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terça-feira, 17 de agosto de 2021

«A Segunda Vida de Olive Kitteridge», de Elizabeth Strout

Editora: Alfaguara
Data de publicação: Julho de 2021
N.º de páginas: 344

Originalmente publicado no Outono de 2019 pela Random House americana, em A Segunda Vida de Olive Kitteridge (Olive, Again), Elizabeth Strout dá continuidade à história de uma personagem memorável da literatura dos últimos anos. Esta sequela de Olive Kitteridge - romance vencedor do Pulitzer Prize 2009 e adaptado a uma série de televisão (com a actriz Frances McDormand no papel principal) - é também composta por treze narrativas e nelas a autora fala sobre o envelhecimento, a perda, a solidão e o amor.
Dois anos após a morte do marido, (re)encontramos Olive, agora com 63 anos, lidando com a perda e vivenciando a solidão. A indomável Olive, agora «velha, grande e flácida» é uma mulher mais introspectiva e mais humana. Ao iniciar um relacionamento com Jack Kennison, um ex-professor e viúvo como ela, mesmo tendo temperamentos diferentes (ele é conservador e ostentoso; ela é progressista e sincera), Olive volta a sentir-se amada, segura – mesmo que de tempos em tempos a assole a noção da sua infelicidade.
Através do conjunto de contos vinculados, que num todo se lê como um romance, encontramos personagens novas e outras já nossas conhecidas. Todas estas histórias têm Olive como personagem central ou secundária. Numa delas, a protagonista é convidada para ir a um baby shower, onde a seu lado encontra-se uma mulher gravidíssima. Olive, desde logo se entendia com o aparato de brinquedos e roupas para prematuros, que as amigas da futura mamã lhe oferecem e, que para seu tédio, vão passando de convidada para convidada, para os apreciarem. Ela não suporta parcimónias e não vê a hora de ir-se embora da festa, mas dá-se conta que a mulher ao seu pé entra em trabalho de parto. Olive se oferece para levá-la ao hospital, mas é tarde demais… Esta é uma das narrativas onde o leitor encontra Olive tão qual ela é: autêntica.
Em A Segunda Vida de Olive Kitteridge, para além da personagem-título, a escritora americana criou outras personagens também complexas, detentoras de passados sombrios que as atormentam quando sentem mais a fundo a claustrofobia e a solidão de quem vive numa pequena vila. O triunfo de Elizabeth Strout nestes dois livros é sublinhar a imperfeição consistente da vida e evidenciar «como as pessoas estão sempre, sozinhas com os seus pesadelos.»
O próximo romance da autora, Oh William!, está previsto ser publicado nos Estados Unidos em Outubro próximo.

Excerto
«Meu Deus, és uma mulher difícil, Olive. És uma mulher tão difícil, mas que se lixe, amo-te. Por isso, se não te importas, Olive, talvez pudesses ser um bocadinho menos olivesca comigo, mesmo que isso signifique seres um pouco mais olivesca com as outras pessoas. Porque eu te amo e não nos resta muito tempo.»

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