segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret - O Livro e o Filme

O LIVRO
Editora: Gailivro/ASA
Ano de Publicação: 2008
Nº de Páginas: 544
A Invenção de Hugo Cabret  tem sido apelidado de livro «inovador», desde a sua publicação. Após a sua leitura, temos a noção indubitável de que esse título é ínfero, para descrever tamanha grandeza e talento, que num livro com 544 páginas, pode estar contido. A história passa-se em 1931, em Paris, tendo como protagonista Hugo, um rapazinho descendente de uma família de relojoeiros, órfão, ladrão de croissants e de brinquedos. É também o responsável (incógnito) pela manutenção dos relógios da estação ferroviária da cidade.  
Hugo passa os seus dias apenas com uma esperança, a de conseguir consertar o autómato (robbot) que o seu pai deixou-lhe antes de morrer. A sua fascinação pelo aparelho mecânico em forma de pessoa , que pode escrever mensagens, e sua destreza para as invenções são as suas únicas forças-motrizes que o mantém alegre, pois o mundo para ele, é um lugar muito perigoso. Hugo conhece Isabelle, uma excêntrica rapariga amante de livros, que o ajuda a desvendar mistérios, alguns através de livros («tudo o que queiras saber, encontrarás nos livros», um dia alguém disse.) da livraria e da biblioteca locais. Esta sua obsessão em ver o autómato em funcionamento, o leva a encontrar Georges Méliès, o mago e pioneiro do cinema fantástico ou de ficção. E é aqui que a própria ficção passa o testemunho para a realidade, pois Georges Méliès existiu mesmo.
A história é emocionante e comovente transmitindo e apelando a que tenhamos sempre esperança, e arrisquemos a confiar nos sonhos, pois a magia só acontece, porque esta inspira-se na realidade à nossa volta.
Falando no objecto livro em si, só podemos nos debruçar nos aspectos positivos – até porque os negativos são inexistentes. A maior revelação deste livro é a sua imagem/ ilustração. A concepção e forma pioneira de conjugar e contar uma história, recorrendo a palavras e a imagens, alternadamente, é sublime. As transições de imagens para texto e vice-versa são perfeitas. 
Os desenhos realmente ajudam a contar a história, não apenas na medida em que ilustram o que está acontecendo (como nos livros infantis e bandas desenhadas), como também servem para progredir a narrativa sem usar palavras/ frases. As 294 páginas de desenhos feitos a lápis de grafite – pelo próprio autor – são surpreendentemente agradáveis aos nossos olhos. Mas não é somente isso. A perfeição técnica do grafite, é evidente. Para os leigos em matéria de desenho, pode parecer que os desenhos que vêm no livro são fáceis e rápidos de se fazer, mas não, não é. As ilustrações de Brian Selznick levaram horas e horas, dias e dias de trabalho para que o resultado fosse o que é. Uma ideia muito interessante e engenhosa para um livro, e A Invenção de Hugo Cabret é uma experiência maravilhosa por esse mérito. 
Uma nota positiva para a edição da Gailivro e também agora da ASA, pois a forma como o livro está concebido, é muito criativa e cativante: as páginas com bordas a preto; as páginas com texto que são céleres de se ler; a capa dura e sobre-capas; a gramagem das páginas serem mais espessas; todos estes itens sugerem algo incomum e inovador. De resto, a escrita é de fácil assentimento, concisa, próprio para os jovens leitores. É um bom livro para oferecer e cativar os mais jovens para a leitura e para o mundo do cinema, além de estimular a imaginação. 
Bibliófilos, cinéfilos, ilustradores… leiam-no - o quanto antes!
Todos os livros são únicos, alguns menos que outros, mas na essência o que os torna especiais, é o efeito que eles provocam, num dado momento.
 
O FILME
Trailer
Depois de ter lido o livro, só poderia querer ver o filme. Como o enredo é praticamente igual ao descrito no livro, deixo a história de parte e começo a falar do elenco mais jovem. A interpretar Hugo, temos o jovem actor Asa Butterfield, que oferece um desempenho magnífico. Quem viu o filme O Rapaz do Pijama às Riscas irá reconhecê-lo, e não tenho dúvida que será um actor promissor. A encantadora e bibliófila Isabelle é interpretada por Chloë Grace Moretz, que também tem um desempenho respeitável.
Sacha Baron Cohen (o tão conhecido comediante de Borat ou Ali G) interpreta o inspector da estação de comboios. As cenas onde ele intervém, nem são cómicas, nem dão vinco à acção no filme, parecendo um trapalhão. A personagem da florista que está apaixonada por este último, também não faz nada no filme. Estes dois são um par que devia ter sido melhor trabalhado ou escolhido. Jude Law poderia muito bem ter trocado de papel com Sacha Baron Cohen. Enfim…
O actor que mais realce e chamamento dá ao filme é Ben Kingsley. Ele é simplesmente fantástico ao interpretar Georges Méliès, o (factual) realizador e actor da era do cinema inicial - que realizou o famoso filme Le Voyage dans la Lune (Viagem à Lua, 1902), cuja imagem da lua com um foguetão é um “ex-libris" na história do cinema - a quem o filme, de certa maneira presta tributo, a ele e ao cinema em geral. A sua vida é contada e recordada (com imagens reais e projecção dos seus filmes e encenações) em algumas cenas do filme e leva-nos a querer conhecer mais sobre os primórdios do cinema.
Só falta realçar uma pessoa. Martin Scorsese, claro, por ter tido «olho» e «talento» para realizar um dos melhores filmes de 2011.

11 comentários:

Unknown disse...

Miguel,
achei a sinopse maravilhosa e este livro já faz parte da lista de compras... ;)

Moura Aveirense disse...

Obrigada pelo comentário. Quando vi o trailer do filme, não me "puxou" e pensava que não iria vê-lo. Mas depois de já ter lido comentários tão elogiosos, tenho mesmo de ir ver o filme!

Teresa disse...

Também achei o livro maravilhoso.
Parabéns pelo excelente comentário/opinião.

Teté disse...

Bom, já não vou a tempo de ler o livro, uma vez que tenho programada a ida ao cinema já este fim de semana. Concordo que será difícil que "destrone" "O Artista" como o nomeado dileto aos Oscar, mas nunca se sabe... ;)

Depois darei a minha opinião sobre o filme, lá no meu canto! :D

Nuno Chaves disse...

Olá Miguel, na altura em que o livro saiu não lhe prestei muita atenção, mas reparei que (pelo menos) a edição portuguesa estava muito bem conseguida tal como referiste as capas a espessura do papel etc... e até achei barato para o qualidade do livro.
Acabei por nunca o comprar ou ler. Agora com a estreia deste filme que estou muito curioso em ver, surgiu a vontade de ler o livrito e esta tua opinião veio aumentar ainda mais essa vontade.
Obrigado por este artigo.
1 Abraço. Boas Leituras

susemad disse...

Só vou sonseguir ver o filme na próxima semana, ou seja, depois da cerimónia dos óscares. Por isso dos que vi estou apostar em "O Artista", muito embora também não me importasse que ganhasse "A Árvore da Vida" ou até mesmo "Meia-Noite em Paris". Já "Os Descendentes" e "As Serviçais", apesar de ter gostado não me encheram as medidas para óscar.

Quanto a esta obra gostava imenso de lê-lo. Já tive a oportunidade de o esfolhar e realmente é um livro muito bonito visualmente. E pela tua descrição a história parece-me ma-ra-vi-lh-osa. Nada como histórias que nos permitem sonhar. :)

pinkperry disse...

Quero muito ler o livro. Fique sabendo primeiro do fiilme, mas quando soube que é baseado em livro meu interesse aumentou! Legal a sinopse/resenha, sabia por alto do que se trata a história, agora estou mais situada.

Maria disse...

Olá,

uma excelente crítica, tanto ao livro como ao filme!
Concordo, em especial com a parte das ilustrações. Há muitas pessoas que não dão o devido relevo ao papel da ilustração nos livros ou então remetem-nas só para livros infantis ou juvenis.
Uma vez que penso que este livro não é só juvenil (apesar de, como disseste, é um ótimo começo para jovens que queiram entrar pelos caminhos da leitura), o facto de ter ilustrações é ainda mais maravilhoso! Um livro para um público abrangente com ilustrações. E é como dizes, os desenhos não são simples, apesar de parecerem sê-lo. São muito trabalhosos e estão extremamente bem feitos! E contam a história, o que é outro facto curioso e que ainda não tinha visto em nenhum livro (sem ser BD ou puramente gráfico).

É um dos meus favoritos, tanto a nível de literatura como de cinema!

Jose disse...

Quanto ao livro não posso falar porque não fez parte das minhas leituras, mas ontem vi o filme e devo dizer que ficou bastante aquém das minhas expectativas...
Se por um lado o 3D teve aqui uma utilização brilhante, na minha opinião este filme não devia ter sido nomeado ao Oscar principal. Fiquei com a sensação de que só ali está por causa do nome do realizador...

Unknown disse...

Li o livro bem antes do filme ser lançado e quando descobri que iriam fazer o filme fiquei um pouco assustada. Temi que fosse ficar horrível, mas ficou maravilhoso, a adaptação ficou perfeitaaaaaa *-* e até ganhou alguns oscars, here? :)

Anemona disse...

Vi o filme há pouco tempo e gostei bastante. Quando tiver oportunidade leio o livro.