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quarta-feira, 5 de junho de 2024

«O Eterno Marido», de Fiódor Dostoiévski

Editora: Presença
Data de publicação: Agosto de 2021
N.º de páginas: 168

O ponto de partida da presente narrativa que Dostoiévski viu publicada em 1871, ambientada em São Petersburgo, é o reencontro entre dois amigos, volvidos quase dez anos. Em O Eterno Marido, são exploradas a fundo as consequências trágicas que uma traição pode deixar perpetuadas.
Veltchanínov tem perto de quarenta anos, e até há pouco tempo era um homem alegre, de bem com a vida. Assim que a hipocondria começa a fazer parte do seu quotidiano, ele torna-se uma pessoa ociosa, triste e misantrópica. Embora não sinta orgulho na sua solidão, depende dela, em boa percentagem porque esta concede o tempo suficiente para ele lutar com os demónios que lhe atormentam e pesam a consciência. É durante as intermináveis noites brancas que Veltchanínov tem sonhos febris e deambula entre dois mundos; um deles submerso há nove anos.
Com a chegada de Pávlovitch, um antigo amigo e marido de uma sua ex-amante, uma mulher «passional, cruel e sensual», as emoções que despertam neste homem entram definitivamente em choque. Este ex-amigo, um homem alcoólatra e instável psicologicamente, acaba de ficar viúvo e com uma filha para continuar a criar; uma filha com muita debilidade física, que sabe que não é sua. Para o protagonista, Lisa, a sua filha, será agora a sua finalidade de vida, o que faltava para a sua tristeza cessar, para dar paz à sua consciência pesada. Mas algo trágico acontece. E a desgraça satura-lhe de novo a alma de dor.
Este é um romance curto mas povoado por personagens psicologicamente densas envoltas numa trama onde os diálogos são bem construídos e inteligentes. A história começa in medias res, uma técnica literária que o autor de Crime e Castigo é mestre em tecer, criando pouco a pouco suspense no leitor, assim que os detalhes sobre o passado adúltero do protagonista são revelados.
Ciúme, humilhação, raiva, vingança, arrependimento, auto-punição, abnegação... de tudo isto fala este que é tido como um dos trabalhos mais refinados do autor russo, que a tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra soube tão bem captar.

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