Editora: Marcador
Data de publicação: 21/09/2017 N.º de páginas: 72 |
Um novo título do escritor Eric-Emmanuel Schmitt (n. 1960) já está disponível. Milarepa foi originalmente publicado em 1997 e chega agora aos leitores portugueses pela Marcador, editora que já tem no seu catálogo outras três obras deste que é um dos autores franceses mais lidos. A tradução deste título é assinada por Possidónio Cachopa.«Tudo começou por um sonho.» Assim inicia-se esta narrativa curta que tem como protagonistas Svastika e Simão, que partilham a mesma alma, mas estão distanciados por vários séculos. O primeiro é pastor e viveu no Tibete no início no século XI; o segundo vive em Paris, na era actual. No sonho que incrusta recorrentemente as noites de Simão, e que agora narra ao leitor, ele revê-se na veste de Svastika, o tio irascível de Milarepa (1040-1123), um iogue, poeta e um dos santos budistas mais venerados pelos tibetanos (esta personagem não é ficcional).Na história, o pai de Milarepa, então com seis anos, morre, e a criança e a sua fortuna são deixadas sob a tutela do tio. Mas Svastika «decidira que nunca mais o pequeno Milarepa voltaria a sorrir (…) Eu odiava-o.» Assim, até o pequeno rapaz atingir a maioridade, o ódio e desprezo reina na casa deles. Até que Milarepa, ao fazer-se homem, sai de casa e aprende feitiçaria e, por vingança, usa-a contra os seus inimigos, principalmente contra o seu tio.No entanto, impulsionado pelos remorsos e purificado pelas provas impostas pelo Grande Marpa, o grande mestre budista tibetano a quem pediu para ser discípulo, Milarepa, ao seguir uma vida de eremita, casta, frugal, consegue atingir o nirvana graças aos ensinamentos recebidos pelo mestre. Na sua jornada de meditação e amadurecimento, que dura décadas, ele aprende que «o mal é mais fácil de fazer do que o bem, o mal é rápido, sem esforço, mas é uma cola que não se solta tão depressa.»Será que Milarepa consegue perdoar o tio, pela raiva que lhe rogara, inadvertidamente e infundadamente, ao longo da vida?Em Milarepa, obra já traduzida para mais de vinte idiomas, o autor se debruça sobre duas antíteses: o bem e o mal; e ao longo de pouco mais de 70 páginas, passa a mensagem de que a maldade gratuita quase sempre tem a ver com a inveja. Podemos também absorver desta história - que deixa muitas respostas em aberto - que o Karma (princípio de causalidade que afirma que qualquer acção boa ou má gera uma reacção ou consequência, na vida presente ou numa encarnação futura) age e se manifesta mesmo em nossas vidas.«Aqueles que estão cheios de desejos e de rancores vulgares não podem fazer nada pelos outros. E não fazem nada de útil por si mesmos. É como se um homem arrastado pela corrente tentasse salvar os outros.» Este é um dos ensinamentos principais desta história curta mas intensa, contada através de monólogo, que fala sobre transmigração de almas.Citações«Descobria que não estava só quando estava sozinho.» (p. 44)«Nada é permanente, nada é real.» (p. 45)«Nada é permanente neste mundo; tudo é atingido pelo efémero.» (p. 62)
Olá, Miguel,
ResponderEliminarLi recentemente este livro e gostei bastante. Embora curto, tem mensagens universais e um ponto de partida interessante para alguma da história cultural do Tibete.
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