«O Coração Também Pensa», de Susanna Tamaro

Edição: Editorial Presença

Data de Publicação: 17/02/2016
N.º de Páginas: 160

Un Cuore Pensante foi publicado em Itália pela editora Bompiani e foi traduzido para português por Maria das Mercês Peixoto e, como sempre, tem o selo da Presença, a editora que em Portugal se encarrega de fazer chegar aos leitores os livros de Susanna Tamaro ‒ são já mais de 20 títulos publicados.

Quem já leu alguns livros desta escritora nascida em 1957 e conhece minimamente a sua biografia, sabe que em cada livro seu há sempre uma grande parcela autobiográfica. Vai Aonde Te Leva o Coração e Para Sempre são dois exemplos bem ilustrativos; no primeiro, a sua relacção distante com a mãe e próxima com a avó e, no segundo, a sua vocação solitária e eremítica e de desprendimento perante os bens materiais.

Tamaro inicia este novo livro com a frase «Aprendi bastante cedo a ficar calada.», e ao longo dos vários textos breves, crónicas íntimas e pessoais, que preenchem na sua maioria página e meia, a autora, numa faceta sincera e sem filtros, conta o que o seu silêncio em criança e adolescente e início de vida adulta, transmitia.

«O grande, interminável, penoso silêncio da minha infância! Silêncio que era da boca, mas não do coração. Nas profundezas mais secretas da minha pessoa o diálogo era ininterrupto, e de uma intensidade quase ensurdecedora.» (p. 65)

São várias as confissões que Susanna partilha neste livro, como por exemplo, por ser uma menina diferente sofreu de bullying («Toda a minha infância foi uma fuga angustiante à vivência dos fortes, dos astutos, dos sádicos.»; «As lágrimas foram as companheiras fiéis da minha infância.»), a sua natureza andrógina e recusa em ser tratada como menina («Era feliz nas raras vezes em que conseguia fazer crer às pessoas em meu redor que era normal.»), o seu primeiro contacto com a morte, a sua primeira paixão, os momentos difíceis da sua existência em que perdeu o norte («Em certos momentos da vida acreditei realmente que ia enlouquecer de dor»; «Tornei-me o carrasco de mim mesma, um a um desci todos os degraus da destruição.») e a sua relacção próxima com a avó («Ela foi o farol da minha infância e da minha adolescência») e com o pai («um homem dissoluto»).

Nas últimas páginas de O Coração Também Pensa, que de certa forma é uma continuação do livro de memórias Todo o Anjo é Terrível, a escritora italiana divaga sobre o tema da religião, de Deus, da espiritualidade e do sentido da vida.

Citações

«(…) as perguntas que desde sempre me vinham à cabeça não tinham origem na mente, mas num descontentamento do meu coração. Era o coração que perguntava e a mente, prestativa, de um modo por vezes destemido, por vezes confuso, procurava responder.» (p. 56)

«Se conhecermos o sentido profundo do humano, a vida e a morte misturam-se e regeneram-se constantemente numa dança que só pode suscitar deslumbramento.» (p. 61)

«Cada um de nós torna-se aquilo que deve tornar-se precisamente em relação às carências e às fraquezas dos próprios pais.» (p. 76)