terça-feira, 2 de setembro de 2025

Romance-peça teatral de Steinbeck volta às livrarias

Depois de relançar em Junho A Um Deus Desconhecido, a Livros do Brasil apresenta esta semana uma nova edição de um livro de 
John Steinbeck. É o terceiro romance-peça teatral que o autor escreveu e desenvolve-se em quatro cenas, cujos protagonistas são quatro personagens cujas vidas se entrelaçam num drama moral e existencialCom Chama Devoradora (tradução portuguesa, datada de 1971, assinada por Virgínia Motta), publicado originalmente em 1950, o vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 1962, aborda os dilemas da condição humana.
Num género literário explorado anteriormente em Ratos e Homens e Noite sem Lua, Steinbeck concebe um romance breve, centrado nos diálogos e no entrosamento entre as personagens, destinado tanto à leitura como à representação em palco.

Sinopse
Sentindo aproximar-se a sombra da velhice, e com a possibilidade luminosa do nascimento de uma criança cada vez mais longe, Joe Saul desespera quanto ao legado que deixará no mundo. Mordeen, a sua mulher, ama-o profundamente, mas, certa de que juntos não poderão ter filhos, cede aos avanços do jovem Victor. De dia para dia, o sonho da família cresce, por fim, e está prestes a concretizar-se – e o amigo Ed tudo fará para afastar quaisquer ameaças a uma felicidade plena. 
Inspirando-se numa história medieval moralizante, este é um retrato do emaranhado das vidas humanas, dominadas por paixões e vulnerabilidade, desejos e desesperos, que nos interroga enquanto espécie: a quem pertence a responsabilidade pela vida de cada criança?

A editora disponibiliza aqui as primeiras páginas para leitura imediata.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Dois romances acabam de chegar de Espanha


Depois de duas décadas dedicadas à vida académica, María Dueñas (n. 1964) irrompeu pelo mundo literário em 2009, com O tempo entre costuras, o romance que se tornou um fenómeno editorial. Os seus romances posteriores, continuaram a cativar os leitores e a crítica. Traduzida em mais de 35 línguas, a autora é uma das escritoras de língua espanhola mais estimadas no mundo. Se um dia voltarmos é o seu sexto romance, com o selo Porto Editora.

Sinopse
Orán, Argélia francesa, finais da década de 1920.
Ana Cecilia Belmonte, uma jovem espanhola de apenas 17 anos, foge de casa após um episódio traumático. Sem documentos nem destino, atravessa o mar Mediterrâneo e refugia-se numa terra estranha.
Num ambiente hostil, onde imperam a desigualdade, o colonialismo e a opressão, Cecilia encontra trabalho nas fábricas de tabaco, nos campos e nos bairros mais esquecidos de Orán. A cada passo, enfrenta humilhações, perigos e perdas. Mas é também aí, na margem da sociedade, que descobrirá alianças inesperadas, redes de apoio e de solidariedade feminina, vínculos e paixões que, aliados à sua coragem e resiliência, acabarão por conduzi-la por um caminho repleto de reviravoltas, conquistas e desafios.
A Guerra Civil Espanhola, o avanço nazi no Norte de África e o conflito pela independência da Argélia marcam o contexto desta poderosa história de resistência, que é também uma reflexão sobre identidade, pertença e os laços que nos unem à terra de onde partimos – mesmo quando já não é possível voltarmos. 



Mayte Esteban (n. 1970) nasceu no México e reside há mais de duas décadas numa aldeia de Segóvia, em Espanha. A sua entrada no mundo literário deu-se em 2014 com o livro Detrás del cristal. Ambientada entre o fim de uma época e os conturbados anos que marcam o princípio do século XX, A colina da amendoeira, o seu primeiro romance romântico com contexto histórico, é uma história de vinganças, sobrevivência, amor e guerra. A edição portuguesa é da HarperCollins.

Sinopse
O mundo e a vida de Mary Ellen desmoronam-se quando o pai, o conde de Barton, entra no seu quarto. Decidiu casá-la com um comerciante rico, sem qualquer traço de nobreza, radicado em Boston. Mary não consegue acreditar que o pai renuncie a que o seu noivo seja aristocrata, mas sabe que de nada lhe servirá protestar. Foi educada para aceitar que todas as decisões da sua vida são tomadas pelo homem da família.
Após um casamento precipitado, vê-se obrigada a mudar-se para Londres, abandonando Almond Hill. Pouco depois de chegar à cidade, Mary descobrirá os segredos que se escondem por trás do seu estranho casamento. E também que o coração não pode ser travado por um contrato.

Literatura que resiste: obra de estreia de Marcelo Rubens Paiva ganha nova vida em Portugal


Clássico da literatura brasileira contemporânea, lançado em 1982, Feliz Ano Velho marcou a estreia de Marcelo Rubens Paiva na literatura. Este drama autobiográfico foi adaptado para cinema em 1987, com Malu Mader e Marcos Breda nos principais papeis. 

O livro chegou aos leitores portugueses em 1991 (numa edição da Pergaminho) e em 1996 (pela Mandarim, que foi um selo editorial português, criado nos anos 1990, que publicou vários autores brasileiros em Portugal, incluindo Luis Fernando Verissimo, Lya Luft, entre outros). 
Feliz Ano Velho regressa às livrarias portuguesas pela Dom Quixote no dia 30 de Setembro.

Texto de apresentação
Com uma prosa tocante e ao mesmo tempo irreverente, ao relatar o acidente que o deixou tetraplégico, Marcelo Rubens Paiva confere à narrativa a mesma energia com que superou a armadilha do destino.
O romance autobiográfico sobre o acidente que colocou Marcelo Rubens Paiva numa cadeira de rodas quando tinha vinte anos marcou a estreia literária do autor e tornou-se, rapidamente, um sucesso entre o público e a crítica - amplamente traduzido, conquistou prémios como o Jabuti, tornou-se tema de inúmeros trabalhos nas universidades brasileiras e, desde a sua publicação em 1982 até hoje, não tem parado de conquistar gerações de leitores.
Longe de ser o simples testemunho de uma experiência dolorosa, Feliz Ano Velho é o retrato geracional de uma juventude que, no final dos anos 1970, experimentava a abertura do governo militar e o sonho da redemocratização. Durante o período de recuperação, Marcelo conta detalhes da sua infância e da sua juventude, dos seus casos amorosos e da sua carreira musical; fala também da repressão da ditadura militar e da perseguição aos cidadãos que se opusessem ao regime, incluindo a invasão da sua casa por seis militares que levaram o seu pai, o deputado federal Rubens Beyrodt Paiva, que Marcelo não voltaria a ver e cuja história desenvolve em Ainda Estou Aqui.
O estilo de Marcelo, revelado num humor despretensioso e ao mesmo tempo mordaz, afasta a narrativa de qualquer pendor para o melodrama ou a autopiedade - pelo contrário, este é um texto de enorme força que, passados mais de quarenta anos, continua atual, vibrante e uma leitura indispensável.

Outras publicações Dom Quixote a sair também no dia 30: O Enigma de Israel e Feitas de Culpa.

Livros a publicar em Setembro pela Casa das Letras
Livros a publicar em Setembro pela ASA.

domingo, 31 de agosto de 2025

Rentrée literária ganha brilho com o novo romance de Yasmina Reza

Em seguida, eis alguns livros lançados em Agosto por chancelas do Grupo BertrandCírculo e títulos de novas obras a publicar na rentrée literária, com destaque para o mais recente romance da escritora e actriz francesa Yasmina Reza, actualmente com 66 anos. Récits de certains faits, de seu título original, é um romance (a publicar pela Quetzal Editores) que adquire a forma de testemunhos em tribunal, uma obra meditativa e comovente que examina, através da cidade de Veneza, os "momentos difíceis" de casais e as relações interpessoais.

Através de testemunhos na barra dos tribunais, Relato de Certos Factos explora a discrepância que existe entre a experiência vivida e a natureza da Justiça. Yasmina Reza, uma das figuras mais conhecidas das artes do palco francesas, cria na página uma espécie de teatro do real, em que examina, justamente através dos procedimentos em tribunal, as limitações do amor nas relações humanas e a possibilidade de violência que não raras vezes se encontra à flor da pele. Um livro meditativo e tão comovente quanto inesperado.


Danielle Steel
, autora consagrada e uma presença constante nos tops de vendas portugueses e mundiais, está de volta com Jogos Perigosos, um romance de cortar a respiração sobre escândalos políticos, corrupção, amor e coragem na Casa Branca.


Verde Brilhante
apresenta-se como um contributo decisivo para repensar o papel das plantas na vida do planeta e na sobrevivência da humanidade. A partir de questões fundamentais, como a capacidade comunicar inerente às plantas, os autores Stefano Mancuso e Alessandra Viola demonstram que estes organismos, frequentemente vistos como insensíveis e imóveis, possuem capacidades que se aproximam das dos animais.


Durante séculos, os contos de fadas foram passados de geração em geração. O que escondem por trás da sua linguagem simbólica e porque continuam a falar, com tanta força, ao coração das crianças? Em A Psicanálise dos Contos de Fadas, o psicólogo e educador Bruno Bettelheim mergulha no imaginário popular para mostrar como estas narrativas universais são instrumentos essenciais para o crescimento. Este é um clássico intemporal sobre a importância da imaginação e do poder das narrativas. Um livro fundamental que devolve aos contos o lugar central que sempre ocuparam: o de guiar emocional e moralmente para a infância e o de mostrar alguns ecos daquilo que, no fundo, significa ser humano. 


Aumentar a concentração, ultrapassar bloqueios, melhorar a intuição e a capacidade da memória são algumas das propostas de Aprender depressa e bem, obra que tem como base a neurociência e a psicologia cognitiva. Barbara Oakley e Olav Schewe criaram um manual muito completo com técnicas para melhorar a habilidade para aprender, seja qual for a matéria, e permitir tirar o melhor partido do cérebro. Um livro indicado para estudantes, profissionais em áreas intelectuais ou que exigem multitasking e, claro, curiosos e interessados em melhorar as suas capacidades cognitivas.


O trabalho tornou-se parte central da nossa vida. Horários prolongados, e-mails fora de horas e reuniões virtuais sem fim. Por isso, reencontrar um propósito e harmonia no mundo frenético do trabalho moderno nunca foi tão necessário. Trabalhar como Um Monge oferece ferramentas para repensar a natureza capitalista e competitiva do mundo empresarial. Esta obra de Shoukei Matsumoto, considerado uma das figuras mais carismáticas do pensamento budista contemporâneo, pre
tende ser um antídoto para o ritmo fragmentado da vida contemporânea. Ao propor práticas inspiradas na disciplina budista, o autor de 
Manual de um Monge Budista para Limpar a Casa e a Mente (2020) e Mente Tranquila (2022) oferece as ferramentas necessárias para transformar o ruído diário em harmonia, e devolver sentido ao tempo que passamos a trabalhar. 


Inusitado, original, inovador, Portugal de Morte a Sul abre as portas ao tema da morte de uma perspetiva ainda pouco explorada no nosso país. Algures entre o guia de viagens e o ensaio sobre a mortalidade, este livro aborda a temática da morte de uma perspetiva ainda pouco explorada em Portugal. Procurando um diálogo com a morte nos espaços que ela domina, a obra oferece a oportunidade de o leitor explorar lugares associados à morte no espaço nacional, refletindo sobre a ideia de que, um dia, nós próprios passaremos para o lado de lá.

Rafaela Ferraz é escritora e investigadora independente. Licenciada em Criminologia e Mestre em Medicina Legal pela Universidade do Porto, é coautora do livro Death and Funeral Practices in Portugal (2022).


Com mais de 300 mil exemplares vendidos em Itália, Tu Não és os Teus Pais aborda ass relações familiares e o trauma intergeracional, temas de uma relevância e atualidade tão prementes quanto universais. O trauma é passado de geração em geração, criando uma dinâmica intergeracional de ressentimento e dependência que pode realmente envenenar a tua vida. Contudo, é possível pôr-lhe um travão e passar a fazer escolhas verdadeiramente nossas. Este livro oferece as ferramentas de que necessitas para te libertares de padrões autodestrutivos e de legados misteriosos que criam obstáculos sem fim. Maria Beatrice Alonzi é mestre em Análise Comportamental e divulgadora de ciência com forte presença nas redes sociais.  

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Neurocientista explica como as ideologias moldam cérebros


Leor Zmigrod é uma cientista premiada e pioneira no domínio da neurociência política e da psicologia. A sua investigação centra-se nos factores cognitivos, emocionais e neurobiológicos que aumentam a susceptibilidade das pessoas a ideologias extremas, bem como nas características que as tornam mais resilientes e criativas perante formas rígidas de pensar.
Nascida nos EUA, estudou na Universidade de Cambridge, publicou mais de trinta artigos revistos por pares e foi bolseira visitante em Stanford, Harvard e nos Institutos de Estudos Avançados de Berlim e Paris. Ganhou numerosos prémios, foi oradora no TEDx, e a sua investigação tem sido amplamente divulgada em meios de comunicação social como o The New York Times, Guardian e Financial TimesO Cérebro Ideológico é o seu primeiro livro, que a Dom Quixote publica na próxima terça-feira.

«A noção de que os fenómenos políticos existiriam de alguma forma num domínio separado do da regulação da vida humana é pura ficção, como Leor Zmigrod demonstra tão claramente. O seu livro é de leitura obrigatória.» - António Damásio

Texto sinóptico
Porque é que algumas pessoas se radicalizam? Como é que as ideologias moldam o cérebro humano? E como é que podemos libertar as nossas mentes de dogmas tóxicos?
Ao guiar os leitores através das suas experiências inovadoras, a Dra. Leor Zmigrod desvenda os mecanismos ocultos que orientam as nossas crenças e comportamentos e argumenta que as nossas posições políticas não são superficiais, mas antes desenvolvidas no tecido das nossas mentes. Os seus resultados mostram que os ideólogos de todos os espetros políticos têm dificuldade em alterar os seus padrões de pensamento quando confrontados com novas informações.
Embora alguns indivíduos sejam mais suscetíveis ao pensamento dogmático do que outros, todos nós podemos esforçar-nos por ser mais flexíveis, e Zmigrod acaba por explicar como podemos manter as nossas mentes abertas face a ideologias extremas. Revelador, provocador e inesquecível, o Cérebro Ideológico é um livro inovador que nos desafia a resistir ao pensamento a preto e branco e a reavaliar as nossas convicções mais profundas. 

Excerto
«Com as modernas técnicas científicas, podemos agora perguntar até onde conseguem os sistemas ideológicos penetrar na arquitetura do cérebro humano – até onde chega realmente a doutrinação da mente e do corpo. Descobrimos que o cérebro educado pela ideologia é um cérebro que vale a pena explorar. Um estudo minucioso desvenda o que as ideologias podem fazer aos nossos corpos e como as moralidades severas se embrenham nos recessos mais profundos da consciência humana. Esclarece quem tem potencial para o extremismo; porque é que alguns cérebros são particularmente vulneráveis enquanto outros são mais flexíveis e resilientes.»

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

«Uma Viagem Terapêutica», de Alain de Botton

Editora: Dom Quixote
Data de publicação: 11-02-2025
N.º de páginas: 416

Alain de Botton (n. 1969) consolidou-se como uma voz singular na filosofia aplicada à vida quotidiana. Autor de livros intitulados “filosóficos”, estreou-se na escrita em 1993 com Ensaios de Amor (Dom Quixote, 2007), mas só recebeu reconhecimento mundial quatro anos depois, com Como Proust Pode Mudar a Sua Vida (Dom Quixote, 2009). 
No seu mais recente livro, constrói um espaço literário onde a introspeção, a empatia e a reflexão se entrelaçam. Publicado originalmente em Outubro de 2023 e traduzido (a partir de A Therapeutic Journey) para o português por Diogo Freitas da Costa, Uma Viagem Terapêutica reúne textos ensaísticos, auxiliados com conteúdo visual (imagens, fotografias, pinturas, etc.), explorando a saúde mental com uma sensibilidade rara. De Botton conduz o leitor por uma jornada que começa na crise — momentos de desorientação, perda de esperança ou de desilusão consigo mesmo —, «a recuperação pode começar no momento em que admitimos que já não fazemos ideia de como aguentar», e culmina na recuperação, oferecendo simultaneamente companhia e orientação prática. 
Elementos quotidianos, como o sono, a alimentação, o exercício ou tarefas domésticas, são apresentados como ferramentas de convalescença emocional, numa abordagem que une filosofia, psicologia e literatura com elegância e clareza. 
É de elogiar a capacidade do autor de articular sentimentos complexos, muitas vezes difíceis de expressar, com uma linguagem poética e reconfortante. É um livro inspirador, proporcionando ao leitor uma sensação de proximidade e compreensão em relação às suas próprias fragilidades. Ao mesmo tempo, a obra não se limita à teoria: oferece conselhos práticos e aplicáveis, abordando temas que vão desde relacionamentos e educação de filhos até rituais diários que favorecem uma boa saúde mental. 
Uma Viagem Terapêutica confirma uma vez mais Alain de Botton como um mestre da filosofia, capaz de unir erudição e empatia. Mais do que um livro, é um guia que convida o leitor a reconhecer a própria vulnerabilidade, cultivar a resiliência e reencontrar o fio condutor da vida. Com sensibilidade, elegância e sabedoria, o filósofo nascido na Suíça, fundador da The School of Life (uma escola situada em Londres que ensina filosofia prática para ser vivenciada no dia-a-dia), oferece não apenas consolo, mas também instrumentos para que cada leitor percorra o seu próprio caminho de recuperação. 
Este que é o décimo sexto livro que em Portugal se publica de De Botton é um farol para quem se sente perdido: guia, consola e inspira a encontrar novamente o equilíbrio e o sentido da vida. 

Excertos 
«A doença contém a cura, mas tem de ser assumida e interpretada. Há algo do passado que clama por ser identificado e que não nos vai deixar em paz até lhe prestarmos a devida atenção.» 

«É tão curioso quanto penoso, que o ingrediente principal na recuperação de qualquer doença mental grave, seja aquele que nunca aparece em nenhum manual médico ou diagnóstico psiquiátrico, ou seja, o amor.» 
«Qualquer criança precisa de experimentar aquilo que podemos designar de "deleite parental primário", um sentimento básico de ser desejada sem limites por aqueles que a puseram no mundo (...). Sem isto, uma criança pode sobreviver, mas nunca conseguirá florescer. A sua capacidade de existir livremente no mundo estará, de certo modo, sempre em causa. Irá crescer com o sentimento de ser supérflua, disruptiva e, no fundo, desinteressante e vergonhosa.» 

«A maneira como nos tratamos corresponde à internalização de como, em tempos, fomos tratados por outros, seja diretamente na forma como falavam connosco ou indiretamente na maneira como se comportavam à nossa volta (...)»

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

E se dormíssemos como os nossos antepassados?


E se dormíssemos como os nossos antepassados? Num mundo em que o sono se tornou um campo de batalha, entre notificações, alarmes, ansiedade e preocupações, chega às livrarias em Setembro um livro que desmonta mitos e convida o leitor a repensar o sono como um fenómeno natural, imperfeito, mas essencial. Porque talvez dormir sete horas e acordar cansado não seja um problema, e acordar às três da manhã, afinal, seja a coisa mais normal do mundo. 

Merijn Van De Laar é cientista do sono, psicólogo e terapeuta com vasta experiência no tratamento de insónias e distúrbios do sono. Com um doutoramento na área, é professor na Universidade de Maastricht, nos Países Baixos, e uma referência internacional no estudo do sono e bem-estar.
Dormir como um homem das cavernas, 
a editar pela Ideias de Ler (uma chancela do Grupo Porto Editora), desafia a obsessão moderna pelas “boas práticas” do sono e propõe um regresso àquilo que o nosso corpo nunca esqueceu, mas que a sociedade insiste em ignorar. A obra conta já com milhares de exemplares vendidos e tradução para mais de 20 idiomas.

Elogios
«Esta obra oferece um olhar fascinante sobre a evolução do sono, partilhando dados valiosos que mostram como podemos aproveitar princípios básicos para melhorar o Descanso nos tempos modernos.» - Dra. Shelby Harris,
Especialista em Terapia Cognitivo-comportamental

«Um livro original que o pode ajudar a ter um sono “primordial.» - Dra. Ingrid Verbeek,
Terapeuta do Sono 

Conhece aqui outros livros publicados em Portugal sobre sono.

«Olhar a vida de frente», de Sonia Ricotti, entre as reedições da Bookout

A Bookout Editora apresenta novas edições de livros que conquistaram o coração dos leitores.

Um deles, Jesus, contém os principais ensinamentos do cristianismo que ajudaram a moldar a nossa civilização através dos tempos. Em Buda, são apresentados os ensinamentos centrais do budismo, expressos por seus mestres mais importantes. Ambos estes títulos, que são recomendados para ler devagar e meditar profundamente, foram organizados pelos serviços de edição da Bookout.
De Sonia Ricotti, uma conceituada oradora em transformação pessoal, que viaja por todo o mundo, inspirando e motivando milhares de pessoas a enfrentarem os desafios que a vida lhes coloca, foi reeditada pela 3.ª vez a sua obra mais conceituada, Olhar a vida de frente.
 Desta autora canadiana, que é CEO da Lead Out Loud Inc., uma empresa de desenvolvimento pessoal transformacional de topo, encontram-se publicados também no nosso país os títulos Quando o impensável acontece, A lei da atração e Alcance a vida que merece.

Jesus é a figura central do cristianismo. No milagre supremo de vencer a morte e reaparecer aos Seus discípulos com a instrução final de espalharem o evangelho a todos os povos, demonstrou a todos que era o Filho de Deus, o Messias muito aguardado. 
Trouxe a missão dada pelo Seu Pai de ensinar aos homens como viverem felizes e construírem uma sociedade mais justa. Indo de aldeia em aldeia, falava às multidões anunciando a boa nova, ensinando o amor, a paz e a justiça e explicando a vontade do Pai de instituir na terra o Reino de Deus. Por palavras e por atos deixou ensinamentos que ainda hoje são os fundamentos na nossa civilização e cultura. 
Numa mensagem sempre atual e cheia de imagens, osseus ensinamentos são facilmente adaptáveis àrealidade de hoje. São valores universais que apontam ocaminho para uma sociedade justa, solidária, pacífica e benevolente. 

Siddharta Gautama, o primeiro Buda, príncipe que ia ser rei e guerreiro, abdicou de toda a sua riqueza para levar a sua mensagem de paz aos povos e mostrar-lhes o caminho da iluminação, da verdade e do sentido da vida. 
Chocado com as degradantes condições de vida do seu povo, uniu as suas melhores qualidades de ser humano à persistência e dogmatismo dos grandes mestres e, por todo o mundo, cativou seguidores em torno dos seus ensinamentos.
Com uma mensagem de paz, de amor, de verdade e sabedoria interior, o presente livro reúne os principais ensinamentos de Buda, apresentando uma seleção dos principais pensamentos e preceitos do Budismo, reunidos sob a forma de pequenas frases, excertos e citações que inspiram uma vida de paz e a plena realização espiritual. 


Este é um livro para ter ao lado todos os dias. Uma crise financeira, um divórcio, a perda do emprego ou de um ente querido, um problema de saúde – todos nós enfrentamos momentos dolorosos, acontecimentos terríveis que nos deitam abaixo e nos levam a pensar que nada vale a pena. 
Mas a vida vale a pena! Basta não nos deixarmos tomar pelos sentimentos negativos, de revolta ou de desânimo que nos derrubam e deixarmos que a fé, a esperança, a determinação e um novo olhar nos ditem o caminho. 

• Controlar e reagir às circunstâncias dramáticas da vida. 
• Transformar a mente negativa e sentir-se melhor. 
• Enfrentar e superar as contrariedades. 
• Libertar-se das experiências negativas. 
• Experimentar a paz interior e a sensação de felicidade. 

Outros livros lançados recentemente pela editora
Adaptar e O jogo mental do trading (do autor de O jogo mental do poker).

terça-feira, 26 de agosto de 2025

ASA lança em Portugal «A Colónia», o fenómeno literário sueco que está a conquistar os leitores

Entre os lançamentos a sair no próximo mês pelas Edições ASA, o grande destaque vai para o romance de estreia da escritora Annika Norlin. Esta obra, de 2023, recebeu os dois prémios literários mais importantes da Suécia e é o maior bestseller sueco desde o fenómeno Um Homem Chamado Ove, de 2012. A Colónia é uma obra “admirável” e “de um delicado equilíbrio”, segundo a crítica do The New York Times. Traduzido em 15 países, vai ser adaptado a série televisiva.

Emelie está farta da cidade, das revistas onde é freelancer, das noitadas, dos colegas. Sempre odiou a vida ao ar livre, mas os sintomas de burnout levam-na a refugiar-se na floresta. Monta a tenda, desliga o telemóvel, esconde-se no silêncio.
Mas a jornalista dentro dela volta a despertar quando descobre naquela paisagem remota um estranho grupo: sete pessoas, homens e mulheres, de diferentes idades e etnias, que se deitam à sombra de um abeto gigante, mergulham nus no lago, se acariciam, dançam. Quem são eles? Serão felizes? Farão parte de uma seita? Intrigada, Emelie começa a escrever.
Um dia, ao conhecer o mais jovem do grupo, debate-se com um dilema. Não deveria ela denunciar às autoridades A Colónia, onde aquele adolescente cresce sem contacto com a civilização, ou escola, cuidados de saúde, amigos da sua idade…? 



O Barracão das Mulheres
, de Fermina Cañaveras
María vive uma dupla crise, pessoal e profissional. Há um ano que decidiu afogar as mágoas no álcool, que o chefe perdeu a confiança nela e que ninguém valoriza o seu trabalho de investigação no jornal; e, como se isso não bastasse, o seu relacionamento está por um fio.
De resto, encontra-se ainda embriagada quando uma manhã recebe um telefonema em que a mãe lhe anuncia a morte da avó que, no período da guerra civil espanhola, escondeu imensos militantes comunistas na sua pensão e se tornou uma das mulheres mais importantes da vida de María. É no velório que esta descobre uma mulher idosa e franzina que não conhece mas que deixa a sua mãe estranhamente inquieta. Ao perguntar de quem se trata, fica a saber que se chama Isadora, mas percebe de imediato que existe entre ambas um segredo incómodo.
Tentando endireitar a vida, María pensa então fazer uma pesquisa sobre a vida aventurosa da sua avó. Porém, quando procura documentos, encontra a foto de uma mulher com uma tatuagem no peito...


Esta Estranha e Acidentada História
, de Claire Messud
Em junho de 1940, Paris cai nas mãos dos alemães e Gaston Cassar, destacado como adido naval na Grécia, despede-se da mulher que ama desesperadamente e dos filhos pequenos, confiando que voltarão a reunir-se depois da guerra. Mas escapar à morte na II Guerra Mundial não é o mesmo do que sair ileso. A família nunca mais voltará a ser unida.
Ao longo das sete décadas que se seguem, de 1940 a 2010, três gerações da família Cassar viverão em modo itinerante numa busca vã por uma pátria. O patriarca Gaston e a sua mulher Lucienne aprofundam o mito de um amor perfeito que os sustenta mas sufoca os filhos, François e Denise. É Chloé, filha de François, quem mais acredita na força pacificadora da recuperação do passado comum.
Inspirada nas vidas tumultuosas dos seus antepassados, Claire Messud abre-nos uma janela privilegiada para a complexidade da alma mediterrânica no mundo contemporâneo.
Na origem da sua criação estão os inesquecíveis Cassar, uma família nascida no lado errado da História.



Ilha da Mulher Adormecida
, de Arturo Pérez-Reverte
«Pressionou o corpo contra o dele; e Jordán, com a roupa molhada, acolheu-a nos braços, apertando-a com força.
– Maldito sejas, capitão Mihalis – sussurrou ela de repente.
Ele demorou um momento a compreender.
– Sim – disse, por fim.
Levantou o rosto para contemplar a abóbada celeste, que parecia ter descido para se instalar à volta deles, envolvendo--os até ao fim dos tempos. Como se estivessem sozinhos na última noite do mundo.»

Estamos em 1937 e a guerra civil grassa em Espanha. O marinheiro mercante Miguel Jordán Kyriazis chega ao Líbano, onde a sua vida toma um rumo inesperado. É encarregado de uma missão clandestina que visa atacar as embarcações soviéticas que transportam ajuda militar para os republicanos. Será o seu primeiro ato como marinheiro de guerra.
A base de operações está instalada numa pequena ilha no Mar Egeu, propriedade do excêntrico Barão Katelios e da sua sedutora mulher. Entre eles e Miguel forma-se um triângulo amoroso tão perigoso quanto o xadrez humano que o rodeia.
Espiões, mercenários, rebeldes e operacionais do regime... o destino jogando-se a cada dia, insidioso, inabalável...
 

Conhece aqui os livros a publicar em Setembro pela Casa das Letras (LeYa)

domingo, 24 de agosto de 2025

Ana da Cunha é a autora do novo romance a sair pela Sibila Publicações

Sodade é o novo romance que será lançado pela Sibila Publicações em Setembro, integrado na Colecção Vozes Contemporâneas. Esta obra da escritora e jornalista Ana da Cunha foi galardoada com o Prémio Literário Maria Amália Vaz de Carvalho, instituído pela Câmara Municipal de Loures. 

Sodade foi distinguido por unanimidade pelo júri do Prémio (este ano composto pelas escritoras Ana Margarida de Carvalho, Inês Pedrosa e Isabel Rio-Novo), que destacou «a força e a beleza de uma história de amor pela leitura e de procura de identidade protagonizada por um filho de imigrantes cabo-verdianos». O júri destacou ainda «a qualidade da escrita e a capacidade de construção de personagens.»


Texto sinóptico
«Fidj, que é feito do Carlitos?». São estas as últimas palavras da mãe de Zé, um notário de cerca de quarenta anos, casado e pai de dois filhos, com raízes cabo-verdianas. Mas quem é este «Carlitos» que passa a assombrá-lo diariamente? E qual a história deste Zé, um homem negro que vive na Margem Sul do Tejo? A resposta está num velho edifício, plantado na localidade de Porto Brandão, um lazareto que foi em tempos casa de mais de duzentas famílias vindas de Cabo Verde: o Asilo 28 de Maio. Durante anos, Zé julgou que Carlitos, o velho amigo com quem crescera no Asilo, estava morto. Pela primeira vez em muito tempo, as últimas palavras da sua mãe vêm acender-lhe a esperança de o reencontrar. Um romance de personagens sonhadoras e resistentes, que nos conta como a amizade pode transformar a vida. 

Excerto
«Os dias seguintes foram ocupados a organizar o funeral, com os preparativos a deixarem-me exausto, mas, de certa forma, a alhearem-me da verdade: o corpo da minha mãe estava prestes a tornar-se cinza. Nesses dias em que tudo me parecia uma abstração, um filme a que eu assistia à distância, só conseguia recordar a minha mãe de um outro tempo. A imagem que se impunha na memória não era a dos últimos anos, com o rosto cada vez mais envelhecido e os cabelos grisalhos; mas antes a imagem da minha infância: o rosto livre de rugas, as mãos  delicadas,os cabelos escuros escondidos pelo lenço na cabeça. O corpo debruçado sobre a máquina de costura, o barulho que só era interrompido pela sua voz quando chegava a hora de preparar o almoço ou o jantar.» (p. 16)

A autora
Ana Isabel da Cunha (n. 1996) é licenciada em Teatro-Interpretação, pós-graduada em Dramaturgia e Argumento e mestre em Jornalismo. É jornalista no jornal online Mensagem de Lisboa
Em 2016, ganhou o Prémio Aldónio Gomes com a novela (Des) Controlo. Em Maio deste ano, publicou Tejo - Um cruzeiro religioso e cultural (Ed. Fundação Francisco Manuel dos Santos). Com a obra Sodade venceu a mais recente edição do Prémio Literário Maria Amália Vaz de Carvalho, na categoria Jovens Talentos - prosa de ficção.

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Mieko Kawakami em destaque na rentrée literária da Casa das Letras

Em Setembro, a Casa das Letras, chancela da LeYa, vai publicar dois romances de autoras japonesas (o segundo título traduzido para Português de Mieko Kawakami, uma das grandes vozes literárias japonesas da actualidade, e a estreia da livreira Nanako Hanada), um de um escritor francês em que ele é o personagem principal, e da Alemanha chega um retrato da mais carismática imperatriz europeia.

Sinopse
Fuyuko Irie é uma revisora de textos freelancer com trinta e poucos anos. Trabalhando e vivendo sozinha numa cidade onde não é nada fácil estabelecer novas relações, não contacta com ninguém regularmente além da sua editora, Hijiri, uma mulher da sua idade, mas com uma disposição muito diferente.
Quando repara no seu reflexo na montra de uma loja de Tóquio, depara-se com uma mulher cansada e sem espírito, que não conseguiu assumir o controlo da sua própria vida. A sua única fonte de consolo: a luz. Todas as vésperas de Natal, Fuyuko sai para vislumbrar as luzes que preenchem a noite de Tóquio.
Mas é um encontro casual com um homem chamado Mitsutsuka que desperta algo de novo nela. E assim a sua vida começa a mudar. À medida que Fuyuko começa a ver o mundo sob uma luz diferente, memórias dolorosas do seu passado começam a ressurgir. Fuyuko precisa de ser amada, ouvida e vista. Mas vivendo num pequeno mundo criado por si, será que encontrará forças para derrubar os muros que a cercam?
Todos os Amantes da Noite, à venda a 16 de Setembro, é um retrato perspicaz, divertido e envolvente; fará os leitores rir e chorar, mas também recordar que, como só os melhores livros mostram, há dores que valem a pena.

Mieko Kawakami é a aclamada autora do bestseller internacional Seios e Óvuloso seu primeiro romance a ser traduzido para português, em 2023. Nascida em Osaka, Japão, Kawakami estreou-se na literatura como poetisa e publicou a sua primeira novela, My Ego, My Teeth, and the World, em 2007. Os seus livros, traduzidos em mais de 20 línguas, são conhecidos pelas suas qualidades poéticas, pela sua visão do corpo feminino e pela sua preocupação com a ética e a sociedade moderna. Kawakami recebeu inúmeros prémios literários internacionais, nomeadamente o Prémio Akutagawa, o Prémio Tanizaki e o Prémio Murasaki Shikibu. Vive em Tóquio.



Sinopse
A vida de Nanako Hanada não só estagnou - bateu mesmo no fundo.
Recentemente separada do marido, vive entre camas de hotéis alugadas à hora, pequenos cafés com Internet ou no chão de livrarias. O trabalho também não está melhor — as vendas na excêntrica livraria Village Vanguard, em Tóquio, que ela gere, estão a cair a pique. À medida que a vida de Nanako se desmorona, ler livros é a única coisa que a mantém viva.
Até que se inscreve num site de encontros que oferece 30 minutos com alguém que nunca voltará a ver. Apresentando-se como uma «livreira sexy», propõe-se a recomendar o livro perfeito em troca de um encontro. No ano que se segue, Nanako conhece centenas de pessoas, algumas das quais procuram mais do que apenas um livro…
Confissões de Uma Livreira, à venda a 2 de Setembro, é uma ode ao prazer da leitura. Oferecendo um vislumbre do mundo livreiro no Japão e do lado mais excêntrico de Tóquio, esta é uma história sobre como os livros nos ajudam a criar laços com os outros — e a reencontrarmo-nos.

Nanako Hanada nascida em 1979, é livreira em Tóquio. O seu primeiro livro, Confissões de Uma Livreira, tornou-se um inesperado e inspirador bestseller e livro de culto japonês que vendeu 80 mil exemplares, tendo sido igualmente adaptado para uma série de televisão. Os direitos autorais permitiram a Nanako abrira sua própria livraria, Kani Books, em Tóquio.


Sinopse

Na esplêndida e perigosa paisagem do Lago Léman, à sombra das montanhas circundantes, um escritor de renome morre, deixando um manuscrito. O seu nome é Marceau Miller. A sua vida foi construída sobre uma mentira. O seu último romance será a sua confissão.
Do cume do Dent du Vélan, uma silhueta contempla o seu corpo esmagado no chão.
Marceu Miller, nascido provavelmente em 1978, é argumentista de televisão e escritor. Mas esta é a primeira vez que escreve um romance com esse nome. Vive em França e regressa regularmente à região do Lago Léman, que exerce sobre ele um forte fascínio. 
O Mistério de Marceau Miller é um fenómeno literário que já se tornou um sucesso de vendas em vários países.

Existem homens que arriscam constantemente a vida. Marceau Miller é um deles. Assombrado pela memória da sua irmã, desaparecida vinte anos antes, tornou-se um escritor de sucesso, com uma vida aparentemente perfeita. Ele próprio, é o personagem principal do seu romance de estreia. É de nacionalidade francesa e regressa regularmente ao Lago Genebra, uma região que o fascina profundamente. 



Sinopse
Sissi é um romance incontornável sobre uma mulher contraditória, o seu fascínio, os seus anseios, o seu poder de manipulação e a sua força destrutiva. Quando Elisabeth (Sissi) se torna Imperatriz da Áustria através do casamento, entra num mundo estritamente regrado, cheio de convenções rígidas e receções aborrecidas. Só consegue respirar quando está em viagens prolongadas ou quando fica no seu castelo húngaro, Gödöllő, onde pode levar uma vida sem restrições e perseguir a sua maior paixão: a caça com cavalos selvagens.
Nenhum fosso é demasiado largo para a imperatriz, nenhum obstáculo é demasiado perigoso. Sissi é uma das melhores e mais imprudentes cavaleiras do seu tempo, admirada pelo lendário cavaleiro de caça e jóquei Bay Middleton e não apenas pelas suas habilidades de equitação.
Durante uma estadia em Gödöllő, Sissi convida a sua sobrinha Marie Wallersee, perita em equitação e esgrima, para a acompanhar. Filha de uma atriz, Marie não se enquadra bem na posição da imperatriz, mas Sissi vê nela um alter-ego mais livre e faz dela uma confidente próxima. Marie, de 18 anos, sucumbe rapidamente aos braços da tia imperial e fica muito feliz por ajudá-la no seu papel de cavaleira apaixonada e de femme fatale.
Sissi, habituada a ser o centro das atenções, procura um marido para a sua jovem rival, dando início a um jogo de sedução e traição.

Karen Duve nasceu em Hamburgo, em 1961. Os seus livros de ficção e de não-ficção tornaram-se bestsellers traduzidos para diversas línguas. Taxi foi adaptado ao cinema e protagonizado por Peter Dinklage. Recebeu o Prémio Literário de Kassel, em 2017, na categoria de Humor Grotesco, o Prémio de Literatura Düsseldorfer, o Prémio Soluthurner Literatur e o Prémio de Literatura Carl-Amery em 2019 pela sua obra multifacetada.

Conhece aqui os livros a publicar em Setembro pelas Edições ASA (LeYa)

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

«África Minha», de Karen Blixen

Editora: Clube do Autor
Data de publicação 3.ª edição: 02-07-2025
N.º de páginas: 440

Publicado em 1937, África Minha (Out of Africaé uma referência da literatura autobiográfica do século XX. Nele, Karen Blixen narra a sua vida no Quénia, onde, a partir de 1914, administrou uma plantação de café. Mais do que um relato, a obra é uma meditação poética sobre a relação entre o ser humano, a terra e a memória, elevando a experiência pessoal a uma narrativa universal. A África surge como protagonista viva, um lugar onde o tempo parece suspenso, mas onde cada acontecimento ressoa com intensidade. 
Sob pseudónimo, Blixen descreve a vida quotidiana nas colinas de Ngong, os desafios da agricultura e as relações com os povos locais, num olhar respeitoso e afetuoso. Estruturada em episódios, ensaios e retratos, a obra reflete o tom da despedida, escrita após o seu regresso forçado à Dinamarca em 1931. A prosa lírica transforma paisagens e personagens em presenças vivas, revelando a natureza humana com rara sensibilidade. 
Críticos como Ernest Hemingway reconheceram em Blixen uma escritora de rara grandeza, capaz de captar com delicadeza e intensidade a essência da vida e da natureza. Embora inicialmente criticada na Dinamarca por elitismo, o livro consolidou-se como clássico e inspirou a célebre adaptação cinematográfica de 1985, com Meryl Streep e Robert Redford. 
África Minha é, assim, um retrato de paradoxos — liberdade e privilégio, amor e distância cultural, a África real e a sonhada — que se prolonga em Sombras no Capim (Shadows on the Grass), escrito 25 anos depois. Neste epílogo emotivo, Blixen revisita episódios e personagens, reafirmando o amor profundo pela terra e pelas culturas que a marcaram para todo o sempre. 
Salientar a rigorosa tradução desta edição portuguesa, assinada pela dupla Ana Falcão Bastos e Cláudia Brito. 
Este título pertence à Colecção 'Os Livros da Minha Vida', que conta com obras como Terra Abençoada, Retrato de uma SenhoraMulheres Apaixonadas, entre outros.

Excertos 
«Quando se apanha o ritmo de África, descobre-se que este é sempre o mesmo em toda a música deste continente.» (p. 25) 

«Se eu conheço uma canção de África-pensava eu, da girafa e da lua nova africana deitada de costas, das sementeiras nos campos e dos rostos suados dos trabalhadores nos cafezais, África conhecerá uma canção a meu respeito? O ar sobre a planície vibrará com qualquer cor que eu tivesse vestido, as crianças inventarão um jogo em que surja o meu nome, a lua cheia desenhará uma sombra no cascalho do caminho que se pareça comigo, ou as águias de Ngongo procurar-me-ão?» (pp. 76-77) 

«(...) aprendi a estranha lição de que é possível acontecerem coisas de que nós não conseguimos imaginar (...). As circunstâncias podem ser determinadas por uma força motriz que produz acontecimentos sem a intervenção da imaginação ou do entendimentos humanos. (...) As coisas acontecem se sentimos que estão a acontecer, mas, à parte isso, não temos nenhuma relação com elas nem uma chave para descobrir qual a sua causa ou significado. (...) E quem passou por isso pode dizer que já teve a experiência da morte-uma passagem fora do âmbito da imaginação, mas dentro do âmbito da experiência.» (pp. 355-356) 

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Clube do Autor publica clássico gay da literatura italiana

Quartos Separados, um clássico de culto da literatura italiana, está de regresso às livrarias já a partir de 27 Agosto, com o selo Clube do Autor. É um retrato comovente do amor, da tristeza e do quotidiano de um homem gay na Europa dos anos 1980.
 
Este romance foi publicado pela primeira vez em Portugal em 1993 pela Dom Quixote e está há muitos, muitos anos esgotado. 

Um livro que é uma grande referência da literatura queer internacional, imperdível para os leitores de O Quarto de GiovanniDeixa-te de Mentiras e Maurice.

Pier Vittorio Tondelli nasceu em 1955 em Correggio, uma pequena cidade na região da Emília-Romanha, em Itália, e faleceu em 1991 vítima de SIDA. Foi um dos mais talentosos escritores italianos da sua geração, obtendo um sucesso modesto como escritor, mas enfrentando frequentemente problemas com a censura por utilizar temas homossexuais nas suas obras. 
Estreou-se em 1980 com Altrilibertini, que narrava a euforia e o desespero de uma geração inteira. Após a sua experiência militar, publicou outros romances, entre os quais Pao Pao (1989), Un weekend postmoderno (1990) e Rimini (1985). Camere Separate, publicado em 1989, é uma obra-prima da literatura italiana e um retrato comovente do amor, da tristeza e do quotidiano de um homem gay na Europa dos anos 1980. Segundo o The Times, é um livro «belo e comovente».

Elogios de imprensa internacional
«Um romance de amor imperfeito e uma tristeza premente. E apesar da sua consistência natural, a prosa nunca se afasta do ponto de contacto com aquela outra realidade a que chamamos arte.» - New York Times

«Uma obra magistral, rica em perspicácia e detalhe, e com um surpreendente otimismo.»
Gay Times

«Tondelli era meticuloso, preciso e singular, a sua escrita repleta de pormenores bem observados e uma visão quase microscópica do quotidiano e dos sentimentos.»
Financial Times

«Quartos Separados é um romance extraordinário e alegre, de amor e morte, de nostalgia e maturidade, de impotência e grandeza, no qual reconhecemos a crise do nosso tempo e as suas razões misteriosas.» - Cesare De Michelis

«Este livro não é apenas um dos mais belos que já li, mas, acima de tudo, transpira humanidade de uma forma íntima, brutal, onírica, realista, romântica, desesperada, frágil e louca, tudo ao mesmo tempo. Simplesmente maravilhoso.» - Andrea Belfiori, Goodreads

«Tondelli, através do seu alter ego Leo, o protagonista, relata a sua atormentada tentativa de viver o amor plenamente, mantendo "quartos separados", ou seja, sempre a uma distância segura... A culpa desempenha um papel fundamental na vida e nos sentimentos do protagonista, um homossexual, para quem é duplamente difícil entregar-se a uma relação que deseja profundamente... Vale a pena ler.» - Michela De Bartolo, Goodreads

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Entrevista a João Carlos Melo


É psiquiatra, psicoterapeuta e grupanalista, sendo considerado uma referência nacional na área da saúde mental. 
Assistente Graduado do Hospital Fernando Fonseca, onde coordena o Hospital de Dia do Serviço de Psiquiatria, João Carlos Melo é também autor de numerosos artigos científicos. Desde sempre manteve o
 fascínio por compreender o funcionamento mental, bem como os meandros da natureza humana.

Nesta entrevista, partilha a sua visão sobre os desafios atuais da psiquiatria e o papel de novas abordagens terapêuticas, como o uso de psicadélicos. Analisa também a forma como as doenças mentais são percecionadas e tratadas em Portugal; critica a abordagem frequentemente simplista e pouco rigorosa que o tema recebe nos meios de comunicação; reflete sobre a “ilusão de comunicação” gerada pelas redes sociais; e comenta a presença de indivíduos com traços psicopáticos em posições de chefia, que recorrem ao assédio moral no ambiente laboral, entre outros tópicos. 

Renascer das Cinzas, lançado em junho pela Bertrand Editora, é o mais recente livro de João Carlos Melo, escrito em coautoria com Maria C., sua paciente. A obra analisa três perturbações psicológicas complexas e estigmatizadas, com destaque para a Síndrome de Munchausen, uma grave doença, a de pior prognóstico de todas as doenças psiquiátricas, caracterizada pela simulação de sintomas para obter atenção médica. João Carlos Melo é um dos poucos psiquiatras no mundo com experiência no tratamento desta patologia. 

Miguel Pestana | Fotos: DR 
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Quando tomou a decisão de seguir a carreira de médico psiquiatra? 
A minha curiosidade sobre o comportamento das pessoas e o seu funcionamento mental remonta a um tempo em que ainda nem tinha decidido que queria ser médico. E quando entrei para Medicina já era claro que queria ser psiquiatra.  
Mas não me contentei em ser apenas psiquiatra. Quis também ser Psicoterapeuta e Grupanalista, e foi nesse sentido que fiz formações longas e rigorosas que me têm sido muito úteis, não só profissionalmente, mas também como pessoa. 

Em 2025, qual considera ser a doença mental mais prevalente em Portugal? 
As doenças mentais propriamente ditas não são mais frequentes em Portugal do que noutros países, mas neste campo há um pormenor de grande importância, como mostra um estudo concluído há dez anos e que ainda se mantém atual. 
Esse estudo, coordenado por Caldas de Almeida e Miguel Xavier, psiquiatras e professores universitários de renome, concluiu que, a par da Irlanda do Norte, Portugal é o país Europeu com mais alta prevalência de perturbações psiquiátricas (22,9 %). Por curiosidade: essa prevalência chegou aos 27 % nos Estados Unidos e a 29,6 no Brasil.  
Mas é importante referir que estas “perturbações mentais”, como lhes chamei, não correspondem a doenças propriamente ditas, como Esquizofrenia ou Doença Bipolar, mas antes a queixas emocionais e queixas físicas associadas a sintomas de ansiedade e depressão. 
Nos nossos dias fala-se mais de Perturbação Borderline e PHDA (Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção), em parte porque são mais frequentes e em parte porque são mais diagnosticadas do que eram.  

O nosso país regista uma das maiores prevalências de doenças psiquiátricas na Europa, o que se traduz num consumo elevado de psicotrópicos. Qual é a sua opinião sobre esta situação?
Esta é uma questão da maior pertinência porque ela tem sido perturbada por pontos de vista que têm por detrás muita ignorância, preconceitos e estigma.  
É claro que o elevado consumo de psicotrópicos deriva diretamente da alta prevalência de situações clínicas em que predominam sintomas ansiosos e depressivos, mas a questão que podemos levantar é esta: a prescrição destes medicamentos é excessiva? Poderia ser menor se, em vez dessas prescrições, as pessoas fizessem psicoterapia? 
Aqui está um ponto fulcral, mas, ao mesmo tempo, aquele onde começam os problemas. Numa tentativa de clarificar a questão, há duas ideias importantes que, na minha opinião, são factuais.  Em primeiro lugar, os medicamentos que atuam nos sintomas ansiosos e depressivos são eficazes e seguros. Por outro lado, a maioria dos psiquiatras e psicólogos não tem uma formação psicoterapêutica idónea.  
Em função destes factos, muitos psiquiatras limitam-se a prescrever fármacos e muitos psicólogos fazem o que chamam psicoterapias sem possuírem formação específica para tal.  Outra consequência deste estado de coisas é a desinformação e os preconceitos em relação aos psicofármacos. Já houve quem me tivesse perguntado se eu era “a favor ou contra os medicamentos da psiquiatria”. E já me deparei com pais que recusaram que os filhos fossem medicados, com a alegação de “não concordarem” com os medicamentos. Seria como, perante a prescrição de um antibiótico para tratar uma pneumonia, uma pessoa o recusasse, com o argumento de ser “contra os antibióticos”.  
Diante de tudo isto, penso que deverão ser o conhecimento baseado na ciência e o bom senso a nortear-nos.  
Tem sido comprovado sem margem para quaisquer dúvidas que, na maioria das situações, não faz sentido considerar uma oposição entre a medicação e a psicoterapia, embora deva haver um maior predomínio de uma ou da outra conforme os casos.  
Há pessoas, entre as quais alguns técnicos de saúde mental, que são “contra” a medicação, sob a alegação de se estar a “tapar” ou “disfarçar” o problema em vez de o tratar - seria como um “penso rápido”, dizem, que impede de ir à “causa” do problema. Esta ideia, e os procedimentos em conformidade, levam a situações de sofrimento prolongado e inútil, impedindo as pessoas de verem os seus sintomas e a sua qualidade de vida melhorados. Nesses casos, aliviados esses sintomas e o consequente sofrimento, a pessoa estará mais livre e disponível para empreender uma psicoterapia.  
Na prática, para certos problemas mentais, o único técnico preparado para estabelecer se há indicação para prescrição medicamentosa deverá ser o psiquiatra - do mesmo modo que, perante  certos problemas de saúde, deverá ser um cirurgião, e não outro médico qualquer, a determinar a necessidade, ou não, de uma intervenção cirúrgica.  
Posto tudo isto, o que digo é: haja bom senso, defenda-se o conhecimento científico e acabe-se com os preconceitos, o estigma e a ignorância.  Bem sei que não é fácil, mas penso que é esse o caminho.  

Nos últimos anos, a saúde mental tem ganho maior visibilidade nos meios de comunicação. O Dr. João Carlos Melo considera que esta exposição é, maioritariamente, tratada de forma rigorosa ou simplista? 

Na minha opinião é tratada predominantemente de uma forma simplista e pouco rigorosa. Os meios de comunicação preferem passar a ideia de que, com força de vontade e querer, é fácil as pessoas superarem-se, transformarem-se nas suas melhores versões e seguirem estratégias e fazerem exercícios e levarem a cabo tarefas simples para se tornarem saudáveis.  
Não é popular falar de doenças graves. Não é popular falar de casos reais de uma forma realista e não espetacular. Não é popular falar da falta gritante de cuidados psiquiátricos nas prisões. Não é popular falar de forma clara (e não espetacular) de algumas das maiores pragas que afetam o nosso país: o bullying, a violência doméstica e os abusos sexuais.  

O Infarmed aprovou recentemente o primeiro psicadélico para depressão grave a ser utilizado em meio hospitalar. Acredita que estas substâncias poderão revolucionar a psiquiatria? 
Revolucionar, não digo, mas serão (e já estão a ser) um valioso contributo para o tratamento de depressões graves.  

O seu mais recente livro, Renascer das Cinzas, chegou às livrarias no início de Junho. O que o motivou a abordar, num livro, de forma tão aberta, três perturbações ainda pouco compreendidas e muito estigmatizadas — Transtorno de Perturbação Borderline, Síndrome de Munchausen e Mentira Patológica? 
Sobre a Perturbação Borderline já tinha escrito em Reféns das próprias emoções.  
A Mentira Patológica será, muito provavelmente em breve, considerada uma doença. É importante conhecê-la e não a confundir com a mentira levada a cabo pelos psicopatas. Creio que não há nenhum livro português sobre o tema.  
E a Perturbação Factícia (ainda mais conhecida como Síndrome de Munchausen), embora seja conhecida superficialmente pelos psiquiatras, porque já ouviram falar dela, é ainda muito mal conhecida. Estou convencido, pelo muito que estudei da doença, que sou dos únicos psiquiatras do mundo já com alguma experiência em tratar esta gravíssima doença, a de pior prognóstico de todas as doenças psiquiátricas. 
Estas são razões mais que suficientes para justificar a escrita deste livro. Mas Renascer das Cinzas não se limita a dar-lhes a conhecer. Ele fala do caso real de uma paciente vitimada por estas três doenças. E foi escrito em co-autoria com ela. 

A Síndrome de Munchausen é descrita por si como «a mais perturbadora, devastadora e intrigante das doenças [mentais]», mais difícil de tratar do que a esquizofrenia. Tendo em conta a sua experiência, o que a torna tão desafiante? 
Sabe-se muito pouco sobre esta doença. E a principal razão é a falta de colaboração dos próprios pacientes afetados por ela. Eles mentem, enganam e não admitem ter a doença. Quando percebem que estão a ser “apanhados”, desaparecem e mudam de médico, de hospital, de cidade, e, em alguns casos, até de país. 
Ainda que seja conhecida por basear-se em comportamentos que visam apenas enganar os médicos (fingindo que estão doentes e provocando doenças em si próprios, quando sabem muito bem que não estão doentes), o que leva a estes comportamentos é um sofrimento insuportável e incomunicável, ao ponto de, segundo alguns estudos, fazer com que até 70 % dos doentes acabe por se suicidar. 

No livro, Maria partilha: «inventava sintomas só para ter cuidados médicos e não me sentir tão sozinha». Como terapeuta, como se trabalha uma solidão tão enraizada que leva a este tipo de comportamento? 
A principal medida terapêutica é não abandonar o doente. E aceitar que, para o ajudar, é necessário aguentar as mentiras e os enganos.  
A questão é: como é possível confiar em alguém que nos mente e engana? E a resposta é: não abandonando o doente. Não há outra forma. Depois, é fundamental aguentar a solidão do doente e estar preparado para acolher e conter um vazio e um desamparo que são quase incompatíveis com a vida e angustiantes para o próprio terapeuta. 

Em que momentos percebeu que algo estava verdadeiramente a mudar na paciente — progredindo para aquilo que descreve como uma «extraordinária e inédita recuperação», um caso raro de superação da Síndrome de Munchausen? 
Não foi de um momento para o outro. Foi um processo. Os momentos decisivos foram quando começou a ser possível falarmos de “mentiras” e de “Munchausen”, porque de início eram palavras tabu e ela não só não admitia falar disso, como não admitia que mentia e que tinha comportamentos factícios.  
As mentiras não acabaram de um momento para o outro. Mas, desde o início, e sempre, a sua determinação em melhorar e a sua tenacidade em prosseguir a psicoterapia foram os fatores mais decisivos. Tal como a minha determinação, o meu empenho e a minha dedicação. 

No final do livro, Maria fala em «superação» e o Dr. João Carlos Melo refere que esta paciente «venceu» a doença, mas o próprio texto menciona um internamento recente, em março de 2025. Considera que é possível falar em cura antes de um período prolongado sem sintomas?
São palavras e conceitos muito delicados. Vejamos em concreto. O vazio, o desamparo, o sofrimento, a dificuldade em regular as emoções, a baixa autoestima e a excruciante angústia de abandono (próprios da Perturbação Borderline) melhoraram muito e continuam a melhorar, mas não desapareceram, como é próprio da doença.  
A Mentira Patológica e a Síndrome de Munchausen são doenças comportamentais, se assim se pode dizer. Os comportamentos que as caracterizam deixaram de existir há muitos meses. É discutível dizer que está curada. Mas não apresenta manifestações das doenças.  
Vejamos a seguinte situação. Imaginemos o caso de um indivíduo que esteve dependente do álcool e abusou do seu consumo, digamos, entre os 20 e os 40 anos. Depois deixou de beber. Hoje tem 80 anos e continua sem beber. Devemos considerar que, uma vez alcoólico, será alcoólico toda a vida, beba ou não beba? As suas fragilidades e a predisposição para beber não desapareceram, mas o consumo já não existe. Está curado ou não? 
Voltemos ao caso da Maria. Depois de muitos meses sem mentiras nem comportamentos factícios, ela foi vítima de circunstâncias muito adversas da sua vida, que lhe provocaram muito sofrimento e um episódio depressivo. 
Noutros tempos, em situações similares, a saída mais fácil seria voltar àqueles comportamentos. Mas desta vez não o fez. Como um alcoólico que renuncia à bebida ou um toxicodependente que renuncia à droga, a Maria aguentou tudo “a frio” e renunciou aos ditos comportamentos. Mostrou que tinha superado as duas doenças. Mas o preço a pagar foi uma depressão grave e uma tentativa de suicídio que requereram um internamento. 
Neste momento está bem e sem qualquer sintoma. Até quando? Ninguém pode dizer. Mas temos os dois uma crença e uma convicção muito fortes de que será para sempre. 

Na sua prática clínica, já se deparou com algum caso de Transtorno Factício Imposto a Outro, também conhecido como Síndrome de Munchausen por Procuração ou Síndrome de Munchausen by proxy? 
Não. Nunca aconteceu.  

A Mentira Patológica ainda não é reconhecida formalmente como doença. Quais implicações isto traz para o diagnóstico e o tratamento? 
Estou convencido de que quando for reconhecida formalmente como doença, ela será mais conhecida e o diagnóstico será mais fácil. Depois será necessária uma atitude mais tolerante e mais compassiva por parte dos terapeutas e de todas as pessoas que lidam com a pessoa afetada pela doença. 

Numa das passagens mais bonitas do livro, escreve que a escuta atenta e empática facilita a verbalização e proporciona ao paciente a oportunidade de ser efetivamente compreendido. Considera que esta é a base do trabalho em qualquer psicoterapia? 
Penso que essa é uma base fundamental. Mas também são requeridas outras atitudes: paciência, empenho, dedicação, empatia e compaixão. 

Carl Rogers (1902–1987) via a relação paciente–terapeuta como o elemento central e mais transformador no processo terapêutico. Na visão deste psicólogo humanista, o terapeuta não é «o especialista que cura o paciente», mas um facilitador do crescimento pessoal. Concorda?
Plenamente. Uma psicoterapia é um trabalho conjunto de duas pessoas, que cooperam, cada uma com as suas funções específicas, mas em que a responsabilidade deve ser sempre assumida pelo terapeuta.  



Como decorreu o processo de coautoria? Quais foram os maiores desafios na escrita conjunta?
 

Aquilo que viria a ser o embrião de um possível livro (antes ainda de pensarmos nisso) foram algumas mensagens e e-mails que íamos trocando. A Maria respondia a questões que eu lhe colocava e ia correspondendo aos pedidos que eu lhe fazia para colocar em palavras o que sentia. Da minha parte estudava as doenças e tomava notas para as compreender melhor.  
E quando começámos a perceber que podíamos dar corpo ao processo terapêutico através de um livro, falámos sobre isso e fomos amadurecendo a ideia. 
Houve depois uma altura em que percebemos que a própria existência de um livro poderia servir de incentivo para lutarmos ainda mais pela recuperação. E, assim, livro e psicoterapia passaram a funcionar como aliados, digamos assim, um do outro. 

Espera que o livro contribua para reduzir o estigma associado a doenças mentais particularmente graves, pouco conhecidas e compreendidas? 
Esse foi um dos objetivos. E, particularmente da parte da Maria, o seu grande objetivo foi ajudar outras pessoas que sofriam como ela, dar-lhes esperança e incentivá-las a não ter medo de pedir ajuda. 

Que tipo de comentários ou feedback tem recebido dos leitores e da comunidade clínica? 
Os comentários têm sido excelentes e muito gratificantes.  
Mas há um pormenor que lamento. Recebemos convites de programas televisivos de grande audiência para uma entrevista. Seria uma forma gratificante de darmos a conhecer o livro e o caso e de podermos ajudar muitas pessoas. Mas como a Maria, para preservar a sua privacidade e a da sua família, pediu para não aparecer e para a entrevista ser só comigo, não aceitaram. Resultado: desfizeram o convite! Este é um exemplo do que disse atrás: que não é popular falar de casos reais de uma forma realista e não espetacular. 
Há programas que preferem outras coisas. Por exemplo: casos falsos de falsas recuperações, mas que são mais espetaculares. Eu especifico melhor: as pessoas com Síndrome de Munchausen procuram apenas uma coisa: a atenção e os cuidados dos médicos e/ou de familiares e amigos; mais nada. Mas há outras que, apresentando casos parecidos, têm como objetivo ter algum tipo de ganho material: pensões, subsídios, donativos, venda de livros, divulgação da imagem nas redes sociais e parcerias com marcas e empresas. Isto corresponde a uma entidade clínica chamada “Simulação”. 
Estes casos, que por vezes divulgam falsas recuperações (porque nunca estiveram doentes), são mais apelativos; e, cá está, vendem mais e dão mais audiências. 

No seu livro Nascemos Frágeis e Recebemos Ordens para Sermos Fortes, escreve sobre o transtorno de personalidade narcisista. Quais são as principais causas e como se procede ao tratamento? 
Temos de ter em conta uma componente genética na génese das doenças mentais. Nesse sentido alguns estudos têm sugerido a importância desse fator em várias características narcísicas. Mas os fatores interpessoais têm um peso grande, que devemos valorizar.  

Todos nós precisamos de ser investidos narcisicamente. Isto significa vivermos a experiência de sermos importantes e especiais para alguém (os nossos pais ou seus substitutos e, depois, as pessoas mais significativas da nossa vida), sermos elogiados e sentirmos que somos reconhecidos e valorizados por sermos como somos. 
Estas experiências contribuem para desenvolvermos uma boa autoestima. Quando as coisas acontecem ao contrário, a autoestima será frágil e, quando sujeita a ataques ou feridas, levará ao desenvolvimento de características narcísicas. 
Há dois grandes grupos dessas características, que levam a dois modos diferentes de funcionamento narcísico.  De um lado temos aquelas pessoas que têm sentimentos de inferioridade, são discretas e conformam-se às opiniões e interesses dos outros, de modo a evitarem serem criticadas e, por conseguinte, sentirem a sua autoestima ferida. Estas, se forem humildes e quiserem muito mudar e melhorar, podem de facto melhorar. 
Do outro lado temos aqueles indivíduos, mais propriamente chamados narcísicos, que são arrogantes, vaidosos, que precisam de ser o centro das atenções e que diminuem e desvalorizam os outros e não têm empatia pelo seu sofrimento. Estes são mais difíceis de tratar porque geralmente não querem, sentem que não precisam e não têm a humildade necessária para o efeito. 

António Coimbra de Matos (1929–2021) assinou o prefácio desse livro. Pode falar um pouco sobre a influência que esta figura incontornável na história da saúde mental em Portugal exerceu na sua formação e carreira? 
Nunca trabalhei diretamente com António Coimbra de Matos, mas aprendi muito com ele, inspirei-me muito com as suas ideias, sempre o admirei e sinto-me eternamente grato pela generosidade que teve em prefaciar esse livro e apresentá-lo no seu lançamento. 

Há mais de 30 anos que trata da Perturbação Borderline. «Os borderline são os doentes de quem ninguém gosta, aqueles que muitos procuram evitar.» Esta frase foi escrita por si no livro Reféns das Próprias Emoções. Mesmo no meio psiquiátrico, os pacientes com este transtorno de personalidade continuam a ser alvo de estigma? 
Embora menos, ainda continuam a ser alvo de estigma. 

Na obra Uma Luz na Noite Escura, debruçou-se sobre o tema da solidão. Quais considera serem os principais fatores psicossociais e culturais que explicam o aumento da solidão entre jovens adultos em Portugal? 
Reconheço muitas qualidades nos portugueses. Apesar disso, considero que, de uma maneira geral, os portugueses têm uma baixa autoestima e, em alguns aspetos, são invejosos. Por outro lado, a ilusão de comunicação que as redes sociais trazem, contribui para que nos sintamos mais sós.  Todos estes fatores, e mais outros que estudos sociológicos possam mostrar, contribuem, na minha opinião, para aumentar o sentimento de solidão que nos afeta. 

Em Lugares Escondidos da Mente, escreve sobre o lado mais sombrio da mente humana, descrevendo indivíduos com transtorno de personalidade psicopata. A psicopatia é curável?
Não.  

Segundo estudos e investigações de Robert D. Hare (n. 1934), um dos mais respeitados investigadores sobre o tema, em cada 100 pessoas, pelo menos duas são psicopatas. Como podemos identificá-las e proteger-nos dos seus comportamentos? 
Além desses 2 %, há muito mais pessoas que, não preenchendo todos os critérios para que as consideremos psicopatas, têm muitas das suas características.  
O problema é que, de início, podem ser indivíduos encantadores, atenciosos e que nos dão a sensação de que somos importantes para eles. Outro problema é irmos perdoando algumas das suas imperfeições. Outro problema é fazerem-nos sentir que precisamos deles. E por aí fora, até ficarmos presos nas suas garras. E nessa altura já é tarde.  
Só há uma forma de nos protegermos deles: contacto Zero! O problema é quando as pessoas preferem acreditar neles e optam por continuarem a ser destruídas. 

E quando não é possível evitar o contato? Muitos líderes empresariais exibem traços psicopáticos e usam o seu poder para manipular, praticar mobbing e adotar outros comportamentos abusivos. Como alguém pode se resguardar quando o psicopata é… o próprio patrão? 
O problema é o poder que esses indivíduos possuem. Esse é um dos seus grandes objetivos, e para o conseguir preparam o terreno para esse fim, representando, durante anos se necessário for, o papel de funcionário exemplar, subjugando-se aos próprios chefes e aliando-se a eles para ganharem o estatuto de “colaborador de confiança”. 
Claro que eles atuam sem testemunhas, de modo a não deixar provas, o que torna tudo mais difícil. Mas, suponhamos que a presa (é assim que devemos colocar os termos) filma ou grava as ações psicopáticas do chefe. A lei protege-os porque o som ou as imagens obtidas não têm validade jurídica. Ainda assim, penso que é fundamental fazê-lo.  
Sempre que possível, seria fundamental prevenir. Como? Não dando confiança, não falando de si nem da sua vida privada. A presa deverá tentar perceber se é a única. Se for, aconselho a que comece por falar apenas a alguém da sua maior confiança. Se não for, deverão juntar-se numa ação comum. Em qualquer dos casos deverão denunciar o caso ao Sindicato e à APAV. 
Mas, o mais eficaz seria haver legislação que protegesse os trabalhadores e punisse severamente os criminosos. Infelizmente ainda estamos longe da aplicação desse direito. 

Se alguém estiver a ser alvo de assédio moral no trabalho, por parte do chefe ou de um colega, como pode salvaguardar a sua saúde mental? 
Afastando-se do local de trabalho. Como? Usufruindo de um direito que os trabalhadores conquistaram: através de uma baixa médica. Na minha opinião, mais vale prevenir do que remediar. Tenho visto pessoas completamente destruídas (profissional, pessoal e familiarmente), perante o olhar condescendente e sádico desses chefes, que depois se passeiam sem culpa nem remorsos. 

Em maio deste ano, esteve na Madeira a dinamizar a formação ‘Princípios de Saúde Mental’, destinada a docentes que lecionam na ilha. Em que consistiu esse evento?
Tratou-se de uma iniciativa do Sindicato dos Professores da Madeira, que, aliás, levou a uma iniciativa idêntica do Sindicato dos Professores dos Açores.  
O principal objetivo foi contribuir para melhorar a literacia em saúde mental dos formandos, através da clarificação de conceitos, e a partilha de ideias várias sobre a personalidade, o caráter, o temperamento, o narcisismo e a autoestima, as emoções e sua regulação, o bullying e o burn out dos professores.  


Nasceu e cresceu nos Açores. Eu, na Madeira. Existe evidência científica de que a vida insular implica desafios específicos para a saúde mental? Estou certo ao afirmar que nas regiões insulares, observa-se um risco mais elevado de suicídio e de consumo problemático de substâncias aditivas?  

O risco aumentado de suicídio, a solidão e o consumo grave e preocupante de substâncias são reconhecidamente graves nas duas regiões. Creio que desde os finais dos anos 70, com a televisão e a Universidade dos Açores, houve uma maior abertura ao exterior, que, com o turismo, se tem vindo a desenvolver.  
A impressão que tenho, pelo menos no que diz respeito a São Miguel, nos Açores, é que as pessoas tornaram-se extraordinariamente simpáticas e acolhedoras.  
E o orgulho em sermos ilhéus é qualquer coisa que contribui para melhorar a nossa autoestima.  


Na sua intervenção no TEDxLisboa 2023, abordou a ideia de ‘cura pelo amor’. Qual considera ser a importância do amor, em suas múltiplas manifestações, no contexto do tratamento e da prevenção das perturbações mentais? 
A empatia e a compaixão pelo sofrimento humano são instrumentos terapêuticos de enorme valor. Das várias formas que o amor pode tomar, o amor terapêutico, chamemos-lhe assim, pode ser transformador e salvar a vida das pessoas. 

Quais os últimos livros de ficção que leu? 
Costumo ler vários ao mesmo tempo. Agora estou a ler A nuvem no olhar, de João de Melo e Biografia não escrita de Martha Freud, de Teolinda Gersão. 

Que escritores admira particularmente? 
Saliento Carl Sagan, Kafka, Irving Yalom e Bill Bryson, para falar apenas dos primeiros nomes que me ocorreram (e misturando ficção com não ficção).  
E há outros que, embora não os conheça bem, admiro muito, como escritores talentosos, mas sobretudo pelas pessoas que intuo que são: João de Melo e Teolinda Gersão. 

Nos seus livros, a linguagem é sempre acessível e próxima do leitor. Quando nasceu a sua paixão pela escrita?
 
Não foi desde pequenino, e até acho que não tinha jeito para escrever. Apesar disso, lembro-me que, na Escola Primária, ganhei um prémio literário. Infelizmente, não me recordo de nenhum pormenor relacionado com essa situação.  
Só em 2005, aos 44 anos, escrevi o meu primeiro livro, As faces do Inconsciente. Depois estive 12 anos sem publicar. Pensei que aquele primeiro seria o único livro que iria publicar. Mas depois, inspirado por alguma ficção que recomecei a ler, tentei escrever um romance. Fiz duas tentativas, mas rapidamente percebi o quão difícil é essa tarefa. Mas creio que, apesar disso, surgiu o entusiasmo. E a partir daí voltei a publicar, desta vez O Inconsciente está no cérebro. E, depois, nunca mais parei. O “bichinho” já está entranhado. 

Como concilia a carreira de psiquiatra com a de escritor? 
O grande desafio, e a maior dificuldade que sinto, é na gestão do tempo. Por vezes penso que, caso tivesse tempo, poderia escrever bastante mais. Seja como for, os conhecimentos e a experiência que tenho adquirido como psiquiatra e psicoterapeuta, bem como tudo o que tenho aprendido com os meus pacientes, têm contribuído muito para desenvolver a minha tarefa como autor. 

Tendo já publicado sete obras, possui atualmente algum projeto ou ideia para o desenvolvimento de um novo livro? 
Tenho ideias. Há temas sobre os quais tenho estado a pesquisar e a tomar notas e que poderão dar origem a novos livros: os medos e os sonhos. Vamos ver.