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terça-feira, 9 de maio de 2017

«A Verdade sobre a Mentira», de María Jesús Álava Reyes

Data de publicação: 10/03/2017
N.º de páginas: 296

Commumente ouvimos dizer que a mentira tem perna curta. Todavia, a maior parte das mentiras fica por reconhecer, é um facto. O acto de mentir vai contra os padrões morais de muitas pessoas e é tido como um pecado em certas religiões. Mas a verdade é que todos mentimos, diariamente, conscientemente ou não. Desde tenra idade — as crianças começam a mentir deliberadamente a partir dos 4 anos, dizem os estudos — que a mentira começa a fazer parte da nossa vida. Como nos afirma María Jesús Álava Reyes no seu mais recente livro, a frequência com que mentimos está relacionada com certas características da nossa personalidade.
Por que mentimos tanto nas relações afetivas e de casal? Esta é a pergunta que delineia todo o primeiro capítulo do livro, onde também ficamos a saber que são os homens quem mais mentem, segundo os estudos.
Como é habitual nos livros da psicóloga espanhola, são vários os relatos de casos reais de pacientes que passaram pelo seu consultório ao longo dos seus mais de 30 anos de experiência enquanto psicoterapeuta. A partilha de casos clínicos (estão salvaguardados as identidades dos pacientes e alguns os detalhes dos episódios verídicos são propositadamente alterados) são, sem dúvida, um dos aspectos mais estimulantes nas obras desta autora.
Podemos ler na página 84: «Uns mentem para enganar-se, para justificar a sua agressividade. No entanto, outros mentem diretamente para manipular, para explorar o outro.» São vários os exemplos clínicos sobre este tópico que a autora selecionou para apresentar, que revelam que as pessoas que mentem para se aproveitarem dos que estão ao seu lado revelam na sua personalidade algum tipo de narcisismo, psicopatia ou maquiavelismo (tríade obscura).
Das doze partes que constituem A Verdade sobre a Mentira, o capítulo quarto chama especialmente a nossa atenção e interesse: aborda as mentiras no trabalho. Quem nunca teve — ou tem — colegas de trabalho que mentiam — mentem — para nos prejudicar?
Eis os contornos gerais de um dos casos clínicos apresentados no capítulo: Jaime, um finalista do curso de Arquitectura que estava a ultimar o seu trabalho final, mentiu numa entrevista de trabalho ao afirmar que já podia assinar projectos, pois pensou que em algumas semanas isso já estaria resolvido. Quando ele chegou ao consultório de María Jesús Álava Reyes, estava muito debilitado e num dilema angustiante: Jaime, que não dormia há vários dias, não sabia como agir perante a iminência da sua mentira ser descoberta pelo chefe. Será que ele devia assumir o seu erro e assumir integralmente as consequências do mesmo? María Jesús Álava Reyes (autora, entre outros, de A Inutilidade do Sofrimento e Recuperar a Ilusão) é peremptória ao afirmar que «retirar importância à mentira é o pior que podemos fazer ao mentiroso.»
Nos capítulos 10 e 11, a autora apresenta os principais estudos e investigações que foram feitos sobre a mentira: o que acontece no cérebro quando mentimos, principais tipos de mentira, como detectá-las, etc.
A Verdade sobre a Mentira revela-se uma obra útil, de fácil leitura e que faz-nos consciencializar sobre a maior das mentiras: aquela em que nos autoenganamos mentindo a nós mesmos: «As mentiras que causam mais infelicidade e que são mais difíceis de erradicar são as que dizemos a nós mesmos.»


Excertos
«Em geral, as pessoas mentem quando creem que lhes compensa, que ganham alguma coisa ao fazê-lo, mas também quando consideram que dessa forma evitam uma censura, uma admoestação ou uma sanção.» (p. 21)

«As mentiras na esfera da sexualidade são muito dolorosas e, ao contrário do que poderíamos pensar, muito numerosas.» (p. 42)

«O mentiroso compulsivo não para diante da verdade, nem diante da injustiça. É capaz de mentir sobre qualquer facto que se interponha no seu caminho e o afaste dos seus objetivos.» (p. 207)

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