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sexta-feira, 19 de junho de 2020

Chega a Portugal um dos grandes romances de Olga Tokarczuk

Olga Tokarczuk (n. 1962) foi distinguida pela Academia Sueca com o Prémio Nobel de Literatura em 2019, pela sua «imaginação narrativa, que com uma paixão enciclopédica representa o cruzamento de fronteiras como forma de vida».
A Cavalo de Ferro, a sua editora portuguesa, lançou no ano passado dois livros desta autora polaca: Viagens e Conduz o Teu Arado sobre os Ossos dos Mortos. No final deste mês será publicado o primeiro grande sucesso, de 1996, de Olga Tokarczuk, Outrora e Outros Tempos, um romance histórico, filosófico e mitológico. A autora sempre quis escrever um livro como este: «A história de um mundo que, como todas as coisas vivas, nasce, cresce e depois morre… Cozinhas, quartos, memórias de infância, sonhos e insónia, reminiscências e amnésia fazem parte dos seus espaços existenciais e acústicos, compondo as diferentes vozes da sua história.»

Texto sinóptico: Outrora é uma aldeia polaca situada no centro do mundo e protegida por quatro arcanjos. Esta mítica aldeia, onde a relva sangra, a roupa tem memória e os animais falam por imagens, é povoada por personagens excêntricas e inesquecíveis – humanas, animais, vegetais, minerais – cujas existências obedecem aos ciclos das estações e à inexorável passagem do seu Tempo, mas também aos acontecimentos externos.
Durante três gerações, este microcosmo instável e arrebatador assiste ao eclodir de uma Grande Guerra, à Crise, a uma nova e Segunda Grande Guerra, à Ocupação Nazi, à invasão Russa, e ao choque entre a modernidade e a natureza, espelhando a dramática história da Polónia do século xx. 

Incipit
«Outrora é um lugar situado no centro do universo.
Atravessar Outrora de norte a sul com passo acelerado demora uma hora. O mesmo acontece de leste a oeste. E se alguém quiser dar a volta a Outrora com passo lento, observando detalhada e reflectidamente todas as coisas em redor, precisará de um dia inteiro. De manhã até ao entardecer.
A norte, Outrora tem como fronteira a movimentada e perigosa estrada de Taszów para Kielce, que desperta ansiedade no viajante. Esta fronteira encontra-se à guarda do Arcanjo Rafael.
A sul, a fronteira é demarcada pela vila de Jeszkotle, com a sua igreja, o lar de idosos e casas baixas construídas em redor da lamacenta Praça do Mercado. A vila é perigosa porque desperta o desejo de possuir e ser possuído. Deste lado, é o Arcanjo Gabriel quem guarda Outrora.»

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