Editora: Dom Quixote
Data de publicação: 31/01/2023 N.º de páginas: 104 |
Um portentoso e subtil retrato sobre o relacionamento entre duas pessoas que, ao longo dos anos, esperam que o destino se incumba de lhes aproximar, deixando, assim, a vida lhes passar ao lado, vivendo incólumes, sem vislumbres de significância.
Após alguns anos esgotada na rede livreira portuguesa, A Fera na Selva encontra-se de novo disponível, contando com uma novíssima e exímia tradução assinada por Ana Maria Pereirinha – referir que esta obra curta de Henry James, publicada pela primeira vez há 120 anos, é considerada como de difícil tradução, devido às nuances do texto original, cujo entendimento exige perspicácia e da trama, imagética e analogética.
A história tem início quando John Marcher reencontra casualmente May Bartram, uma «senhora de uma beleza distinta» que conheceu numa viagem a Itália, há dez anos. Embora este homem de 35 anos não se lembre bem de todos os acontecimentos dessa amizade passageira, ele sabe que confessou a ela, em Nápoles, o seu segredo, que o acompanha desde tenra idade: a sensação de que ele «estava guardado para qualquer coisa rara e estranha, possivelmente prodigiosa e terrível», que lhe haveria de acontecer mais cedo ou mais tarde. John sentia que era uma certeza que lhe perseguia, com que teria que viver todos os dias, mesmo que para isso tivesse que viver de forma egoísta e leviana – embora, no seu âmago, ele pensasse ser uma pessoa altruísta.
Após este reencontro, os dois reatam a amizade, tornam-se confidentes até à velhice, sempre de sobreaviso, esperando «aquilo que lhe ia acontecer».
Parágrafo a parágrafo, com apenas uma dupla de personagens (talvez o Tempo seja aqui o terceiro personagem), Henry James cria uma narrativa de grande tensão psicológica, cuja assimilação tem que ser lenta. Ao abordar temas como a solidão, o destino, o (des)amor e a morte, o autor está tocando em temas universais, mas sabe-o fazer com requinte e subtileza.
No final de lida esta novela do escritor americano notabilizado por obras como Retrato de Uma Senhora, fica-se com a sensação de termos lido um grande livro, de grande complexidade, que ficará marcado em nós durante muito tempo.
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