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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

«A Intransigente Defesa da Arte», de Oscar Wilde

Editora: Guerra & Paz
Data de publicação: Janeiro de 2022
N.º de páginas: 128

Oscar Wilde é o autor do mais recente título da coleção Livros Negros, da Guerra & Paz Editores. Publicação inédita em Portugal, A Intransigente Defesa da Arte: Transcrição de um Julgamento Sórdido, apresenta aos leitores a totalidade do que foi proferido no primeiro julgamento, de três, que deliberou a condenação do escritor, poeta e dramaturgo mais sensacionalista e provocante das últimas décadas do século XIX.
Localizemo-nos em Londres, no ano 1895.
Tudo começa com o relacionamento entre Oscar Wilde e Lord Alfred Douglas (“Bosie”), o filho de John Douglas, o Marquês de Queenberry. Ambos se conheceram quatro anos antes, e mesmo com uma diferença de idade de 16 anos, tornaram-se amigos inseparáveis, comparsas na vida boémia e… amantes.
Quando o pai de “Bosie”, conhecido por seus modos grosseiros, descobre a ligação entre os dois, ele confronta o irlandês variadíssimas vezes a respeito da natureza do relacionamento deles, ameaçando-o, tentando fazer com que o dândi desistisse de andar na companhia do filho (Em De Profundis, Oscar, em encarceramento, escreveu: «O que o teu pai queria, de facto, não era a cessação da nossa amizade, mas um escândalo público.»)
Esta perseguição e campanha pública caluniosa contra o escritor torna-se insustentável, quando o Marquês lhe endereça um cartão-de-visita insidioso contendo uma frase, que Wilde a toma como de uma afronta total. Furioso, reage, movendo uma acusação judicial por difamação contra o pai de Douglas.
Nos primeiros três dias do processo, em tribunal, entre depoimentos e acusações, aquele que é até ao dia de hoje conhecido como o grande mestre em criar frases marcadas por ironia, sarcasmo e cinismo, fez uso desse seu dom – ele era um provocador nato – e em alguns momentos deixou o advogado de defesa do réu sem palavras; mesmo quando este lia os excertos mais imorais do controverso O Retrato de Dorian Gray, com o intuito de denegrir a moralidade do esteta.
Mas Oscar Wilde nunca disse a verdade que queriam ouvir...
Na introdução desta obra, indispensável na biblioteca de todos os fãs do autor de várias peças sublimes como Salomé, o editor Manuel S. Fonseca sublinha a pertinência e a actualidade da obra: «este é um manifesto de intransigente defesa da independência da arte, defesa hoje tão válida e necessária como ontem, face aos novos vitorianos que infestam, com a boçalidade e brutalidade da sua pureza, parte dos nossos dias.»
Lembrar que ter relações homossexuais ainda foi considerado um crime em Inglaterra até aos 72 anos que se seguiram a este “julgamento sórdido”.

Excertos
«Quando escrevo uma peça ou um livro, só me preocupo com a literatura, ou seja, com a arte. Não procuro fazer bem ou mal, mas sim uma coisa que tenha qualidade, alguma beleza.»

«Tudo é bom desde que estimule o raciocínio, seja em que idade for.»

«… há pessoas neste mundo que não conseguem compreender a devoção intensa, o afecto e a admiração que um artista pode sentir por uma bela e magnífica personalidade. São estas realidades que nos condicionam a vida.»

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