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quinta-feira, 30 de março de 2017

«Arte no Sangue», de Bonnie Macbird

Data de publicação: 01/02/2017
N.º de páginas: 272

«O meu querido amigo Sherlock Holmes disse, uma vez: “A arte, no sangue, pode adotar a mais diversas formas.”» Assim tem início esta nova aventura da dupla detectivesca criada por Arthur Conan Doyle. Neste romance de estreia da argumentista Bonnie Macbird (n. 1951), a trama ambienta-se em 1888, na Londres ainda em choque com os macabros assassinatos em série de Jack, o Estripador. É nesta neblina que assola a cidade londrina que o leitor encontra Sherlock Homes, num estado anímico depressivo, a definhar no seu vício da cocaína. Quem nos narra esta trama, inevitavelmente, é o Dr. John H. Watson, o fiel companheiro de Holmes de há sete anos (conheceram-se em 1881).
Uma carta enigmática escrita por Emmeline “Chérie” La Victoire, uma cantora parisiense de sucesso, é endereçada a Sherlock. Nela, ela diz ter sido ameaçada por um homem: «Esquece o assunto ou alguém morrerá». A sedutora mademoiselle suplica ao famoso detective de 34 anos a ajudá-la a encontrar Emil, o seu filho de dez anos a quem só vê uma vez por ano, que desapareceu misteriosamente. O pai da criança, com quem esta vive, um dos nobres mais ricos de Inglaterra, não mantém contacto com a ex-amante. O único intermediário entre Emmeline e o conde é Pomery, o seu assistente de câmara, mas ele é encontrado morto dias depois da dupla chegar a Paris para se encarregarem de resolver o caso.
Após algumas averiguações, o conde é tido como principal suspeito do desaparecimento do filho, mas também, por ser um dos maiores coleccionadores de arte do mundo, do furto de uma milenar estátua do Museu do Louvre.
O que podem ter em comum esses dois desaparecimentos e o assassinato de dois outros homicídios, das duas únicas pessoas que protegiam Emil de uma desgraça iminente com efeitos psicológicos na criança para toda a vida? Graças ao seu método lógico-dedutivo, Sherlock, «a máquina fria e racional», conseguirá solucionar estes mistérios?
Arte no Sangue, traduzido de Art in the Blood (2015) por Fátima Tomás da Silva (a revisão do texto é falha em alguns casos), através de capítulo breves e suspense em crescendo, retrata fielmente lugares e pessoas reais dos finais do século XIX, revelando um trabalho de pesquisa bem conseguido. Tal como outros escritores fizeram recentemente, ao darem uma nova vida a protagonistas famosos do mundo do crime (é o caso de Sophie Hannah que fez ressurgir Poirot), Bonnie MacBird apresenta um romance bem ao estilo tradicional de Conan Doyle.
Nem tudo é o que aparenta, é o frase-chave deste romance de estreia, que infelizmente, nesta edição portuguesa não contém ilustrações da própria autora. Bonnie MacBird verá publicado a (sua) segunda aventura de Sherlock Homes, cujo título original é Unquiet Spirits: Whisky, Ghosts, Murder, em Julho deste ano. Esperemos pela sua tradução portuguesa.


Excerto
«Sempre disse que a vida com Holmes é um pouco como caminhar sobre uma ponte suspensa, preso com cordas sobre um abismo coberto de árvores. Talvez a adrenalina seja estimulante, mas as pessoas nunca sabem o que há por baixo e correm sempre o risco de cair.» (p. 102)

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