Editora: ASA
Data de publicação: Fevereiro de 2018N.º de páginas: 336 |
FactosEm finais do ano de 1926, a criadora de Hercule Poirot tinha já publicado sete livros. Embora o seu romance policial O Assassinato de Roger Ackroyd, publicado no início do Verão desse ano, tivesse recebido as melhores críticas da imprensa e dos leitores (actualmente é tido como um dos seus melhores trabalhos), o seu nome ainda não era bem conhecido no meio literário internacional.Além de Agatha Christie estar a ser afectada por falta de inspiração para escrever o seu próximo livro (O Comboio Azul, que veio a ser publicado em 1928 e que a autora o consideraria o seu pior romance), a nível pessoal a sua vida não estava a correr bem: nesse malogrado ano de 1926 a sua mãe havera falecido e o seu marido, Archie, lhe dissera que queria pôr um ponto final no seu casamento de 12 anos, para ficar com a amante, Nancy Neele.O que uma mulher ainda a processar um luto penoso, magoada e enganada, com sinais de estar a passar por um colapso nervoso, é capaz de fazer?Agatha Christie engendrou inúmeros mistérios através dos seus livros, todos solucionados, mas há um enigma que permanece por ser desvendado ao fim de quase 100 anos, que diz respeito ao que aconteceu verdadeiramente nos 11 dias que ela desapareceu, de 3 a 14 de Dezembro de 1926. Agatha raramente falou deste episódio da sua vida e omitiu-o completamente na sua autobiografia.Muito se especulou ao longo dos anos sobre o que, ou quem, terá sido a causa do seu misterioso desaparecimento que teve início quando o carro da romancista foi encontrado num lago, em Surrey, no sudeste de Inglaterra, no dia 4. Muitas teorias têm sido evocadas para o seu sumiço, sendo que as mais mencionadas são: ela planeava se suicidar; vingar-se do marido, saindo do mapa e fazer com que ele senti-se remorsos; e perda de memória — a versão que a família dela revelou à imprensa uns dias após ela ter sido encontrada hospedada sob falsa identidade num hotel, em Harrogate, no norte de Inglaterra.Vários filmes e livros de não-ficção já tiveram como plot este intricado enredo real protagonizado pela Rainha do Crime; são exemplos o filme Agatha (1979), do director Michael Apted, e o livro Agatha Christie and the eleven missing days (2006), de Jared Cole. Referir que Agatha Christie se opôs à realização do filme e tentou fazê-lo parar.O livroO romancista e biógrafo Andrew Wilson, numa tentativa ousada e arriscada, reinventa em Talento Para Matar - O mistério de Agatha Christie, uma obra (também) não autorizada por Agatha Christie Lda, o que se terá passado nesses 11 dias que fizeram — e ainda fazem — correr muita tinta.Embora este livro seja um romance, o autor quis tentar assegurar-se de que os factos em torno do desaparecimento são exatos e plausíveis. Para tal, baseou-se em pesquisas em jornais, registos policiais e testemunhas da época. E claro, põe em marcha a sua imaginação.De forma resumida: este romance inicia com a visita de Christie ao seu editor. No caminho de regresso para Styles, a sua casa, ela é abordada por um médico lunático e megalomaníaco, que lhe diz: «Tenho a certeza de que a senhora possui uma mente criminosa de primeira categoria. Parece saber como funciona o cérebro de um assassino.» Logo depois chantageia-a, dizendo que tem um plano, maquiavélico, que só ela pode executar, pois confia no seu talento para matar: «A senhora, Mrs. Christie, vai cometer um assassínio. Mas antes disso vai desaparecer.»Com voltas e reviravoltas, suspense e enigmas, pastichando com brio o estilo dos romances policiais da escritora britânica cujos livros já venderam cerca de quatro bilhões de exemplares até os dias de hoje, Andrew Wilson, que já assinou as biografias de Patricia Highsmith, Sylvia Plath e Alexander McQueen, em Talento Para Matar - O mistério de Agatha Christie (originalmente publicado em Julho de 2017), apresenta um trabalho meritoso, plausível e escrito de forma que cativará o séquito de fãs de Agatha Christie.Referir que já foi dado à estampa no dia 13 deste mês no Reino Unido, um novo romance de Andrew Wilson, A Different Kind of Evil, que tem novamente Agatha Christie como personagem principal.
Sem dúvida misteriosamente apaixonante!
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