Editora: Caminho
Data de publicação: 30-05-2023N.º de páginas: 176 |
Vinte e cinco anos depois, a Editorial Caminho apresenta a 6.ª edição revista e aumentada de A Arte da Fuga, um dos livros mais conhecidos do psiquiatra Daniel Sampaio (n. 1946).
Este é o relato de uma psicoterapia iniciada em Janeiro de 1998, que tem como paciente um ilusionista de 25 anos chamado Phil, que vem ter com o Doutor para curar a sua violência desmesurada. Quando Daniel Sampaio o recebe no seu gabinete médico, refere: «Ao fim de mais de vinte anos de prática psicoterapêutica, depressa me apercebo se vou estar disponível para lutar pela pessoa que tenho à minha frente.»
A história de Phil estava repleta de conflitos familiares e amorosos, e marcada por períodos de isolamento social. A sua paixão pela sua actual namorada não tinha limites: «A nossa história é amor, ciúme e lágrimas.»
Ao longo de sessões semanais, em que foi-se estabelecendo uma aliança terapêutica, o autor começa a perceber que no fundo daquele homem inquieto e violento estava uma criança insegura e perdida: «Disse-lhe que iríamos fazer uma viagem juntos, eu seria o guia e ele o viajante. O nosso destino era um pouco incerto, mas construído a dois.»
Como o psiquiatra e psicoterapeuta partilha com o leitor, só através de uma interiorização dos nossos comportamentos é que será possível obtermos uma mudança. Será que este paciente conseguirá ultrapassar a sua pulsão tumultuosa e olhar para a sua namorada como uma mulher e não como uma posse sua?
A Arte da Fuga, 25 anos depois testemunha um psiquiatra que é tão humano como o paciente, que nos mostra que podemos voltar a encontrar um porto de abrigo, mesmo quando enfrentamos dissabores.
Nesta obra, escrita com uma notória franqueza, Daniel Sampaio, um dos introdutores da Terapia Familiar em Portugal, descreve, através do seu olhar observador e acutilante, o estado em que se encontra o seu gabinete médico («parte da parede (…) estava deslocada», «os cortinados tinham bolor») e todo o ambiente da sua ala hospitalar: os delírios dos doentes que vão passando pelo corredor, a hipocrisia dos colegas, os mexericos dos auxiliares de ação médica.
Excertos
«A psicoterapia é um processo de intimidade que requer muito tempo e que exige uma partilha permanente. Como o amor.»
«Uma experiência de intimidade põe-nos em profundo contacto com o outro, partilhando vivências em várias áreas (…) quase sempre com a esperança de que essa mútua construção do real não acabe depressa e nos devolva a solidão de que fugimos.»
«No decurso de uma psicoterapia em que foi possível estabelecer uma sólida aliança terapêutica, é possível que terapeuta e paciente entrem numa sintonia de reflexões internas geradoras da mudança pretendida.»
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