Como árvore que souComo árvore que souadormeço a sossegar as minhas folhas eos pássaros transparentes que se agitam nos ninhosda minha inquietação.Sei de cor os sonhos dos ventosque balançam este corpo troncoonde dedos vegetais bastamo rumor das seivas silenciosas. A noitepropaga o ardor da ternura até às minhas raízesque vão bebendo lentamente as lágrimas de um vento azul,cuja dor deambula sobre as pedras, em oração à terra,para vir confortar-se em silêncio no mais fundo de mim.Escondo por dentro do nada os segmentos de estrelasque restaram da partida dos pólenes. Flutuamna quietude das noites claras onde a chama do leitode açúcares permanece, visível no limbo da noite.Demoro neste entorpecimento idealizado o termo, osrenovados filhos da gravidez da terrae do incontrolado cio dos relâmpagos. Em mimo verde se transforma em música, essa música sem tempo,que lembra toda a noite da floresta, toda a serenidadedos lagos, toda a doçura do ventre das baías.Como árvore que sou, amo o vôo do pássaro e alonjura da terra. E sou a terra. E sou o pássaro.E a raiz do amor. E a raiz da sombra. E a raiz solarque me erguerá até à luz que me fascinae me beija docemente a cabeleira lavadade esperança. Sou a árvore. Um riode vida que sobe lentamente.
Lília Tavares e Joaquim Pessoa
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LINDO!!!
ResponderEliminarMiguel, és um querido, ao quereres registar os meus rabiscos que com as palavras do Poeta se transformaram em poema.
ResponderEliminarGrata também estou ao amigo José-António Moreira que coloca voz de folhagem, brisas e ternura no que tão bem lê.
Abracinhos aos dois.
Lília Tavares