Um macaco bêbedo num camarote de ópera...
Uma vila onde gostamos de cheirar o mofo das cadeiras velhas...
Um patriotismo que não é nacionalista, nem reacionário...
Está tudo nos três novos Retratos da FFMS (Fundação Francisco Manuel dos Santos) que acabam de ser publicados: O macaco bêbedo foi à ópera, de Afonso Cruz, Vila medieval, de Marta Prista, e Quinas e castelos, de Miguel Metelo de Seixas. Seguem os textos sinópticos de cada livro.
No início... houve um macaco espertalhão que desceu da árvore para comer frutos caídos no chão, mais maduros, logo, mais doces, logo, mais fermentados, isto é, com um leve cheirinho a álcool. Outros macacos se lhe seguiram e, com o aumento das calorias consumidas, foi um passo até que lhes crescesse o cérebro, a coluna se endireitasse e as mãos se libertassem. Mais um passo... e estávamos a ir à ópera.
A teoria que coloca o álcool na origem da evolução humana justifica a nossa insaciabilidade milenar. É dela que parte o escritor Afonso Cruz para este retrato inusitado da civilização acumuladora, gananciosa e um tanto louca na qual desembocámos. Do macaco original à criação da cerveja, que impulsionou a sedentarização e cativou Jesus Cristo, assistimos ao desenrolar das consequências do consumo de álcool. Da embriaguez à civilização, a nossa história nunca foi contada assim.
E eis que a Vila Medieval dá forma a um imaginário de rainhas e castelos, torna reais as capas de livros de estórias lidos em criança, confirma as ilustrações dos manuais da escola, lembra as lições do Salazar… Ou, não.
Espalhadas pelo território nacional, descuradas ou transformadas em programa de entretenimento ao ar livre, entre guizos e cascos de cavalos que puxam charretes de turistas ou carros comuns e de feno, em epicentros de especulação imobiliária, abandonadas ou só deixadas estar, as vilas portuguesas da Idade Média convocam imaginários e materialidades, memória e esquecimento, encontros e perdas.
Este é o retrato de uma Vila Medieval que os discursos e as experiências de quem a habita e a visita, de quem a regula ou a regista, construíram como património. Conta uma história entretecida a várias vozes, mas a que escapam sempre outras, do passado ou ainda por vir.
Os cidadãos portugueses decerto conhecem os símbolos visuais identificativos do seu país: a bandeira verde e vermelha carregada, na partição das duas cores, com o escudo das quinas e dos castelos sobreposto a uma esfera armilar. Quantos, porém, sabem explicá-los e traçar-lhes a história?
Como se chegou até aqui? Como é que, desde os longínquos tempos medievais, se formaram os sinais visuais identificativos da comunidade política portuguesa, ainda hoje perpetuados? E, sobretudo, como foram esses sinais compreendidos, apropriados e difundidos pelos agentes do poder político ou pelos seus observadores, utentes, destinatários ou glosadores?
Neste livro, pesquisa-se como se foi construindo, desde a origem até hoje, uma diversidade de sinais de natureza visual que serviram para identificar a comunidade política portuguesa. À procura da sua função e do seu peso na memória colectiva nacional.
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