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Editora: Clube do Autor
Data de publicação 3.ª edição: 02-07-2025 N.º de páginas: 440 |
Publicado em 1937, África Minha (Out of Africa) é uma referência da literatura autobiográfica do século XX. Nele, Karen Blixen narra a sua vida no Quénia, onde, a partir de 1914, administrou uma plantação de café. Mais do que um relato, a obra é uma meditação poética sobre a relação entre o ser humano, a terra e a memória, elevando a experiência pessoal a uma narrativa universal. A África surge como protagonista viva, um lugar onde o tempo parece suspenso, mas onde cada acontecimento ressoa com intensidade.
Sob pseudónimo, Blixen descreve a vida quotidiana nas colinas de Ngong, os desafios da agricultura e as relações com os povos locais, num olhar respeitoso e afetuoso. Estruturada em episódios, ensaios e retratos, a obra reflete o tom da despedida, escrita após o seu regresso forçado à Dinamarca em 1931. A prosa lírica transforma paisagens e personagens em presenças vivas, revelando a natureza humana com rara sensibilidade.
Críticos como Ernest Hemingway reconheceram em Blixen uma escritora de rara grandeza, capaz de captar com delicadeza e intensidade a essência da vida e da natureza. Embora inicialmente criticada na Dinamarca por elitismo, o livro consolidou-se como clássico e inspirou a célebre adaptação cinematográfica de 1985, com Meryl Streep e Robert Redford.
África Minha é, assim, um retrato de paradoxos — liberdade e privilégio, amor e distância cultural, a África real e a sonhada — que se prolonga em Sombras no Capim (Shadows on the Grass), escrito 25 anos depois. Neste epílogo emotivo, Blixen revisita episódios e personagens, reafirmando o amor profundo pela terra e pelas culturas que a marcaram para todo o sempre.
Salientar a rigorosa tradução desta edição portuguesa, assinada pela dupla Ana Falcão Bastos e Cláudia Brito.
Excertos
«Quando se apanha o ritmo de África, descobre-se que este é sempre o mesmo em toda a música deste continente.» (p. 25)
«Se eu conheço uma canção de África-pensava eu, da girafa e da lua nova africana deitada de costas, das sementeiras nos campos e dos rostos suados dos trabalhadores nos cafezais, África conhecerá uma canção a meu respeito? O ar sobre a planície vibrará com qualquer cor que eu tivesse vestido, as crianças inventarão um jogo em que surja o meu nome, a lua cheia desenhará uma sombra no cascalho do caminho que se pareça comigo, ou as águias de Ngongo procurar-me-ão?» (pp. 76-77)
«(...) aprendi a estranha lição de que é possível acontecerem coisas de que nós não conseguimos imaginar (...). As circunstâncias podem ser determinadas por uma força motriz que produz acontecimentos sem a intervenção da imaginação ou do entendimentos humanos. (...) As coisas acontecem se sentimos que estão a acontecer, mas, à parte isso, não temos nenhuma relação com elas nem uma chave para descobrir qual a sua causa ou significado. (...) E quem passou por isso pode dizer que já teve a experiência da morte-uma passagem fora do âmbito da imaginação, mas dentro do âmbito da experiência.» (pp. 355-356)
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