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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

«Salomé», de Oscar Wilde

Ano de Publicação: 2000
N.º de Páginas: 112

Salomé, a peça mais trágica que o irlandês Oscar Wilde escreveu, — em francês, e de ‘assentada’, numa só noite (segundo testemunhos da época) —, foi publicada em 1893, e teve a sua estreia nos palcos do Théâtre de L’Oeuvre, em Paris, três anos depois, período em que Wilde esteve preso e que escreveu De Profundis.
A peça, de um acto, faz reminiscência ao Antigo Testamento (Evangelho segundo S. Marcos), e tem como personagem-título uma jovem princesa de beleza imensurável, uma verdadeira femme fatale, e intensa e pervertidamente apaixonada por Jokanaan, um profeta que tece profecias sombrias a Herodias, sua mãe, e a Herodes, seu padastro e tetrarca da Judeia.
O autor caracteriza Salomé com uma princesa caprichosa, na veste de um ego sobrelevado e não dotada de escrúpulos: as suas pulsões e fobias agem por si. A sua paixão é desmesurada e oculta uma vingança sangrenta, devido a um não-correspondido desejo de união. Como resultado uma cabeça será servida numa bandeja de prata, num terraço sob a negra luz que uma lua ofusca em sua direcção. Esta decapitação é uma recompensa por a princesa ter assentido dançar uma sensual dança para o seu padrasto. Nesta versão, composta de forma inédita alguns personagens desse episódio bíblico, o autor de O Fantasma de Canterville cria personagens que são desejadas umas pelas outras, que falam ao mesmo tempo, requerendo atenção dos seus objectos de amor, exercendo assim, Oscar Wilde, um forte fascínio sobre o leitor.
Num registo que vai e entrecruza goticismo, tragédia, loucura, promiscuidade e sensualidade, várias máscaras (eus dos personagens) vão sendo conhecidos ao mesmo tempo que Wilde aumenta a tensão dramática e a apoteose é descortinada, seca, cru e densa. Uma história plena de possíveis chaves interpretativas, tal o seu carácter simbólico. Salomé é uma obra magistral, digna do génio de Wilde, falecido em 1900.

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