terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

"A Água e a Sede" é o título da nova colecção de poesia da Editora Modocromia

A Litania da Cinza, de José Alberto Postiga, é o 1.º volume da nova colecção da Editora Modocromia, intitulada "A Água e a Sede". A obra será lançada amanhã na Póvoa do Varzim, de onde o autor é natural, durante as Correntes d'Escritas.

Havíamos de pressentir o amor a meter-se em nós. Não o amor passivo, sentido por um filho ou um irmão. Não o amor pelo homem que nos fez ou pela mulher que nos pariu ou criou. Esse é benigno, nasce e habita em nós em contrato feito com o racional. Havíamos de antever tudo o que é inerente ao fogo de uma paixão. Para além do inexplicável arrepio, da febre alta e repentina, da fome descontrolada, do mundo que se encolhe perfeito à nossa volta… havíamos de intuir também o sofrimento a chegar. Mas não. O amor irrompe e atordoa-nos a percepção, venda-nos os olhos, ata-nos o discernimento, acende o fogo nas artérias e acampa no coração. Deixa solto o sentir e vê-o subir ao cume mais alto de nós, e depois espreme-nos de tudo o que temos para esboçar um sorriso. O amor escancara-nos a boca, fraseia-nos o coração, arranha-nos a garganta em verbos de se dizer alto e espera, e faz eco de rouxinóis poisados na vulnerabilidade dos corpos. Mas quando não é recíproco, transforma-se num vómito que dói. Num castigo que se cumpre sozinho. Num aperto sem abraço. Num silêncio que alastra no singular.


Nomes da Noite é o segundo título desta colecção de poesia e é da autoria de Lília Tavares.

Sob o signo da noite, Lília Tavares, em cada poema deste 5.º livro de poesia não reproduz o dizível mas permite o indizível.
A autora desabriga-se no avesso da pele das suas memórias que numa eternidade gasta e passada a quiseram ocultar.
O eu-poético, embora contido, traz à luz a sua ambivalência que se exprime mediante recursos simbólicos. A incompletude habita as suas raízes: vivências, memórias, viagens, amores.
Ainda são nocturnas estas viagens, revela. Menina e depois mulher, a autora decompõe-se em matéria subjectiva, como um todo desconhecido. A sua poesia serve-se de alguma economia das palavras para desconstruir uma teia de silêncios, entrelaçada em fios de desejo, de amores e de veredas.
Num novelo cingido pelo prefácio de Carlos Campos, desfiam-se 70 poemas onde se entremeiam 7 fotografias repletas de significado de Paulo Eduardo Campos, também ele poeta.
À sombra de uma dessas imagens, pode ler-se:
«Acordo nas ervas, anoiteço barco,
como árvore e terra despertaria amanhã.»


Em breve serão apresentados também A Palavra na Arte, de Aurora Gaia, e Vermelho, de Edgardo Xavier.

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