A correria dos tempos modernosNa sabedoria oriental insiste-se muito na necessidade de aprender a estarmos mais atentos a nós mesmos, para desse modo podermos ser mais cônscios e arbitrários do nosso ser e acções, e dotados de uma visão realista das utopias que camuflam o mundo. A única capacidade que ao se ser espiritual é concedida, é a capacidade para transformar não o mundo nem os outros, mas a si próprio. O frenesim do quotidiano, as exigências profissionais, a doença, os desafios a que nos propomos, os impostos que nunca estão em dia, a instabilidade no país e no mundo que os ‘mass media’ tendem em sublinhar, os medos que nos aprisionam, a incerteza sobre o futuro próspero, e todo um sem número de tópicos podem afectar-nos o equilíbrio emocional. Ao ficarmos excessivamente focados no que acontece negativamente ao nosso redor, tendemos a perder o contacto com o nosso eu interior, e assim, gradualmente, desligamo-nos de nós mesmos. Inconscientemente, as nossas emoções tomam um caminho quase automático, qual efeito espelho. Poderemos ver bem expresso num dos filmes com mais nomeações para a edição deste ano dos Óscares, ‘O Lobo de Wall Street’, um dos mais impressionantes testemunhos cinematográficos do ritmo vertiginoso a que chegou a vida na sociedade contemporânea (um filme que recomendo). Por outro lado há pessoas que nãoquerempodem resolver os seus próprios conflitos e, todavia, querem resolver os problemas dos outros. Ao adiarmos a resolução primeiro dos nossos problemas, e preocupar-nos com os dos outros, formamos, inconscientemente, um escudoacutilanteautoprotector. Só quando o ser humano aprender a encarar as vicissitudes, os revezes da vida, como desafios e oportunidades que lhe ajudá-lo-ão a crescer, ele poderá sentir-se grato por essas tempestades ter enfrentado. Não vale a pena praticar ioga, meditação, ou fazer trabalho de voluntariado numa qualquer instituição se não respeita nem a si nem o outro, se é verbalmente violento e desagradável, se utiliza a sua autoridade para derrubar os seus súbditos, se fala mais do que escuta, ou se critica e se se sente ofendido com as admoestações que os outros lhe dirigem. “Eles insultam-me, mas eu não recebo o insulto” — Buda. Para experimentar a paz interior é fundamental não congestionar a sua vida com pensamentos triviais e que em nada lhe engrandecem o seu ser. Estes valores não se aprendem nas universidades: a bondade, o altruísmo, a compaixão. São conceitos que não se aprendem fora, mas dentro de cada um, é um percurso que só a cada um cabe trilhar.
(Texto publicado no Diário de Notícias da Madeira, em 15/02/2014)
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