«Eu Existo», de Diogo Telles Correia

Editora: Pactor

Data de publicação: Outubro de 2015
N.º de páginas: 136

É do conhecimento geral que o medo e a ansiedade existem em cada ser humano a um nível variado em função das circunstâncias. Dado que a vida é sempre um processo de mudança, é normal que haja oscilações entre os estados de stresse a que estamos expostos, seja no meio familiar, quer seja no contexto profissional, ou outros. Quando a ansiedade, a tristeza ou outro estado emocional desestabilizador é contínuo e nos condiciona o nosso quotidiano, é sinal de que temos de procurar ajuda.

O livro Eu Existo é uma recolha de quatro histórias clínicas de pacientes que já não conseguiam lidar com o seu sofrimento. São casos testemunhados por Diogo Telles Correia, Médico Especialista em Psiquiatria e Psicoterapeuta, ao longo da sua carreira, e que originou esta obra chancelada pela Pactor.

O primeiro relato diz respeito a João, um jovem de 24 anos muito perfeccionista que sofre de Perturbação obsessivo-compulsiva, e que na primeira consulta desabafa: «quando “isto” começou... deixei de viver». “Isto” eram os seus pensamentos recorrentes em que se via a fazer mal a crianças, pensamentos esses, que por sua vez, despertava na sua mente correlações sobre a possibilidade de ser pedófilo ou homossexual, o que vinha a agravar o seu estado. Este jovem era seguido em Psiquiatria há 8 anos e já tinha passado por vários médicos e diversos diagnósticos (o autor considera os diagnósticos «importantes para orientar o tratamento, mas não para catalogar os pacientes»). Após várias consultas, com o apoio do doutor («tentei ajudá-lo a estruturar-se dentro de um casulo protetor»), as ideias e imagens obsessivas mais perturbadoras foram-se desvanecendo. «O caso do João foi um caso de sucesso», refere-nos o autor.

A Perturbação de personalidade, perturbação psicótica breve e Perturbação depressiva major são os diagnósticos dos pacientes Francisco e Francisca, os protagonistas das histórias 2 e 3 do livro. São casos que têm como focos centrais as repercussões emocionais que um divórcio e um luto em simultâneo, e o apego desmesurado numa pessoa, podem desencadear na psique.

A última história clínica que vem no livro, tem como “enredo” um jovem muito católico, que padece de crises de ansiedade, que na única sessão terapêutica realizada, não permitiu que o doutor ultrapassasse alguns limites da sua personalidade — aqueles que eram, talvez, os cruciais para o seu possível restabelecimento. A crença e o credo religiosos aliados às inquietações sexuais do paciente estão na origem deste caso clínico instigante.

Eu Existo, obra dotada de uma escrita envolvente e acessível, por vezes intimista, tem a mais-valia de não ser apenas um livro-relato; possui comentários e reflexões elucidativos e contundentes por parte de Diogo Telles Correia sobre cada caso.

É um livro que introduz-nos na mente de um psiquiatra, que é tão humano como os pacientes, e faz-nos vislumbrar as virtudes e os princípios da terapia, ao mesmo tempo que faz-nos reflectir sobre a singularidade de todos nós. Porque afinal, esses pacientes que existem para lá das suas perturbações, podem ser qualquer um de nós.

De referir que o autor lançou no início deste mês um novo livro, A Vida Num Degrau, onde o leitor poderá conhecer outras 4 histórias verídicas de quem ultrapassou a depressão.

«Porque é que a Psiquiatria é tão temida... em vez de ser vista como uma solução para o sofrimento humano?» (p. 56)