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terça-feira, 23 de outubro de 2018

«Mãe, promete-me que lês», de Luís Osório

Editora: Guerra e Paz
Data de publicação: Setembro de 2018
N.º de páginas: 160

Dez anos após a morte da sua mãe, o jornalista e escritor Luís Osório decide escrever aquele que é o «livro mais arriscado e mais doloroso» do seu percurso literário, que conta com seis títulos publicados, entre eles Só Entre Nós (2012).
Mãe, promete-me que lês é um livro-carta íntimo e pessoal, escrito por um filho que, aos 46 anos, deseja celebrar a sua mãe, dizendo a ela o que ficou por dizer, e assim, afastar-se de uma vez por todas dos “demónios” que o assolam.
Milú, «a mulher que conheci, detestei e amei», esta é a mulher a quem Luís dedica as 160 páginas deste livro publicado pela Guerra e Paz, onde a sinceridade e verdade permeiam os parágrafos, frases e palavras.
«Que urgência a de te escrever esta carta? Uma carta que quero partilhar com o mundo, com os meus leitores, com os que acham que valho a pena e deixarei uma marca.»
A mulher central a quem esta epístola é, de forma geral, endereçada, passou a infância e parte da adolescência num lugar onde não podia ser livre. A futura mãe de Luís tinha um sonho: o de poder vir a ser uma artista quando já não estivesse à mercê dos cuidados de pessoas que vestiam batas brancas e principalmente dependente dos lugares para onde seus “fantasmas” a levavam. Regressada a casa, foi rejeitada por uma mãe que já não a reconhecia. Tempos depois, fruto de uma relação fugaz com José Manuel, esta mulher sonhadora dá à luz. Luís Miguel nasce e logo depois os fantasmas regressam… e Joaquina, a mãe de Milú, «ousa» “roubar-lhe” o filho. E a avó torna-se na mãe (e no pai) que Luís não tem.
«Uma mulher extraordinária que me ensinou a dar valor às coisas que não se têm de dizer.»
Outras pessoas, memórias, revelações e até a transcrição de outras cartas povoam esta longa carta catártica, onde as mais pungentes emoções e sentimentos que regem as relações humanas sobressaem de forma visceral: raiva, angústia, ressentimento, solidão, alegria, saudade, gratidão. Ao longo das páginas, o escrevedor questiona a sua mãe sobre diversos assuntos e conta-lhe os mais importantes acontecimentos que lhe surgiram na vida desde que ela partiu: a sua relação com a nova companheira, o seu filho mais novo, o seu primeiro livro de ficção, etc.
Mãe, promete-me que lês, um livro que parece não existir um género para o catalogar, é um belíssimo testemunho de amor de um homem a uma mãe, e à vida. Luís Osório revela neste livro (já na 2.ª edição) ser uma pessoa e um escritor com muita sensibilidade e um mestre em congeminar as palavras certeiras para transmitir (os seus) sentimentos e ideias.
Com certeza Mãe, promete-me que lês não deixará ninguém indiferente. Ainda bem que o autor não desistiu de escrever esta carta, como confessa à progenitora — e aos leitores. Para término — e porque ao chegar ao fim da leitura achei certeiro —, transcrevo e assino por baixo a afirmação de Luís Osório vinda no livro: «Nunca é nas palavras que se prova o talento de um escritor. É naquilo que fica depois das palavras se terem evaporado.»

Excertos
«Era amor, e o amor, quando o é, pode durar apenas um dia. (…) amor não tem prazo de validade, se o tentamos aprisionar já não é amor» (p. 39)

«Os meus mortos continuam em mim, mãe. Escuto-os no silêncio, nas suas rotinas, nas palavras que me ensinaram, nas imagens que os perpetuam.» (p. 60)

«O sopro de vida é esmagador para quem sente um corpo partir, num momento amparamos a vida, no segundo a seguir, amparamos um boneco inanimado. O que se parte no que em nós se parte? O que nos dá corda? Tens uma resposta?» (p. 156)

7 comentários:

  1. Deve ser uma obra literária muito emotiva e tocante, claro que para o escritor que expressou as suas mágoas mas também para o leitor...

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  2. Gostei tanto do "Quanto Tempo" ...
    Acho que deste ainda gostarei mais.
    Teresa Carvalho

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  3. Luís Osório: um autor cuja sensibilidade nos surpreende e comove.

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  4. Gosta muito de ler este livro ...quem sabe se não é o próximo

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