Sinopse: «Nesta magnífica adaptação do romance de Emmanuel Royidis, Lawrence Durrell narra a marcante e insólita história de uma jovem mulher que viaja por toda a Europa do século IX disfarçada de monge, ela acaba a comandar os destinos da cristandade durante dois anos como Papa João VIII, antes de morrer de forma repentina e surpreendente. Quando Papisa Joana foi publicado pela primeira vez em Atenas, em 1886, criou enorme polémica: o livro foi proibido e o autor excomungado. Apesar disso, e também por isso, a obra e o autor ficaram famosos, e Papisa Joana tornou-se um marco na história da literatura grega moderna. Posteriormente, Durrell, um dos mais importantes escritores britânicos do século XX, traduziu e adaptou o texto, criando uma obra de arte com cunho próprio.»
Opinião:
A história da Papisa Joana foi publicada pela primeira vez em Atenas, em 1886, ou seja, dez séculos depois do ocorrido. Esse relato criou estrondosa polémica na altura e tem-se estendido até aos dias de hoje. Claro que para os lados do Vaticano essa não passa de uma história inverosímil. É claro! E é por isso que no documento oficial de registo dos papados, desde o papa Pedro, no século I, até aos nossos dias, não esteja lá o nome de João VIII (Joana).
No século IX as mulheres eram tratadas como indigentes e por isso ver uma mulher num cargo religioso, nem em sonhos emanava na cabeça do povo.
Agora estamos no século XXI, e a mim parece-me que a mulher, no que respeita à Igreja, seja tratada com a mesma rispidez.
Porque é que a mulher não ascende na hierarquia na igreja?
Nesta obra, Lawrence Durell, o autor deste romance dá-nos a conhecer a demanda de Joana desde os primórdios da sua adolescência até à sua soberania papal, numa sua versão dos factos.
Desde o início e pela leitura fora, o narrador/ autor cria um elo de empatia com o leitor:
“Já lhe aconteceu, caro leitor, após ter passado um dia inteiro a ler um romance, o livro escorregar das mãos enquanto a sua mente divaga em comparações entre o passado e o presente, desejando poder reviver aqueles tempos…?”
“Mas nem você, caro leitor, nem eu, temos tempo a perder.”
“Aprecia um bom vinho, caro leitor?”
Neste romance temos uma visão da civilização, modos e costumes, pensamentos dos filósofos da altura e de um modo geral, o vislumbre de uma Europa do século IX. E a isso se deve devido à caminhada de Joana da sua terra natal até Roma. Claro que neste hiato passam-se anos e anos e a jovem Joana veste-se e age como um João.
Joana é uma personagem culta, inteligente, apaixonada, ávida de sabedoria e uma estudiosa exímia das questões eclesiásticas, teológicas e filosóficas. Com uma avidez tão segura e ambiciosa, logo torna-se uma pessoa de erudita, com conhecimentos profundos e nas mais vastas áreas. Joana foi alvo de inveja e inimizade por parte dos monges e bispos de Atenas e/a Roma.
Foi também devido à sua intelectualidade e eloquência que foi apresentada, claro, como Joao, ao papa Leão IV, tendo depois sido seu fiel camareiro.
“Aos poucos e poucos os eremitas das montanhas começaram a descer à cidade.”
“Joana muitas vezes derramou lágrimas sobre páginas dos livros que lia ao pensar que toda a sua sabedoria e inteligência pudessem permanecer desconhecidas.”
O livro é composto por quatro partes. As três primeiras são fruto da imaginação do autor, como salienta :
“Os materiais desta história, até aqui, se devem à minha imaginação, passam agora a ser seleccionados entre as obras de eminentes cronistas! E se, por acaso, achar esta parte do livro mais aborrecida do que as anteriores, desde já, reconhecido, agradeço, caro leitor, pela sua preferência.”
A quarta parte foi muito boa de ler, nada aborrecida. No meu ver o autor, nas primeiras partes, aborda demasiado o mundo pagão, os deuses, os filósofos, os santos, os escritores de então, as cidades, os costumes e tradições, esquecendo muitas vezes da heroína. Claro que sempre, sempre é bom o leitor ficar com mais informação, mas é por isso que há livros e livros.
Fazendo uma comparação, inevitavelmente entre este romance e o da escritora Donna Woolfolk Cross, (ao qual podem ver aqui o meu comentário), é indiscutível que este último seja de maior precisão sobre a Joana, a mulher, a apaixonada e a heroína, que luta pelo seu amor à igreja, à sapiência e que camufla a sua própria identidade, em prol da sua convicção.
Prós: Relacção narrador/autor e leitor muito cooperativa, o que torna a narrativa menos pesada, visto ser um romance histórico, da era medieval.
Contras: Deambulação excessiva do autor, acerca de aspectos exteriores à demanda de Joana até ser papisa. Se o livro fosse menos escasso em páginas e conteúdo, talvez não fosse tão saliente este ponto.
Ganhei este livro num passatempo do blogue do Marco Caetano http://conspiracaodasletras. blogspot.com/. Um obrigado!
Fiquei com a ideia que o livro seria um bocadinho pesado, tentando enquadrar-se na época e dando um vislumbre mais que geral dela. À partida, livros demasiado filosóficos tendem a ser mais aborrecidos... ;)
ResponderEliminarOlá Miguel,
ResponderEliminarObrigado pela referência ao Conspiração das Letras.
Estava à espera desta recensão para perceber o que achavas relativamente à obra de Donna Woolfolk Cross!
Mas acabei por não perceber de qual gostaste mais e em que é que são diferentes?
Podes dar uma ajuda a perceber?
Um abraço,
Marco
Caro Marco
ResponderEliminarFazendo um paralelo entre as duas obras, na minha visão o livro "A Papisa Joana" da Donna Woolfolk Cross é mais completo, com pormenores brilhantes acerca de Joana e de todo o seu percurso de vida. É umm dos livros mais fascinantes que já li!
O "Papisa Joana" do Lawrence D. não foi uma má leitura, de todo. Mas como tem poucas páginas, não temos uma visão fulcral e concisa da personalidade de Joana, a heroína.
Sem dúvida que recomendo o da Donna W.
Abraço
Tenho-o aqui em casa por ler, mas não passa do ano que vem...
ResponderEliminarGostei do teu comentário ;)
Obrigado Paula
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