relacionadas sempre com dualidades: Homem versus Natureza, normalidade versus patologia, etc.
A acção de cada uma das partes com que José Mauro de Vasconcelos dividiu o romance são completamente opostas. A primeira passa-se no sertão e rio Araguaia, na ilha do Bananal (a maior ilha fluvial do mundo), onde os homens respeitam e coexistem com a Mãe-Natureza. É neste habitat, onde a flora e fauna vivem em estado selvagem, que Zé Orocó passa os seus dias na lavoura, onde dialoga com os pássaros e as árvores, e vice-versa, e a remar pelo rio na sua Rosinha, a canoa que um dia um velho índio oferecera-lhe. Por entender-se melhor com os seres não-humanos, Zé é tido pelos habitantes da ilha como um homem misantropo: «De repente dá uma tristura nele que num caba mais. Num fala cum ninguém. Num come. Parece que num vê, num ove.»
Tudo muda quando um dia chega a Araguaia um doutor, que vem saber dos queixumes de todos os habitantes por aquelas bandas. Com reticência, o protagonista da história, embora não se queixe de absolutamente nada que o constringe, a nível de doença, é levado pelo médico para a cidade, para se “curar”. Nesse lugar Zé terá que aprender que «Uma árvore é uma árvore e as árvores não falam». Este é o desenlace da primeira parte do livro, ‘Os Vegetais’, que atinge a página 154.
De ciclicidade, metamorfose e resistência, de amizade, ternura e sofrimento, fala este romance. Nos envolve, mexe com a nossa alma e faz-nos dar importância a coisas simples que por rotina passa-nos ao olhar, ao toque, à compreensão. Rosinha, Minha Canoa é um livro de linguagem simples e verdadeira, que mistura na dose certa dois mundos desiguais: o do sonho e o da realidade. Foi escrito por um autor sensível, um dos grandes nomes da literatura brasileira, para leitores sensíveis, independentemente das suas idades. Talvez algum do texto, que não acrescenta muito à história, pudesse ter sido purgado, encurtando a leitura e potenciando uma melhor compreensão da mesma. Indispensáveis mesmo, são passagens belas como as seguintes:
«Você vai achar a vida linda… sempre depois que chove…»;
«Era a vida. A vida se realizando em toda a sua plenitude, em toda a sua beleza.»;
«Nosso coração não esquece as coisas bonitas que criamos».

7 comentários:

  1. Este é um dos livros que merece ser lido por todos.

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  2. Adoro este livro, por o ver estou a pensar em reler.

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  3. li este livro aos 15 anos em 1970,foi a primeira leitura que me envolveu ate a alma,pois morava em sitio e numa viagem que fiz a S.paulo ,ganhei este l ivro,que li todinho na viagem de volta ao interior( de trem)para Araçatuba,ja reli varias vezes....e recomendo aos amigos e as pessoas que conheço...nos dias de hoje se faz necessario sonhar, voar alto para bem longe pelo momento que vivemos no brasil,lendo o " ROSINHA MINHA CANOA",com certeza vc se desligara por momentos e vivera o sonho de acreditar que ja existiram pessoas simples que amaram esta terra, e nao teriam destruido o de melhor que ja tivemos...............

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  4. Vou reler e comprar uma canoa e dar o nome de Rosinha

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  5. Lindo! Toca a alma e dói no coração!

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