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sexta-feira, 24 de setembro de 2021

«Um Fogo Lento», de Paula Hawkins

Editora: Topseller
Data de publicação: 31-08-2021
N.º de páginas: 336

Um jovem de 23 anos, Daniel Sutherland, é encontrado morto – com esfaqueamentos múltiplos – numa embarcação no Regent’s Canal, ao norte do centro de Londres.
Miriam Lewis, uma solteirona de meia-idade que vive perto do local do crime, que é vista pelas outras pessoas como sendo uma bisbilhoteira (ela vê, ouve e sabe muito e tem algo muito escuro em seu passado), avistou a última pessoa que estivera com o falecido…
Laura Kilbride é uma jovem problemática, bem conhecida da polícia por estar sempre a se meter em sarilhos: embriaguez, furtos, conduta escandalosa. É, nas suas próprias palavras, uma «adulta vulnerável», com traumas por sarar: quando tinha 10 anos sofreu um acidente que a marcou profundamente…
Os tios da vítima, Theo e Carla Myerson, também o visitaram pouco tempo antes. Ambos sofreram uma perda terrível, uma tragédia em suas vidas, há 15 anos, a que o sobrinho presenciara…
Daniel foi criado por uma mãe alcoólica (falecida há poucos meses), que levou uma vida solitária e infeliz. Era visto como um homem «bizarro» e «perturbador», que seduzia e depois desprezava jovens raparigas, como foi o caso de Laura, a sua derradeira conquista.

«No canal, era possível encontrar todo o espetro da vida humana: pessoas boas, decentes, trabalhadoras e generosas à mistura com bêbedos, drogados, ladrões e tudo o resto.»

Três personagens femininas emocionalmente danificadas e sedentas por vingança, um assassinato sangrento e incontáveis segredos. E ninguém releva toda a verdade.
Este terceiro tríler da escritora britânica Paula Hawkins (após A Rapariga no Comboio e Escrito na Água) apresenta personagens que facilmente entram em confronto com o leitor, devido às suas más condutas, mas que, surpreendentemente, também o faz sentir empatia por elas, em algum momento das suas histórias, em que passaram por sofrimentos avassaladores. Em Um Fogo Lento, a autora interroga como a tragédia e o trauma podem moldar e afectar perenemente a índole das pessoas. Embora a primeira metade do livro esteja escrita de forma lenta, pouco ritmada, após algumas reviravoltas na trama, a narrativa ganha envolvência e balanço e ruma ferozmente até ao final, que embora satisfaça, não arrebata e pouco surpreende.

Excerto
«… ao folhear alguns dos livros mais antigos, as respetivas capas cor de laranja desintegraram-se e as páginas começaram a desfazer-se-lhe sob as pontas dos dedos. Sucumbindo já ao fogo lento, a acidificação do papel a corroer as páginas, tornando-as finas e quebradiças, destruindo-as a partir do interior. Era incrivelmente triste imaginar que todas essas palavras, todas essas histórias, estavam a desaparecer aos poucos. Esses livros teriam, infelizmente, de ser deitados fora.»

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