Páginas

sexta-feira, 16 de maio de 2025

«Memórias do Cárcere» é uma das obras de Camilo Castelo Branco editadas pela INCM

Além de Amor de Perdição, O Morgado de Fafe, Vinte Horas de Liteira, O Regicida, A Filha do Regicida, Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado, Novelas do Minho, O Demónio do Ouro e Coração, Cabeça e Estômago, de Camilo Castelo Branco, que este ano assinala-se o bicentenário do seu nascimento, a Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM) publicou também as obras Memórias do Cárcere e A Sereia.

Em Memórias do Cárcere, Camilo traça um retrato duro mas emocionante das inauditas condições de vida na histórica Cadeia da Relação do Porto bem como da pesada justiça oitocentista, tendo como fio condutor a experiência vivida na primeira pessoa e outros testemunhos de vida, cuja singularidade Camilo quis deixar para memória futura.

Com edição de Ivo Castro e Raquel Oliveira este volume da «Edição Crítica de Camilo Castelo Branco» oferece um rigoroso mas discreto aparato crítico, uma completa nota editorial e uma reveladora obra camiliana para (re)descobrir.

Excerto
«Não estranhei o ar glaciar e pestilento, nem as paredes pegajosas de humidade, nem as abóbadas profundas e esfumeadas dos corredores, que me conduziram ao meu quarto.
Em 1846 estive eu preso ali, desde nove até dezasseis de outubro. Foram sete dias de convivência com sujeitos conversáveis,, que entraram comigo, ou poucos dias antes, por cúmplices na contrarrevolução, baldada pela captura do senhor duque da Terceira.»


«Um falsário que conta histórias, mais a biografia do famigerado Zé do Telhado, além de parricidas e infanticidas e ainda o homem que matou o burro dum abade: uma coleção de desgraçados, incluindo o próprio romancista, como sempre preso na maior vocação, falar dos outros.» Abel Barros Baptista


Neste eterno clássico da literatura portuguesa, A Sereia, Camilo elege duas realidades antagónicas: o amor e o conflito, que sincronamente convivem através da narrativa intensa, apaixonada e apaixonante, tão característica do autor.

A presente edição, da responsabilidade de Ângela Correia e Patrícia Franco, acrescenta à genialidade do autor o rigor crítico e notas que contribuem para um olhar científico da obra e do seu autor, e que se colocam a par da íntima experiência da leitura.

Excerto
«Naquele tempo,os dias de maio, no Porto, eram temperados, alegres, perfumados, encantadores. A primavera, há cem anos, aparecia quando o calendário a dava. Ninguém saía de sua casa às cinco horas duma tarde cálida de maio com um casaco de reserva no braço para resistir ao frio das sete horas; nem o peralta portuense levava escondido na copa do chapéu o cache-nez com que, ao anoitecer, havia de resguardar as orelhas da nortada cortante.»


«Uma noite na ópera, a primeira que houve no Porto, e suas consequências. Mais que a sentimentalidade amorosa, a exposição do poder paterno: austero e intransigente, cruel e violento, ao cabo encurralado e destroçado. Um livro implacável.» Abel Barros Baptista



Outra obra de Camilo relançada recentemente: Maria da Fonte.

Sem comentários:

Enviar um comentário