Como árvore que sou
Como árvore que sou
adormeço a sossegar as minhas folhas e
os pássaros transparentes que se agitam nos ninhos
da minha inquietação.
Sei de cor os sonhos dos ventos
que balançam este corpo tronco
onde dedos vegetais bastam
o rumor das seivas silenciosas. A noite
propaga o ardor da ternura até às minhas raízes
que vão bebendo lentamente as lágrimas de um vento azul,
cuja dor deambula sobre as pedras, em oração à terra,
para vir confortar-se em silêncio no mais fundo de mim.
Escondo por dentro do nada os segmentos de estrelas
que restaram da partida dos pólenes. Flutuam
na quietude das noites claras onde a chama do leito
de açúcares permanece, visível no limbo da noite.
Demoro neste entorpecimento idealizado o termo, os
renovados filhos da gravidez da terra
e do incontrolado cio dos relâmpagos. Em mim
o verde se transforma em música, essa música sem tempo,
que lembra toda a noite da floresta, toda a serenidade
dos lagos, toda a doçura do ventre das baías.
Como árvore que sou, amo o vôo do pássaro e a
lonjura da terra. E sou a terra. E sou o pássaro.
E a raiz do amor. E a raiz da sombra. E a raiz solar
que me erguerá até à luz que me fascina
e me beija docemente a cabeleira lavada
de esperança. Sou a árvore. Um rio
de vida que sobe lentamente.
Lília Tavares e Joaquim Pessoa
Para ouvir outros poemas de outros poetas pela voz de José-António Moreira clica neste link, do Youtube.
2 comentários:
LINDO!!!
Miguel, és um querido, ao quereres registar os meus rabiscos que com as palavras do Poeta se transformaram em poema.
Grata também estou ao amigo José-António Moreira que coloca voz de folhagem, brisas e ternura no que tão bem lê.
Abracinhos aos dois.
Lília Tavares
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