A partir de hoje, dou início – no blogue - uma nova rubrica de
entrevistas a escritores.
O estreante deste novo espaço é o autor Joel Neto, a
quem agradeço desde já, ter aceite o meu convite e atenciosamente ter
respondido às perguntas seguintes.
Foto: Pedro Loureiro
Doze anos
após a publicação do seu primeiro romance, “O Terceiro Servo” (2000), o Joel
acaba de lançar um novo livro, “Os Sítios Sem Resposta”. Conte-nos um pouco
acerca dele.
Fala
de homens devastados e da paixão do futebol como linguagem possível entre eles.
Como refúgio emocional, talvez. Fala de um pai e de um filho que têm no amor a
um mesmo clube de futebol a forma ideal de se dizerem mutuamente que se amam
sem terem efectivamente de verbalizá-lo. E fala da traição que esse filho
comete para com esse pai, mudando de repente de clube.
O Miguel
João Barcelos – protagonista do romance – tem alguma quota-parte de traço
biográfico?
Tem.
Não o escondo: o Miguel João Barcelos tem bastante do Joel Neto. Mas penso que
o Pedro e o Alberto, até a Glória, a Cristina, a Cláudia e a Andreia também.
Todas as personagens dos nossos livros são, até certo ponto, alter egos para nós próprios.
Como é que surgiu o título “Os Sítios
Sem Resposta”?
É
um verso do Tolentino Mendonça, seu conterrâneo. Surgiu por furto qualificado.
Usei-o sem autorização. Entretanto, enviei um livro ao autor e agora estou
sentado, à espera da sentença. Não tenho atenuantes nem vou recorrer.
Regressa à
ficção dez anos depois d’“O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas” (2002), que
teve boa recensão por parte da crítica. Porquê um hiato tão extenso?
Precisava
de ler, de melhorar a minha escrita, de amadurecer. E precisava que a vida me
reencaminhasse para aqui. Penso que não volto a fazer um hiato tão grande.
O
Joel Neto escreve em diversos jornais e revistas; tem um sítio na Internet; é
blogger; tem conta em várias redes socias. Que peso tem o mundo da Internet e
das críticas literárias em sites e blogues para a promoção (ou não) de um
autor?
Não
sei. A ver se o percebo agora, a partir desta entrevista (risos). Uma coisa
parece-me provada: as redes sociais não vendem livros.
Nasceu
em Angra do Heroísmo e cresceu e vive(u) na ilha Terceira. De algum modo essa
vivência de “ilhéu” influenciou ou inspirou o seu modus operandi na escrita?
Influenciou
o conteúdo dos meus livros, seguramente. O meu modus operandi, se bem entendo a
pergunta, talvez não muito. Mas não tenho a certeza.
Esteve
recentemente no Festival Literário da Madeira. Qual o seu feed back sobre o
evento?
Foi
um evento extraordinário, muito bem organizado, com bastante público e, apesar
disso, surpreendentemente íntimo. Foi uma honra participar.
Quais as
suas maiores referências literárias?
Não
sei dizer. Tudo o que lemos nos influencia, inclusive os bilhetes da empregada
a dizer que há comida no frigorífico. Mas, assim de repente, eu diria talvez os
romancistas anglo-saxónicos.
Como vê o
momento actual da Literatura em Portugal?
É
um momento muito pujante, penso eu. Mas continua a faltar diversidade à nossa
literatura. Nem tudo devia ser formalismo. Tem de haver mais espaço para o
romance clássico. E também devemos procurar uma literatura popular de
qualidade, sem a qual continuaremos mais pobres do que poderíamos ser.
Considera
“Os Sítios Sem Resposta” o seu melhor livro?
Sim.
De muito longe.
Não conhecia este escritor Miguel.
ResponderEliminarVou estar atento a esse novo livro dele.
Fica bem e parabens pela iniciativa
http://www.rtp.pt/noticias/?article=543370&layout=122&visual=61&tm=4
ResponderEliminarEstou de acordo quanto à "literatura popular de qualidade". Portugal parece-me ser um país de extremos: ou se publica literatura muito erudita, ou livros muito comerciais, sem qualidade. Não há um meio termo. As pessoas compram essa literatura erudita, mesmo que não a leiam, para a pôr na estante. E lêem "O Segredo", ou coisas assim.
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