[You can read this interview in english here] |
“Escrever envolve estar comprometido a sério, exige dedicação séria ao seu ofício, além de disponibilidade mental e um pouco de investimento emocional”
Não é natural o autor comum deixar o seu contacto electrónico nos livros e apelar aos leitores para que o contactem - pois dizer ter todo o prazer em ouvi-los.
O iraniano Mahbod Seraji é um desses escritores e como confessa no posfácio no seu livro de estreia Terraços de Teerão (Editorial Presença, 2011), já leu centenas de livros e quase sempre desejou poder trocar as suas ideias e sentimentos directamente com os autores. Não é estranha esta receptividade e interacção, portanto.
Ao escrever Terraços de Teerão o autor quis dar a conhecer o outro lado do Irão aos leitores e desmistificar os esterotipos culturais e políticos de que este país do Médio Oriente (antiga Pérsia) ainda é “vitima”. Os livros também podem ser escritos para mudar mentalidades, e este Terraços de Teerão é um bom exemplo para ser posto em prática.
Levou três anos a escrever o seu primeiro livro - mas desde os seus 10 anos que o ambicionava – e tem já outra obra pronta a ser publicada, como conta-nos.
Mahbod Seraji é engenheiro civil de formação e actualmente é consultor de gestão em diversas empresas chinesas, indianas e américo-latinas, sendo frequentemente convidado para ensinar programas de desenvolvimento de executivos em todo o mundo. Vive em San Francisco, California, EUA.
Texto:
Miguel Pestana
Foto: Mahbod Seraji
......................................................................................................................................................................
Editou o seu primeiro livro
em 2009, com 53 anos, mas já aos 10 que decidiu que viria a ser escritor.
Porquê esperou tanto tempo?
Eu sempre quis escrever, mas as circunstâncias da minha
vida não permitiram isso. Eu estive muito ocupado com o trabalho, lidando com
questões familiares, educando o meu filho… Escrever envolve estar comprometido a
sério, exige dedicação séria ao seu ofício, além de disponibilidade mental e um
pouco de investimento emocional. Eu não acho que eu estava pronto ao longo
desses anos.
Qual foi a parte mais difícil ao escrever Terraços de Teerão, e por quê?
O final. Eu tinha vários finais diferentes em mente, mas
alguns deles eram seriamente deprimentes e isentos de esperança. Os meus amigos
que leram os primeiros rascunhos da história a sério me desencorajaram a
escrever um fim triste e desgraçoso, especialmente tendo em conta a política do
Irão no ambiente político actual. O final corrente do romance foi escolhido com
o intuito de simbolizar a esperança e um futuro mais brilhante - é por isso que
o livro termina com uma referência às estrelas.
Depois
que eu li o livro eu
pesquisei a sua biografia. Eu
quase posso afirmar que Terraços de Teerão é semi-autobiográfico.
Eu estou errado?
O livro é semi-autobiográfico, mas também é muito
ficcional. Por exemplo, eu mudei datas para adaptar a narrativa, o calendário
dos eventos, os locais, etc. É importante para os leitores, saberem que esta
não é uma autobiografia. O romance é, tanto quanto eu estou interessado em que
seja interpretado, uma obra de ficção que tomou emprestado elementos da minha
vida real, a fim de a história ser mais credível. Todas as ficções são
"mentiras graciosas", gostaríamos muito de acreditar nisso.
Este
livro tem tido um sucesso extremo como também tem recebido alguns elogios do San Francisco Chronicle, Publishers
Weekly e outros jornais e revistas. Estava à espera
desta boa aceitação por parte da crítica?
Eu não esperava, mas estou entusiasmado com isso. Eu
nunca pensei que o livro fosse traduzido em tantas línguas, ou que eu viesse a receber
e-mails de leitores do livro de todo
o mundo. Estou agradavelmente surpreendido. Espero que o meu próximo livro
receba o mesmo tipo de atenção positiva.
Quando
você terminou de escrever este romance, você preponderou que o livro pudesse
ser traduzido – no momento desta entrevista – em onze línguas?
Não, como eu disse acima, eu não fazia a ideia. Na
verdade, eu acho que o livro já está traduzido em 15 línguas. Li algures que
97% dos romances vendem menos de 5.000 cópias. Então, eu fiquei chocado e
emocionado quando o meu livro vendeu assim tanto em muito pouco tempo. Escrever
o seu romance de estreia é como você tentar pular uma vala larga. Você dá
balanço tanto quanto você pode, você corre o mais rápido que puder e então você
dá o salto e reza para chegar ao outro lado. É excitante, mas também estressante.
O
livro Persepolis, uma novela gráfica
de Marjane Satrapi, retrata a sua
infância até os primeiros
anos adultos no
Irão durante e após
a revolução islâmica. É importante
para o povo iraniano, dar
o seu testemunho de como
viveram aquele momento problemático?
Eu adoro Persépolis.
Eu sou um grande fã dela. Acho que toda a gente tem um motivo diferente para escrever.
Eu não posso dizer o que a motiva a escrever. O meu foi para lembrar as pessoas
como os acontecimentos se desenrolaram sob a soberania do Xá. Fomos de mal a pior com a nossa revolução, e eu queria lembrar
as pessoas disso, especialmente àqueles que glorificam o reinado do Xá no Irão.
Quais
são as suas referências literárias
Não sei o que isso significa!!!
Já
leu algum livro de algum escritor português?
Eu só li dois livros, ambos de José Saramago: Ensaio sobre a Cegueira e Ensaio sobre a Lucidez. Eu achei que
ambos eram livros incríveis. Muito poderosos. Eu sou um grande fã da escrita
dele.
Depois
desta surpreendente estreia literária, os leitores podem esperar brevemente
outro romance?
Sim, o meu segundo livro está acabado. Espero que ele
seja publicado no próximo ano. Por agora estamos intitulando-o O Jardim, A Rosa e o Rouxinol.■
Nota: A entrevista foi realizada via e-mail.
Sem comentários:
Enviar um comentário